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PF SOB SUSPEITA
Citado em documento do órgão como ex-prefeito diz que denúncias eram contra prefeitura do PSDB
Denunciante da PF
nega ter acusado Lula
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O consultor de empresas Fernando Tenório Cavalcanti, 36, citado em documento da Polícia
Federal como ex-prefeito de São
Bernardo do Campo, no qual teria
denunciado que o candidato do
PT à Presidência, Luiz Inácio Lula
da Silva, adquiriu imóveis por
meio de "laranjas", negou ontem
à noite, em entrevista à Folha, que
tivesse feito essa denúncia. Cavalcanti disse que é ex-funcionário
da Prefeitura de São Bernardo e
que em nenhum momento se
passou por ex-prefeito.
Ele disse que procurou o deputado federal Moroni Torgan
(PFL-CE) porque o conhecia e
que sua intenção foi denunciar
um suposto esquema de corrupção na prefeitura. O nome de Lula, de acordo com Cavalcanti, só
foi citado à PF porque o petista é
amigo de Maurício Soares
(PSDB), prefeito de São Bernardo.
Leia abaixo trechos da entrevista.
Folha - O sr. é filiado a algum partido?
Fernando Tenório Cavalcanti - Filiei-me ao PSDB em 94, por meio
do deputado Moroni Torgan, que
era do PSDB na época, e, em 96,
comecei a trabalhar na campanha
de Maurício Soares a prefeito de
São Bernardo do Campo. Em 97,
fui trabalhar na prefeitura.
Folha - O sr. permaneceu filiado
ao PSDB?
Cavalcanti - Pedi desfiliação em
2000 e me filiei ao PT. Comecei a
ajudar o Vicentinho [Vicente
Paulo da Silva", que era candidato
a prefeito. Mas o pessoal da prefeitura ficou com medo de que eu
usasse alguma informação que eu
tinha contra eles e pediram para
eu retornar ao PSDB. E me pagaram por isso.
Folha - Quanto?
Cavalcanti - Deram-me R$ 2.800
e mais R$ 1.000 por mês.
Folha - Quem pagou?
Cavalcanti - O doutor Willian
Dib, vice-prefeito.
Folha - Ele pessoalmente ou um
intermediário?
Cavalcanti - Ele mesmo.
Folha - Quando o sr. procurou a
Polícia Federal?
Cavalcanti - Em novembro do
ano 2000, procurei o Moroni para
falar sobre a Prefeitura de São
Bernardo do Campo. Aí ele me indicou um delegado, amigo dele,
que fazia parte de uma força-tarefa da Polícia Federal que ajudava a
CPI do Narcotráfico, o dr. Alberto
Lasserre Kratzl Filho.
Folha - Que tipo de denúncias?
Cavalcanti - Envolvendo empreiteiras que davam dinheiro para a campanha eleitoral.
Folha - Qual é a empreiteira?
Cavalcanti - Emparsanco.
Folha - Que tipo de documentos o
sr. entregou à Polícia Federal?
Cavalcanti - Eu havia feito um
relatório sobre a influência dessa
empresa na Prefeitura de São Bernardo e o dinheiro que dera para a
campanha, embora nunca tenha
aparecido na declaração do TRE.
Folha - Como o sr. sabia que ela
dava dinheiro?
Cavalcanti - Eu cuidei da prestação de contas e eu via o Jaci Feliciano Munhoz, presidente da empresa, constantemente levando
dinheiro.
Folha - O sr. foi entregar tudo isso
e o Moroni disse que iria encaminhá-lo ao delegado?
Cavalcanti - Sim, mas como a denúncia foi para um delegado que
estava ligado ao narcotráfico, foi
como se tivesse saído da CPI do
Narcotráfico.
Folha - Como o nome do Lula foi
parar nessas denúncias?
Cavalcanti - Eu citei a proximidade do Lula com o Maurício
Soares e contei a história de que o
Maurício foi do sindicato [dos
Metalúrgicos de São Bernardo",
que a Emparsanco também prestava serviço para o PT. Mas meu
objetivo não era o PT, mas a Prefeitura de São Bernardo do Campo. Eu não fiz denúncia de narcotráfico nem contra ninguém da
Prefeitura de Santo André e não
tenho nada contra o Lula.
Folha - O sr. se passou por ex-prefeito de São Bernardo?
Cavalcanti - De jeito nenhum.
Folha - Tudo passou pelo Moroni
Torgan? O sr. não teve contato com
o delegado?
Cavalcanti - O Moroni só me encaminhou ao delegado. Ele disse
para eu procurar o delegado Lasserre que ele iria conduzir este assunto. Em Brasília, o agente da PF
Gilvan encaminhou o assunto para São Paulo.
Folha - O sr. não teve contato direto com o Lasserre?
Cavalcanti - Não, só com o Gilvan.
Folha - Aí o sr. entregou os documentos para o Gilvan e disse que
era ex-funcionário da prefeitura?
Cavalcanti - Inclusive deixei bem
claro para o Alexandre, delegado
da PF em São Paulo, para onde o
processo foi encaminhado. Há
três meses, a PF entrou em contato comigo. Quem ligou foi o agente Friedmann, mas resolvi não falar mais nada sobre o caso.
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