São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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CRISE NO GOVERNO/REPERCUSSÃO

Nota da Febraban lamenta saída de Palocci e pede manutenção da política econômica; diretor-gerente do FMI elogia gestão do ex-ministro

Banqueiros dizem esperar mais do mesmo

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar das incertezas momentâneas que a saída do ministro Antonio Palocci pode trazer, são poucos os analistas e banqueiros que esperam mudanças nos rumos da política econômica implementada desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Márcio Cypriano, presidente da Febraban (Federação dos Bancos do Brasil) e do Bradesco, lamentou em nota a saída do ministro e defendeu a "continuidade" da responsabilidade fiscal, da liberdade cambial e da política de metas de inflação. "Palocci foi fundamental para conduzir a economia com segurança para o estágio atual", diz a nota da Febraban.
"Agora, com a indicação de Guido Mantega como seu substituto, esperamos que a linha seja de continuidade da responsabilidade fiscal, liberdade cambial e política de metas de inflação", conclui o comunicado.
Na prática, isso significa a manutenção da meta de superávit primário em 4,25% do PIB, o gradualismo na redução dos juros e a ausência de intervenção do Banco Central para desvalorizar o real em relação ao dólar.
A manutenção da equipe dirigida por Henrique Meirelles no Banco Central é outro fator que reforça a expectativa de continuidade da política econômica, avalia Eduardo Giannetti da Fonseca, economista do Ibmec São Paulo. "O Banco Central está com absoluta autonomia. Se houver tentativa de interferência na política monetária, ela não será aceita pela atual equipe técnica do Banco Central", diz o economista.
Para Giannetti, Mantega será um "ministro-tampão", para ocupar o cargo nos meses que restam de mandato de Lula.
A eleição presidencial é um dos elementos que levam o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga, a descartar mudanças relevantes na política econômica. "Qualquer alteração pode ter impactos financeiros no curto prazo", ponderou.
O outro fator é a "racionalidade" da política que vem sendo implementada desde o início do governo. "Pode haver mudança de estilo, mas não esperamos que haja alteração significativa na política econômica", acrescentou.
O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo de Rato, divulgou nota na qual elogia a gestão de Palocci. Em sua opinião, as políticas adotadas na gestão do ex-ministro foram cruciais para a obtenção de um "desejável grau de estabilidade macroeconômica".
Segundo Rato, essa estabilidade foi fundamental para a "encorajadora performance de crescimento do Brasil, que se refletiu na indicação de que há progressos na redução da pobreza". O Brasil cresceu 2,3% em 2005, bem abaixo dos 4,9% do ano anterior e do que o próprio governo esperava.
A agência americana de risco Standard & Poor's afirmou ontem em nota que a substituição do ministro Palocci não afeta as perspectivas de atribuição de "rating" (nota de avaliação de crédito) da economia brasileira.
"As políticas do ministro Palocci incorporavam a prudência, mas, na nossa visão, elas eram políticas de governo e não uma estratégia pessoal do ministro", disse Lisa Schineller, analista de crédito para o Brasil.
O diretor do departamento de Economia do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Boris Tabacof, também argumentou que a mudança de comando da pasta da Fazenda não deve trazer alterações de rumo. "Acredito que, se mudanças ocorrerem, elas só acontecerão a partir de janeiro de 2007", disse.
Com relação à escolha de Mantega, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) afirmou que o presidente "foi feliz". A entidade elogiou a formação acadêmica do economista e o seu desempenho na presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A expectativa de que não haverá mudanças foi reforçada por Mantega na primeira declaração que fez como ministro. "A política econômica não mudará", disse.


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