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JUDICIÁRIO
Afirmação é do ministro Octávio Gallotti em saudação ao novo presidente do Supremo Tribunal Federal
STF teme "atalhos" que levem a crise
SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília
A posse ontem do ministro Carlos Velloso, 63, na presidência do
STF (Supremo Tribunal Federal)
mostrou que o Poder Judiciário teme o surgimento de uma crise institucional e a busca precipitada por
"atalhos" que contrariariam a ordem jurídica.
Em saudação feita em nome do
STF, o ministro Octávio Gallotti
disse que Velloso assume o cargo
em um "delicado momento de
nossas instituições" e condenou
"impulsos de retomada dos caminhos alternativos do direito".
O presidente Fernando Henrique, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), e o
presidente do Congresso, senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), estavam presentes à cerimônia, entre outras autoridades. FHC
e Itamar sentaram-se em lugares
distantes e não se encontraram.
Gallotti disse que "a ansiedade
pela solução de problemas sociais
e econômicos que o mundo e a nação enfrentam faz redobrarem as
tensões a recair sobre a ordem jurídica e o Judiciário, ressuscitando
velhas tentações de atalhar-se a
atuação por meio de travessias menos seguras e iluminadas".
Já o novo presidente do STF afirmou que a crise "parece ser um fenômeno nacional", marcando o
seu discurso pela defesa da magistratura, alvo de investigação no Senado por meio de CPI.
"A economia tem vivido momentos de crise, a Previdência Social também tem a sua crise, o mesmo ocorre com a universidade; o
Legislativo e o Executivo não fogem à regra."
Velloso afirmou que as mazelas
da Justiça "são menores do que
apregoam" e reconheceu que "os
juízes não são anjos".
Segundo ele, os magistrados, em
sua maioria, são honestos, competentes e dignos e "os maus juízes
estão sendo punidos pelo próprio
Judiciário".
Gallotti também demonstrou temer os rumos da CPI do Judiciário,
sem citá-la.
"Agora mesmo, ao findar-se o
milênio, a despeito de soprarem os
ventos da liberdade, voltam, a cada
momento, a despontar, aqui e ali,
impulsos de retomada dos caminhos alternativos do direito e sementes de descrença na autoridade das sentenças do Judiciário como postulado essencial ao império
da democracia."
Divergência
O discurso de 12 páginas mostrou que o novo presidente do STF
terá estilo oposto ao de seu antecessor, Celso de Mello, 53, que
marcou a sua gestão por propostas
polêmicas como o impeachment
de juízes e a defesa da CPI do Judiciário, que não são bem recebidas
na magistratura.
Velloso afirmou que procurará
realizar "um ideal" de sua vida: lutar para que o Judiciário seja cada
vez mais forte, mais independente
e mais respeitado. Segundo ele, o
"grande mal da Justiça brasileira"
e a lentidão.
Já Mello recebeu dos outros dez
colegas de tribunal um recado expresso por Gallotti de que havia
exercido o mandato de dois anos
com "a força de seu caráter e de
suas convicções pessoais, mesmo
quando não assinaladas pelo consenso do tribunal".
Gallotti disse que o novo presidente do STF "tudo saberá considerar e devidamente praticar" por
ter "sereno equilíbrio, habilidade e
postura de estadista".
Natural de Entre Rios de Minas,
Velloso exercerá o cargo por dois
anos e será então substituído pelo
ministro Marco Aurélio de Mello,
empossado ontem na vice-presidência do STF.
Marco Aurélio recebeu saudação
do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Reginaldo de
Castro, para quem ele é "um magistrado de forte personalidade,
além de estudioso atento da realidade brasileira".
Segundo Castro, "com tais atributos, é natural que pague algumas vezes o ônus da incompreensão."
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