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ESQUELETO DO GOVERNO
Decisão também inclui sua mulher, Lídice, três irmãos, nove empresas e mais três pessoas físicas
Justiça Federal quebra sigilo bancário de EJ
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Justiça Federal autorizou ontem a quebra do sigilo bancário
do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas
Pereira, de sua mulher, Lídice,
de três de seus irmãos e de
mais três pessoas e nove empresas
que estiveram ligadas a ele nos
últimos anos.
No caso de EJ e de sua mulher, o
juiz Ronaldo Desterro (10ª Vara
da Justiça Federal, em Brasília)
autorizou também a quebra do sigilo fiscal nos últimos cinco anos e
a análise da movimentação bancária revelada pela CPMF do casal
no mesmo período. A intenção é
conferir se a renda declarada ao
Fisco é compatível com o dinheiro que efetivamente circulou nas
contas do casal.
O juiz Desterro restringiu a revelação dos dados sigilosos às informações bancárias entre 1999 e
2000. No pedido apresentado pelo
Ministério Público à Justiça, em 5
de junho, os procuradores Luiz
Francisco de Souza e Alexandre
Camanho, do Ministério Público
em Brasília, pediam a quebra de
39 titulares, para o período entre
1992 e 2000, e solicitavam também a quebra do sigilo telefônico.
O juiz baseou sua decisão em indícios de delito tributário, indicado em recente auditoria sobre as
declarações de renda de EJ à Receita Federal.
Desterro determinou a quebra
para que os dados possam definitivamente esclarecer se no caso de
EJ houve "variação patrimonial a
descoberto" (crescimento do patrimônio em descompasso com a
renda), conforme indicado pelos
auditores da Receita, segundo a
Folha antecipou no último dia 6.
"A investigação do caso EJ só
vai demonstrar se ele é culpado
ou inocente com a quebra dos sigilos bancário e telefônico de 1994
para cá", disse o procurador Luiz
Francisco. "Vamos continuar batendo nisso."
Eduardo Jorge foi um dos cardeais de Fernando Henrique Cardoso. Era seu braço direito no primeiro mandato de FHC e foi também o homem que comandou a
máquina eleitoral na campanha
para reeleição do presidente em
1998. Entre as áreas sob sua influência estavam, por exemplo, os
bilionários fundos de pensão de
empresas estatais.
O ex-secretário, que tinha status
de ministro, é investigado por
suspeita de enriquecimento ilícito, tráfico de influência e crimes
tributários. Depois que deixou o
governo, em 1998, seu patrimônio
pessoal mais do que dobrou. Saltou de R$ 964,4 mil para mais de
R$ 2 milhões entre 1998 e 1999.
No relatório da Receita que sustentou a decisão do juiz, os fiscais
que investigam EJ há cerca de dez
meses afirmam que nas declarações de renda de EJ encontraram
"divergências, características de
nebulosidade e falta de contabilização de dados relevantes".
Afirmam também que, diante
do que viram, é "imprescindível"
quebrar o sigilo bancário de EJ e
de pessoas e empresas que tiveram operações com ele nos últimos anos. As principais dúvidas
são as seguintes:
1) EJ afirma em sua declaração
de renda que recebeu empréstimo
de R$ 200 mil de uma empresa
chamada Blue Chip. Segundo a
fiscalização, o tal empréstimo seria na realidade uma promessa de
crédito futuro que, aliás, nunca se
realizou. Os R$ 200 mil seriam
usados por EJ para comprar ações
de uma outra empresa, a DTC.
De acordo com os fiscais, os documentos apresentados para justificar negócio "apresentam indícios de montagem" e informações
contraditórias.
2) Eduardo Jorge declarou ter
recebido como doação, em abril
de 1999, 10% do capital social das
empresas Metacor Administração e Corretagem de Seguros
Ltda. e Metaplan Consultoria e
Planejamento Ltda., as duas da
área de seguros.
As ações foram doadas por Ivan
Carlos Machado de Aragão e contabilizadas por EJ por R$ 153,7
mil. O Fisco geralmente desconfia
quando aparece uma doação de
participação acionária, principalmente quando doador e beneficiário não são da mesma família.
3) Embora tivesse apenas 1% da
empresa L.C. Faria Consultores e
Associados, EJ recebeu R$ 125 mil
em lucros e dividendos, ou 74%
do total distribuído entre todos os
acionistas.
4) Em março de 1999, houve um
depósito de R$ 140 mil numa conta de EJ. Ele disse que era pagamento por um apartamento que
vendeu em Brasília. Só que a informação não bate, em valor e data, com os registros que os fiscais
checaram em cartório.
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