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JANIO DE FREITAS
A primeira data
Não há indicação de que
Luiz Inácio Lula da Silva se
tenha dado conta disso, mas anteontem o seu governo, no 146º
dia dos 1.460 do mandato, completou o gasto de 10% do tempo
de que dispõe para criar 10 milhões de empregos, acabar com o
analfabetismo de 20 milhões,
impulsionar o crescimento, e todos os demais compromissos assumidos com o eleitorado.
As obras civis atacadas são, ao
que consta, um campo de pelada
na Granja do Torto com a iluminação adequada e, no Palácio
da Alvorada, uma churrasqueira de alvenaria, da qual os gaúchos João Goulart e Médici não
sentiram falta.
Para não dizer que o governo
só ergueu essas importantes
obras de infra-estrutura nacional, houve a obra financeira de
erguer os juros, para fortalecer a
superestrutura dos lucros de
banqueiros e adjacentes.
E, como não poderia faltar a
ação de sentido social em um governo com raízes nos trabalhadores, foi mandado ao Congresso o projeto para diminuir o que
os aposentados recebem e espremer desde já os aposentados do
futuro.
Nos primeiros 10% do mandato não se esperaria, é claro, que
fosse realizada igual proporção
de cada compromisso assumido
pelo candidato Lula, mas iniciada uma parte deles e lançados os
alicerces da outra. Se o número
de feitos não chegou a esse mínimo, Lula compensou-o com o
número de discursos. Tantos
que, antes de sua partida para o
Peru, uma reunião no Planalto
chegou à intelectualizada conclusão de que o embarque, desta
vez, seria feito sem o discurso a
que até simples embarques têm
dado motivo. E o deputado João
Paulo, que preside a Câmara andando atrás de microfones e câmeras, chama de tagarelas os
que falam dos juros.
Por falar na ida ao Peru, uma
ressalva. Há uma indicação, sim,
de que Lula se tenha dado conta
da data marcante dos seus primeiros 10% presidenciais. Tal
como o general Geisel, que só falou a jornalistas brasileiros
quando viajou ao exterior, Luiz
Inácio Lula da Silva fez em Cuzco, Peru, a especial concessão de
afinal dirigir algumas palavras a
repórteres brasileiros. Talvez fosse a sua comemoração. No mínimo, foi um jeito de mostrar-se
como lá fora pensam que é o presidente democrata, capaz de descer do carro para abraçar o povo que faz afago e não faz perguntas.
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