São Paulo, quinta, 28 de maio de 1998

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Greve é sintoma da política educacional

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

FHC mostrou na entrevista de ontem que, além de conhecer o que está acontecendo na área de educação, sabe onde estão as falhas. Só faltou relacionar essas falhas à própria concepção de sua política educacional.
"Eu disse (no programa de governo) que ia dar ênfase ao ensino primário, que o Brasil era um país que levou a vida inteira tratando de ensino superior e esqueceu do ensino primário", afirmou o presidente.
É uma síntese perfeita de sua política. Priorizou-se o ensino fundamental (antigo primário). Só que o ensino superior, entre outras áreas, ficou em segundo plano -e a greve nas universidades é um sintoma disso.
Os dados que FHC citou são verdadeiros, mas mostram apenas resultados positivos da priorização do ensino fundamental: mais crianças nas escolas, mais e melhores livros didáticos, valorização do magistério.
Para isso, o governo aprovou uma emenda constitucional no final de 96, vinculando 15% da arrecadação de Estados e municípios ao ensino fundamental.
O problema é que os Estados e municípios são também obrigados a investir 25% em educação. Assim, ao vincular de um ano para outro 60% do total de recursos da educação (os 15%) ao ensino fundamental, o governo "tirou" verbas de outras áreas.
Quem mais está sofrendo é a educação infantil. Há dezenas de municípios paulistas fechando pré-escolas e creches para poder cumprir a nova lei.
No ensino superior, o governo até teve iniciativas -como o provão e o Pronex, citados por FHC. Mas a sensação geral nesse setor é que, no lugar de uma política coordenada, ocorreram fatos isolados.
Ou seja, faltou uma reforma universitária."Nós não conseguimos resolver a questão da autonomia universitária, que é necessária", reconheceu FHC.
Se tivesse se preocupado tanto com isso quanto com as crianças de 7 a 14 anos, não estaria amargando uma greve de dois meses em pleno ano eleitoral.



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