São Paulo, Sexta-feira, 28 de Maio de 1999
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PRIVATIZAÇÃO
Avaliação é de setores dos serviços de inteligência das Forças Armadas
Temor de escândalo teria levado governo ao grampo

da Sucursal de Brasília


O medo de ser surpreendido por informações que pudessem revelar, com antecedência, os vencedores de algum leilão da Telebrás teria levado o governo a mobilizar o serviço de inteligência (Abin). As teles foram vendidas por US$ 22 bilhões num negócio batizado como o "maior leilão do mundo".
O então ministro Sérgio Motta (Comunicações), comandante de todo o processo de privatização das teles, teria alertado para o perigo de um "efeito Sivam" e sugerido a ação do serviço de inteligência, em um trabalho de contra-informação, para evitar que o governo viesse a saber de algum escândalo pela imprensa.
A Folha apurou que os serviços de inteligência das Forças Armadas detectaram essa movimentação dos arapongas da Abin. Estranhamente, dois dos suspeitos de envolvimento no grampo do BNDES são um ex-cabo da Marinha (Adilson Mattos) e um ex-coronel da reserva da Aeronáutica (Eudo Costa). O terceiro é Temílson Resende, o Telmo. Todos funcionários da Abin.
Ontem, o general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar da Presidência e responsável pelo serviço de inteligência federal, negou que a Abin tenha envolvimento com o grampo feito na sede do BNDES.
"Se foi da área do nosso pessoal -qualquer pessoa no Rio suspeita de fazer grampo traz junto outras 10 ou 12-, garantidamente não é institucional. Não saiu uma ordem minha ou de algum dirigente da subsecretaria dizendo: 'Vá lá, faça um grampo". Até porque (esse ato) é ilegal", afirmou Cardoso.
O general disse não ter, no entanto, como isentar de todo o seu pessoal do grampo. "Nenhum órgão do mundo está livre de ter uma pessoa dessas", afirmou.
A licitação do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), no valor de US$ 1,4 bilhão, transformou-se em uma guerra comercial entre uma empresa norte-americana (Raytheon) e outra francesa (Thomson) e virou palco de um escândalo, a partir também de um grampo telefônico. Conversas entre um assessor do presidente e um representante da Raytheon levantaram a suspeita de tráfico de influência por trás da escolha da empresa. O presidente só soube do grampo pelo serviço de informações da Aeronáutica.
Ontem, o general Cardoso anunciou a contratação de dois advogados para mover processos contra as pessoas (não identificadas) que afirmaram que ele combinou termos de depoimento dado à Polícia Federal para tentar livrar a subsecretaria no caso do grampo. "Não vai bastar um desmentido. Alguém tem de pagar por isso."


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