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NO AR
Pseudo-evento
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Repórter:
- O governo está perdendo a batalha da mídia.
FHC:
- A batalha não é na mídia. É na vida.
Foi ontem, na mídia.
Em "A Imagem", livro de 1961, o historiador americano Daniel Boorstin caracterizou pela primeira vez o "pseudo-evento".
Guy Debord falaria depois em pseudo-acontecimento. Jean Baudrillard falaria em simulacro.
Exemplo de pseudo-evento, diz o americano, é a coletiva, "um acontecimento levado a existir com o propósito único de ser noticiado".
Não é "vida", mas "mídia".
Segundo Boorstin, quem criou a entrevista coletiva ao vivo foi John Kennedy.
Ele falava nos jardins da Casa Branca, como Bill Clinton faz até hoje.
E como FHC fazia ontem, nos jardins do Palácio da Alvorada, explicando:
- Não havendo chuva, é melhor fazer ao ar livre as nossas entrevistas.
Ao ar livre na "Casa Branca dos pobres", no dizer do âncora Boris Casoy.
Kennedy mudou o caráter da coletiva. Tornou-a, na expressão de Boorstin, "uma performance teatral".
Para o teatro, FHC vestiu camisa azul, indicação óbvia de publicitários. Foi calmo e contido na ironia. Foi dirigido, embora dizendo:
- Eu nunca acreditei nesta coisa de transformar alguém em sabonete para vender. Comigo não vai ser assim.
Já é. O espetáculo de ontem foi transmitido por quase todas as redes. Exceção inusitada foi a Globo, que se limitou aos telejornais.
É o segundo ato eleitoral, depois da cadeia no horário nobre há duas semanas, em que FHC usa todo o poder da Presidência da República.
E-mail: nelsonsa@uol.com.br
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