São Paulo, Quarta-feira, 28 de Abril de 1999
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FHC é retrato de desarticulação

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O governo está politicamente desarticulado e isso se reflete nas manifestações erráticas do presidente Fernando Henrique Cardoso e na ação descoordenada de aliados do Planalto na CPI dos Bancos.
Exemplos da desarticulação:
1) O Planalto não quer que Pedro Malan (Fazenda) deponha na CPI, mas ministros, parlamentares governistas e até o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), defendem o contrário.
Segundo eles, o ministro Malan deveria tomar a iniciativa de depor, para não ser forçado a ir pela oposição e para não deixar a impressão, na opinião pública, de que o governo tem algo a esconder;
2) Planalto e governistas divergem sobre a eventual substituição do presidente da CPI, Bello Parga (PFL-MA), por motivos de saúde.
No caso de impedimento, o governo e ACM gostariam que José Roberto Arruda (PSDB-DF) assumisse a vaga, mas a bancada tucana no Senado é contra: "O cargo não pertence ao partido, que não considera a CPI prioritária na agenda política do país e não tem por que assumi-lo", disse ontem o líder Sérgio Machado (CE);
3) FHC deu declarações defendendo Francisco Lopes e depois recuou. Disse em seguida que não se manifestaria mais sobre a CPI, mas soltou uma nota oficial condenando a decisão do ex-presidente do BC de não depor à comissão.
Não faltaram governistas criticando a nota do presidente e a sua insistência em "se jogar" na CPI;
4) Só na quinta o secretário-geral da Presidência, Eduardo Graeff, convocou governistas para articular estratégia para o depoimento de Lopes. No final, o governo foi surpreendido com a decisão de Lopes. Os primeiros a saber foram Parga e o relator João Alberto (PMDB-MA), cerca de 20 minutos antes. Só depois o Planalto soube;
5) O Planalto, por último, enfrenta a CPI desfalcado de líderes no Congresso. O deputado Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM) está indicado há semanas para a liderança do governo no Congresso, e Gérson Camata (PMDB-ES) é cotado para a liderança no Senado.
As duas escolhas, entretanto, não serão formalizadas tão cedo. O governo não quer atritos com o PFL, excluído da composição.
Na prática, cada um faz o que quer. Para Pimenta da Veiga (Comunicações), há uma injustiça: "Se o governo age, dizem que quer manipular. Se não age, dizem que há desarticulação. Não tem jeito".


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