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GRAMPO NO BNDES
Polícia Federal obteve autorização judicial para investigar suspeitos de obter gravações clandestinas
PF fez escuta de agentes da Casa Militar
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
A Polícia Federal grampeou
durante um
mês, no Rio de
Janeiro, dois
funcionários da
Casa Militar da
Presidência da
República, Temílson Antônio Barreto de Resende e João Guilherme
de Almeida, para tentar desvendar
os autores do grampo no BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Até ontem a PF não havia identificado nas gravações grampeadas
conversas do ministro-chefe da
Casa Militar, general Alberto Cardoso, com os dois funcionários.
Eles são lotados no escritório estadual da SSI (Subsecretaria de Inteligência) da Casa Militar.
Reportagem publicada ontem
pelo jornal "Correio Braziliense"
afirma que a escuta da PF, autorizada pela Justiça Federal, teria revelado acertos entre o general Cardoso, Resende e João Guilherme
para unificarem seus depoimentos
à PF sobre o grampo instalado no
BNDES durante a privatização do
Sistema Telebrás, em julho de 98.
O ministro Renan Calheiros
(Justiça) enviou uma carta ao general Cardoso informando que a
notícia de que "a Polícia Federal teria obtido autorização judicial" para monitorá-lo "por meio de escuta telefônica" não é verdadeira.
"Visando instruir o procedimento e apurar responsabilidades (no
inquérito instaurado na PF), foi
solicitada, e autorizada judicialmente, a quebra do sigilo telefônico de algumas linhas, mas nenhuma referente a vossa excelência",
diz a nota. E completa: "Dos monitoramentos efetuados não se encontra registro de conversas mantidas entre os investigados e vossa
excelência".
No Congresso, onde participou
de um depoimento, Calheiros disse que a Polícia Federal "está fazendo o impossível" para descobrir os responsáveis pelo grampo
no BNDES. "A Polícia Federal não
pode fazer milagre", disse.
A Folha apurou que as gravações
revelaram indícios de envolvimento de Resende com outros crimes e
ligações dele com o delegado da
Polícia Federal Édson Antonio de
Oliveira, acusado de receber propina de bicheiros e desviar verbas.
Um ex-agente federal, amigo de
Resende, também foi grampeado.
Resende é suspeito de ter sido o
autor do grampo nos telefones do
BNDES durante a privatização da
Telebrás, em julho de 98. Ele é lotado como analista de informações
no escritório da SSI, que é chefiado
por João Guilherme de Almeida.
Com 47 anos, Resende se tornou
especialista em monitoramento de
conversas telefônicas desde a época do SNI (Serviço Nacional de Informações), órgão de espionagem
política dos governos militares
(1964-85).
A PF suspeita que Almeida tenha
sido conivente com o subordinado
ao remeter para o general Cardoso,
em Brasília, apenas duas fitas editadas do grampo feito no BNDES.
A existência de 46 fitas de escutas
telefônicas no banco foi revelada
nesta semana pela Folha.
Se continuarem nos cargos, Resende e Almeida irão trabalhar na
futura Abin (Agência Brasileira de
Informações), quando for oficializada sua criação, após aprovação
do Congresso Nacional.
A PF também investiga ligações
de Resende com policiais federais
da superintendência do órgão no
Rio. Há 20 dias houve um arrombamento da sala da corregedoria
da PF no Rio onde trabalha o delegado Rubem Grandini, que preside o inquérito sobre o grampo no
BNDES. Grandini só ligava de telefone público, temendo grampos na
própria superintendência.
As escutas de Resende e Almeida
foram instaladas com autorização
da Justiça Federal no dia 15 de abril
passado, após o depoimento do general Cardoso.
A PF tem convicçãodo envolvimento de
Resende. Um funcionário da Telerj confessou a um policial que
instalou o grampo a
pedido do analista.
A proposta de anistia
aos suspeitos que derem informações sobre
o grampo no BNDES,
feita por Miro Teixeira
(PDT-RJ), ganhou dois importantes apoios. Segundo o
deputado, agentes do governo
se dispõem a revelar a autoria
do grampo à Justiça se houver
anistia preventiva.
O ministro Calheiros afirmou
que qualquer juiz poderá conceder
a anistia na ausência de uma legislação. Já o general Cardoso disse
que, se a proposta for bem sucedida, ele agradecerá "aos céus".
Colaborou
Silvana de Freitas, da Sucursal de
Brasília
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