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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

A primeira data

Não há indicação de que Luiz Inácio Lula da Silva se tenha dado conta disso, mas anteontem o seu governo, no 146º dia dos 1.460 do mandato, completou o gasto de 10% do tempo de que dispõe para criar 10 milhões de empregos, acabar com o analfabetismo de 20 milhões, impulsionar o crescimento, e todos os demais compromissos assumidos com o eleitorado.
As obras civis atacadas são, ao que consta, um campo de pelada na Granja do Torto com a iluminação adequada e, no Palácio da Alvorada, uma churrasqueira de alvenaria, da qual os gaúchos João Goulart e Médici não sentiram falta.
Para não dizer que o governo só ergueu essas importantes obras de infra-estrutura nacional, houve a obra financeira de erguer os juros, para fortalecer a superestrutura dos lucros de banqueiros e adjacentes.
E, como não poderia faltar a ação de sentido social em um governo com raízes nos trabalhadores, foi mandado ao Congresso o projeto para diminuir o que os aposentados recebem e espremer desde já os aposentados do futuro.
Nos primeiros 10% do mandato não se esperaria, é claro, que fosse realizada igual proporção de cada compromisso assumido pelo candidato Lula, mas iniciada uma parte deles e lançados os alicerces da outra. Se o número de feitos não chegou a esse mínimo, Lula compensou-o com o número de discursos. Tantos que, antes de sua partida para o Peru, uma reunião no Planalto chegou à intelectualizada conclusão de que o embarque, desta vez, seria feito sem o discurso a que até simples embarques têm dado motivo. E o deputado João Paulo, que preside a Câmara andando atrás de microfones e câmeras, chama de tagarelas os que falam dos juros.
Por falar na ida ao Peru, uma ressalva. Há uma indicação, sim, de que Lula se tenha dado conta da data marcante dos seus primeiros 10% presidenciais. Tal como o general Geisel, que só falou a jornalistas brasileiros quando viajou ao exterior, Luiz Inácio Lula da Silva fez em Cuzco, Peru, a especial concessão de afinal dirigir algumas palavras a repórteres brasileiros. Talvez fosse a sua comemoração. No mínimo, foi um jeito de mostrar-se como lá fora pensam que é o presidente democrata, capaz de descer do carro para abraçar o povo que faz afago e não faz perguntas.


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