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Greve é sintoma da política educacional
FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local
FHC mostrou na entrevista de
ontem que, além de conhecer o
que está acontecendo na área de
educação, sabe onde estão as falhas. Só faltou relacionar essas
falhas à própria concepção de
sua política educacional.
"Eu disse (no programa de
governo) que ia dar ênfase ao
ensino primário, que o Brasil
era um país que levou a vida inteira tratando de ensino superior e esqueceu do ensino primário", afirmou o presidente.
É uma síntese perfeita de sua
política. Priorizou-se o ensino
fundamental (antigo primário).
Só que o ensino superior, entre
outras áreas, ficou em segundo
plano -e a greve nas universidades é um sintoma disso.
Os dados que FHC citou são
verdadeiros, mas mostram apenas resultados positivos da
priorização do ensino fundamental: mais crianças nas escolas, mais e melhores livros didáticos, valorização do magistério.
Para isso, o governo aprovou
uma emenda constitucional no
final de 96, vinculando 15% da
arrecadação de Estados e municípios ao ensino fundamental.
O problema é que os Estados e
municípios são também obrigados a investir 25% em educação.
Assim, ao vincular de um ano
para outro 60% do total de recursos da educação (os 15%) ao
ensino fundamental, o governo
"tirou" verbas de outras áreas.
Quem mais está sofrendo é a
educação infantil. Há dezenas
de municípios paulistas fechando pré-escolas e creches para
poder cumprir a nova lei.
No ensino superior, o governo
até teve iniciativas -como o
provão e o Pronex, citados por
FHC. Mas a sensação geral nesse
setor é que, no lugar de uma política coordenada, ocorreram
fatos isolados.
Ou seja, faltou uma reforma
universitária."Nós não conseguimos resolver a questão da
autonomia universitária, que é
necessária", reconheceu FHC.
Se tivesse se preocupado tanto
com isso quanto com as crianças de 7 a 14 anos, não estaria
amargando uma greve de dois
meses em pleno ano eleitoral.
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