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JANIO DE FREITAS
Os três e outros patetas
É pena que o lado grave dos
malfeitos do governo seja tão
grave, sempre, que se precise
tratá-los, e aos envolvidos como autores ou como áulicos,
com a seriedade merecida pelos problemas do país. É pena,
porque são muito engraçados,
na sua política-pastelão, nas
malandrices que saltam do segredo indispensável às manchetes desmoralizantes.
O próprio presidente da República autoriza o uso do seu
nome para pressões ilegais, um
ministro e um presidente do
BNDES articulam a deformação da concorrência na maior
privatização do mundo -e
tudo o que resulta disso é um
belo escândalo, do qual nenhum dos praticantes se recuperará, jamais. Só não é um
episódio dos "Três Patetas"
porque o número foi maior,
com a participação de Pérsio
Arida, Pio Borges, Elena Landau e outros associados àqueles.
O patetismo foi ainda maior
do que seria uma derrota no
leilão. É de pura má-fé a história, repetida por gente do governo e políticos e jornalistas-governistas, de que ""o consórcio que o governo é acusado de
ajudar perdeu o leilão, logo,
não houve ajuda". O consórcio
dos interesses de Mendonça de
Barros e Lara Resende, em favor do qual Fernando Henrique autorizou pressões em seu
nome, na verdade estava autodesclassificado. Já comprara
uma telefônica que o impedia,
pelas regras do leilão, de arrematar o grupo formado por
Telerj e mais 15 telefônicas. Os
que armavam as jogadas, de
dentro e de fora do governo,
esqueceram as regras que armaram.
O outro argumento de defesa, também muito do agrado
de Fernando Henrique e por
ele mandado divulgar, em seu
nome, pelo novo porta-voz,
não é menos gaiato: vale por
uma confissão do que o governo faz em caso de concorrências.
Depois de inventar uma diferença legal entre leilão e licitação, diz o tal argumento que,
""no caso de leilão, cabe ao governo (leia-se ao presidente)
buscar maior competição e estimular o maior número de
competidores". Ou seja, nas
obras e demais concorrências
que não sejam por leilão convencional, o governo não quer
competição nem maior número de competidores.
É verdade. Foi o que aconteceu, por exemplo, na licitação
do bilionário projeto Sivam,
""vencida" pela Raytheon, segundo o desejo manifestado
por Bill Clinton.
Há mais sobre os leilões, nos
quais ainda ""cabe ao governo
zelar pela qualidade dos competidores do ponto de vista
técnico e financeiro". Se fosse o
caso de licitação, dada a diferença de funções do governo
nos dois gêneros, tal zelo não
existiria, é o que diz o próprio
governo.
E, argumento final da lisura,
""em última análise, quem decide o leilão é o preço, da forma mais lisa possível na competição final". É verdade, outra vez. Nas outras concorrências a decisão depende de outros fatores, tratados sem cerimônia mesmo em telefonemas
dados para ou da Presidência
da República, como ficou comprovado já no primeiro escândalo de gravação do governo
Fernando Henrique. Outro caso gaiato: um integrante do
governo quis provar negociata
de outro e provou que a negociata era do governo mesmo.
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