São Paulo, quinta, 28 de maio de 1998

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Governo anuncia criação de "frentes produtivas" para alfabetizar e qualificar no Nordeste
Ninguém vai morrer de fome, diz FHC

Antonio Gaudério - 26.abr.98/Folha Imagem
Margarida Souza atravessa a barragem de Baraúna


WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que "ninguém vai morrer de fome" por causa do flagelo da seca.
O assunto seca dominou 29 minutos da entrevista coletiva concedida ontem pelo presidente, que negou que tenha havido negligência do governo no combate aos efeitos da estiagem.
FHC anunciou a reativação das frentes de trabalho Ä que batizou de "frentes produtivas"Ä, e disse que agora elas serão diferentes.
Segundo o presidente, as frentes produtivas terão início dia 1 de junho e atenderiam a até 1 milhão de pessoas. Na entrevista, ele disse que isso "significa quase todo o número de pessoas desempregadas fora do Nordeste".
Segundo ele, haveria 1,3 milhão de desempregados nas seis regiões metropolitanas do país. Mais tarde, na hora da transcrição, ele mandou tirar esses dados. Segundo a Folha apurou, ele disse ter se equivocado com os números, pois o dado representaria apenas o desemprego em São Paulo.
Para FHC, em secas passadas havia "um trabalho insano e ingente (enorme) que não construiu muita coisa"'.
Agora, segundo o presidente, as novas frentes produtivas têm como caráter a alfabetização e a qualificação profissional. "Porque assim as pessoas vão se qualificando para, terminada a seca, terem oportunidades melhores."
FHC disse que as frentes produtivas vão ser mantidas com recursos da União, dos Estados e dos municípios. Para isso, afirmou, é preciso entrosamento.
Segundo ele, há muitos projetos em que se pode aproveitar mão-de-obra no Nordeste.
Ele citou obras hídricas (barragens e açudes que estão sendo construídos), de distribuição de energia elétrica, de irrigação e de infra-estrutura na área de transporte, como ferrovias e estradas.
Disse que cabe ainda aos prefeitos utilizar os recursos repassados com o fundo de valorização do professor para gerar empregos nas localidades.
FHC disse que, apesar de se ver na população sofrida pela seca "pessoas que se confundem com a paisagem (...), naturalmente herdeiras de subnutrição e de uma espécie de atrofia, que vem de séculos de pobreza", é preciso que o país não tenha a sensação de que o Nordeste não tem saída.
O presidente afirmou ainda que, apesar das várias obras hídricas, "não há solução mágica para nenhum lugar do mundo nem para o Nordeste". Ele citou a recuperação do rio São Francisco para a navegação como uma das saídas para a região, mas não mencionou Änem indiretamenteÄ as obras de transposição as águas do rio como solução para a área.
A transposição do São Francisco foi uma das suas promessas de campanha eleitoral. Atualmente estão em licitação os estudos dos impactos ambientais e da viabilidade técnica da obra.
FHC disse que, desde outubro do ano passado, o governo federal estava monitorando os possíveis efeitos do fenômeno El Niño.
Ele disse que há prejuízos na análise dos dados, pois não se sabe ao certo qual a influência do El Niño sobre o Atlântico. Negando que o governo federal tenha perdido tempo, FHC disse que trabalhou com dados oscilantes.
"Em outubro, havia certa probabilidade de seca no Nordeste. Em dezembro, os dados eram outros: a seca seria limitada em microrregiões. Só em março, já na seca, é que foram refeitos os cálculos.'
Relatório do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no entanto, aponta outras conclusões.



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