São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2001

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QUESTÃO AGRÁRIA

Cerca de 300 acampados participaram da ação; polícia conseguiu resgatar parte da carga roubada

Sem-terra saqueiam caminhão no Pontal

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Numa ação que durou meia hora, cerca de 300 acampados ligados ao MST fizeram ontem o primeiro saque no Pontal do Paranapanema. Foram saqueados dois caminhões de alimentos na rodovia Euclides Figueiredo (SP-563), perto de Teodoro Sampaio (SP).
A ação por pouco não resultou em confronto com cerca de 200 policiais militares que, deslocados para o local, receberam autorização judicial para invadir o acampamento, o maior do Estado, com cerca de 3.000 pessoas.
A invasão dos policiais só não aconteceu porque os sem-terra concordaram em devolver parte dos produtos roubados. A polícia identificou saques de seis bois vivos e de 3.470 kg de café moído. O clima permanece tenso porque a polícia deverá entrar hoje às 8h no acampamento para retirar o resto dos produtos saqueados.
O caminhão com bois foi levado para dentro do acampamento, de onde foram retirados seis animais. Um fugiu e foi morto a tiros pela polícia, para evitar acidente na rodovia. Outros cinco foram abatidos pelos sem-terra.
O agricultor Onofre Santiago foi preso quando saía do acampamento com 7 kg de carne escondidos no estepe do carro. O motorista de um caminhão saqueado disse à polícia que foi abordado por sem-terra com facões, foices, enxadas e duas espingardas.
Um acampado disse à Agência Folha que foram saqueados também um caminhão carregado com arroz e outro com feijão. As vítimas não teriam dado queixa à polícia. O acampado, que se identificou como Moisés Alves, 25, disse que pode haver mais saques: "De agora em diante a ordem no Pontal é a mesma do Nordeste: saquear para matar a forme".
A situação ficou mais tensa por volta das 15h, com a chegada ao local de um reforço com cerca de 200 policiais, que tinham autorização do juiz Atis de Oliveira Araújo para entrar no acampamento em busca de "produtos" e "'instrumentos" do roubo.
Cerca de 200 mulheres e crianças formaram uma barreira humana na entrada do acampamento para impedir a ação dos PMs. Os homens batiam foices em facões e enxadas. Cabeças e ossos de bois foram jogados na rodovia.
Só neste momento apareceu José Rainha Júnior, principal dirigente do MST na região. Ele negociou com a PM devolução dos produtos roubados. Só parte foi devolvida. Até a chegada de Rainha, nenhum dirigente do MST tinha sido localizado pela polícia. Estariam todos viajando. Segundo o Ministério Público, esta é a estratégia do MST para evitar prisões preventivas de seus líderes.
Rainha e outros dez dirigentes respondem a processo por formação de quadrilha ou bando. Se tivessem participado dos saques, poderiam ter a prisão decretada.
Os saqueadores pertencem ao acampamento Osiel Alves, que se formou a partir da invasão da fazenda São João, em 17 de abril. Despejados por ordem judicial, eles invadiram em maio uma área da prefeitura, onde estão até hoje.


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