São Paulo, Sexta-feira, 28 de Maio de 1999
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GRAMPO NO BNDES
Polícia Federal obteve autorização judicial para investigar suspeitos de obter gravações clandestinas
PF fez escuta de agentes da Casa Militar

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília


A Polícia Federal grampeou durante um mês, no Rio de Janeiro, dois funcionários da Casa Militar da Presidência da República, Temílson Antônio Barreto de Resende e João Guilherme de Almeida, para tentar desvendar os autores do grampo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Até ontem a PF não havia identificado nas gravações grampeadas conversas do ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, com os dois funcionários. Eles são lotados no escritório estadual da SSI (Subsecretaria de Inteligência) da Casa Militar.
Reportagem publicada ontem pelo jornal "Correio Braziliense" afirma que a escuta da PF, autorizada pela Justiça Federal, teria revelado acertos entre o general Cardoso, Resende e João Guilherme para unificarem seus depoimentos à PF sobre o grampo instalado no BNDES durante a privatização do Sistema Telebrás, em julho de 98.
O ministro Renan Calheiros (Justiça) enviou uma carta ao general Cardoso informando que a notícia de que "a Polícia Federal teria obtido autorização judicial" para monitorá-lo "por meio de escuta telefônica" não é verdadeira.
"Visando instruir o procedimento e apurar responsabilidades (no inquérito instaurado na PF), foi solicitada, e autorizada judicialmente, a quebra do sigilo telefônico de algumas linhas, mas nenhuma referente a vossa excelência", diz a nota. E completa: "Dos monitoramentos efetuados não se encontra registro de conversas mantidas entre os investigados e vossa excelência".
No Congresso, onde participou de um depoimento, Calheiros disse que a Polícia Federal "está fazendo o impossível" para descobrir os responsáveis pelo grampo no BNDES. "A Polícia Federal não pode fazer milagre", disse.
A Folha apurou que as gravações revelaram indícios de envolvimento de Resende com outros crimes e ligações dele com o delegado da Polícia Federal Édson Antonio de Oliveira, acusado de receber propina de bicheiros e desviar verbas. Um ex-agente federal, amigo de Resende, também foi grampeado.
Resende é suspeito de ter sido o autor do grampo nos telefones do BNDES durante a privatização da Telebrás, em julho de 98. Ele é lotado como analista de informações no escritório da SSI, que é chefiado por João Guilherme de Almeida.
Com 47 anos, Resende se tornou especialista em monitoramento de conversas telefônicas desde a época do SNI (Serviço Nacional de Informações), órgão de espionagem política dos governos militares (1964-85).
A PF suspeita que Almeida tenha sido conivente com o subordinado ao remeter para o general Cardoso, em Brasília, apenas duas fitas editadas do grampo feito no BNDES. A existência de 46 fitas de escutas telefônicas no banco foi revelada nesta semana pela Folha.
Se continuarem nos cargos, Resende e Almeida irão trabalhar na futura Abin (Agência Brasileira de Informações), quando for oficializada sua criação, após aprovação do Congresso Nacional.
A PF também investiga ligações de Resende com policiais federais da superintendência do órgão no Rio. Há 20 dias houve um arrombamento da sala da corregedoria da PF no Rio onde trabalha o delegado Rubem Grandini, que preside o inquérito sobre o grampo no BNDES. Grandini só ligava de telefone público, temendo grampos na própria superintendência.
As escutas de Resende e Almeida foram instaladas com autorização da Justiça Federal no dia 15 de abril passado, após o depoimento do general Cardoso.
A PF tem convicçãodo envolvimento de Resende. Um funcionário da Telerj confessou a um policial que instalou o grampo a pedido do analista.
A proposta de anistia aos suspeitos que derem informações sobre o grampo no BNDES, feita por Miro Teixeira (PDT-RJ), ganhou dois importantes apoios. Segundo o deputado, agentes do governo se dispõem a revelar a autoria do grampo à Justiça se houver anistia preventiva.
O ministro Calheiros afirmou que qualquer juiz poderá conceder a anistia na ausência de uma legislação. Já o general Cardoso disse que, se a proposta for bem sucedida, ele agradecerá "aos céus".


Colaborou Silvana de Freitas, da Sucursal de Brasília


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