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QUESTÃO AGRÁRIA
Cerca de 300 acampados participaram da ação; polícia conseguiu resgatar parte da carga roubada
Sem-terra saqueiam caminhão no Pontal
EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Numa ação que durou meia hora, cerca de 300 acampados ligados ao MST fizeram ontem o primeiro saque no Pontal do Paranapanema. Foram saqueados dois
caminhões de alimentos na rodovia Euclides Figueiredo (SP-563),
perto de Teodoro Sampaio (SP).
A ação por pouco não resultou
em confronto com cerca de 200
policiais militares que, deslocados
para o local, receberam autorização judicial para invadir o acampamento, o maior do Estado, com
cerca de 3.000 pessoas.
A invasão dos policiais só não
aconteceu porque os sem-terra
concordaram em devolver parte
dos produtos roubados. A polícia
identificou saques de seis bois vivos e de 3.470 kg de café moído. O
clima permanece tenso porque a
polícia deverá entrar hoje às 8h no
acampamento para retirar o resto
dos produtos saqueados.
O caminhão com bois foi levado
para dentro do acampamento, de
onde foram retirados seis animais. Um fugiu e foi morto a tiros
pela polícia, para evitar acidente
na rodovia. Outros cinco foram
abatidos pelos sem-terra.
O agricultor Onofre Santiago foi
preso quando saía do acampamento com 7 kg de carne escondidos no estepe do carro. O motorista de um caminhão saqueado
disse à polícia que foi abordado
por sem-terra com facões, foices,
enxadas e duas espingardas.
Um acampado disse à Agência
Folha que foram saqueados também um caminhão carregado
com arroz e outro com feijão. As
vítimas não teriam dado queixa à
polícia. O acampado, que se identificou como Moisés Alves, 25,
disse que pode haver mais saques:
"De agora em diante a ordem no
Pontal é a mesma do Nordeste:
saquear para matar a forme".
A situação ficou mais tensa por
volta das 15h, com a chegada ao
local de um reforço com cerca de
200 policiais, que tinham autorização do juiz Atis de Oliveira
Araújo para entrar no acampamento em busca de "produtos" e
"'instrumentos" do roubo.
Cerca de 200 mulheres e crianças formaram uma barreira humana na entrada do acampamento para impedir a ação dos PMs.
Os homens batiam foices em facões e enxadas. Cabeças e ossos de
bois foram jogados na rodovia.
Só neste momento apareceu José Rainha Júnior, principal dirigente do MST na região. Ele negociou com a PM devolução dos
produtos roubados. Só parte foi
devolvida. Até a chegada de Rainha, nenhum dirigente do MST
tinha sido localizado pela polícia.
Estariam todos viajando. Segundo o Ministério Público, esta é a
estratégia do MST para evitar prisões preventivas de seus líderes.
Rainha e outros dez dirigentes
respondem a processo por formação de quadrilha ou bando. Se tivessem participado dos saques,
poderiam ter a prisão decretada.
Os saqueadores pertencem ao
acampamento Osiel Alves, que se
formou a partir da invasão da fazenda São João, em 17 de abril.
Despejados por ordem judicial,
eles invadiram em maio uma área
da prefeitura, onde estão até hoje.
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