São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 2002

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PF SOB SUSPEITA

Citado em documento do órgão como ex-prefeito diz que denúncias eram contra prefeitura do PSDB

Denunciante da PF nega ter acusado Lula

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O consultor de empresas Fernando Tenório Cavalcanti, 36, citado em documento da Polícia Federal como ex-prefeito de São Bernardo do Campo, no qual teria denunciado que o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, adquiriu imóveis por meio de "laranjas", negou ontem à noite, em entrevista à Folha, que tivesse feito essa denúncia. Cavalcanti disse que é ex-funcionário da Prefeitura de São Bernardo e que em nenhum momento se passou por ex-prefeito.
Ele disse que procurou o deputado federal Moroni Torgan (PFL-CE) porque o conhecia e que sua intenção foi denunciar um suposto esquema de corrupção na prefeitura. O nome de Lula, de acordo com Cavalcanti, só foi citado à PF porque o petista é amigo de Maurício Soares (PSDB), prefeito de São Bernardo. Leia abaixo trechos da entrevista.
 

Folha - O sr. é filiado a algum partido?
Fernando Tenório Cavalcanti -
Filiei-me ao PSDB em 94, por meio do deputado Moroni Torgan, que era do PSDB na época, e, em 96, comecei a trabalhar na campanha de Maurício Soares a prefeito de São Bernardo do Campo. Em 97, fui trabalhar na prefeitura.

Folha - O sr. permaneceu filiado ao PSDB?
Cavalcanti -
Pedi desfiliação em 2000 e me filiei ao PT. Comecei a ajudar o Vicentinho [Vicente Paulo da Silva", que era candidato a prefeito. Mas o pessoal da prefeitura ficou com medo de que eu usasse alguma informação que eu tinha contra eles e pediram para eu retornar ao PSDB. E me pagaram por isso.

Folha - Quanto?
Cavalcanti -
Deram-me R$ 2.800 e mais R$ 1.000 por mês.

Folha - Quem pagou?
Cavalcanti -
O doutor Willian Dib, vice-prefeito.

Folha - Ele pessoalmente ou um intermediário?
Cavalcanti -
Ele mesmo.

Folha - Quando o sr. procurou a Polícia Federal?
Cavalcanti -
Em novembro do ano 2000, procurei o Moroni para falar sobre a Prefeitura de São Bernardo do Campo. Aí ele me indicou um delegado, amigo dele, que fazia parte de uma força-tarefa da Polícia Federal que ajudava a CPI do Narcotráfico, o dr. Alberto Lasserre Kratzl Filho.

Folha - Que tipo de denúncias?
Cavalcanti -
Envolvendo empreiteiras que davam dinheiro para a campanha eleitoral.

Folha - Qual é a empreiteira?
Cavalcanti -
Emparsanco.

Folha - Que tipo de documentos o sr. entregou à Polícia Federal?
Cavalcanti -
Eu havia feito um relatório sobre a influência dessa empresa na Prefeitura de São Bernardo e o dinheiro que dera para a campanha, embora nunca tenha aparecido na declaração do TRE.

Folha - Como o sr. sabia que ela dava dinheiro?
Cavalcanti -
Eu cuidei da prestação de contas e eu via o Jaci Feliciano Munhoz, presidente da empresa, constantemente levando dinheiro.

Folha - O sr. foi entregar tudo isso e o Moroni disse que iria encaminhá-lo ao delegado?
Cavalcanti -
Sim, mas como a denúncia foi para um delegado que estava ligado ao narcotráfico, foi como se tivesse saído da CPI do Narcotráfico.

Folha - Como o nome do Lula foi parar nessas denúncias?
Cavalcanti -
Eu citei a proximidade do Lula com o Maurício Soares e contei a história de que o Maurício foi do sindicato [dos Metalúrgicos de São Bernardo", que a Emparsanco também prestava serviço para o PT. Mas meu objetivo não era o PT, mas a Prefeitura de São Bernardo do Campo. Eu não fiz denúncia de narcotráfico nem contra ninguém da Prefeitura de Santo André e não tenho nada contra o Lula.

Folha - O sr. se passou por ex-prefeito de São Bernardo?
Cavalcanti -
De jeito nenhum.

Folha - Tudo passou pelo Moroni Torgan? O sr. não teve contato com o delegado?
Cavalcanti -
O Moroni só me encaminhou ao delegado. Ele disse para eu procurar o delegado Lasserre que ele iria conduzir este assunto. Em Brasília, o agente da PF Gilvan encaminhou o assunto para São Paulo.

Folha - O sr. não teve contato direto com o Lasserre?
Cavalcanti -
Não, só com o Gilvan.

Folha - Aí o sr. entregou os documentos para o Gilvan e disse que era ex-funcionário da prefeitura?
Cavalcanti -
Inclusive deixei bem claro para o Alexandre, delegado da PF em São Paulo, para onde o processo foi encaminhado. Há três meses, a PF entrou em contato comigo. Quem ligou foi o agente Friedmann, mas resolvi não falar mais nada sobre o caso.



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