São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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EVENTO

Em debate ontem na Folha, pesquisadores divergem quanto ao número de brasileiros que não têm renda suficiente

Especialistas cobram critério do governo para apurar pobreza

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro não deu um passo importante para a implementação de uma política eficaz de combate à fome: definir o critério para apurar o número de brasileiros abaixo da linha de indigência. Os especialistas em políticas de combate à fome divergem quanto ao número de pessoas que não têm renda suficiente para garantir alimentação adequada, mas todos afirmam que o governo deve, o mais rápido possível, adotar um critério.
Na estimativa do pesquisador Ricardo Paes de Barros, do Ipea, eles são 22 milhões de brasileiros. Para Marcelo Neri, da FGV-RJ, o número pode chegar a 50 milhões de pessoas. O Instituto Cidadania (ONG ligada ao PT) estima o número de pessoas abaixo da linha de pobreza em 44 milhões.
Todos os pesquisadores debateram as metodologias para dimensionar o número de brasileiros em condições de extrema pobreza em seminário realizado ontem pela Folha, em parceria com o Ipea. Hoje, eles discutem propostas para enfrentar a fome no Brasil.
O critério geral para afirmar que uma pessoa está abaixo da linha de indigência -ou em condições de extrema pobreza- é verificar se ela tem renda suficiente para adquirir um dieta diária balanceada, de cerca de 2.300 calorias.
Os pesquisadores, no entanto, divergem em relação à metodologia adequada para apurar quantos brasileiros estão nessa condição. A definição é importante porque são esses os brasileiros que seriam o alvo de políticas de erradicação da fome no país.
Ricardo Paes de Barros, por exemplo, afirma que medir a indigência apenas indiretamente, pela renda das famílias, pode levar a conclusões erradas.
Para ele, a análise dos indicadores antropométricos (peso das crianças, peso de recém-nascidos, altura, índice de massa corporal) mostra que brasileiros com renda maior do que a definida como a de linha de indigência são subnutridos e que um grupo de brasileiros que, pelo critério de renda, estariam abaixo da linha de pobreza tem alimentação adequada.
Segundo os critérios do pesquisador, o Brasil tem 22 milhões de indigentes e o custo para erradicar a fome é de R$ 5 bilhões anuais. "Isso representa apenas 1% da renda das famílias e mostra que é possível resolver o problema da fome no Brasil", afirma.
Marcelo Neri, da FGV-RJ, utiliza o critério de renda e estima o número de pessoas abaixo da linha de indigência em 50 milhões.
Neri diz que é natural que haja diferenças entre as estimativas.


Seminário - "Combate à fome e à pobreza". Hoje, às 19h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar).


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