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CARTILHA ORTODOXA
Documento distribuído ao CDES defende fim da multa nas demissões e revisão da dedução do IR para classe média
Governo instrui conselho com Banco Mundial
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal enviou aos
integrantes do CDES (Conselho
de Desenvolvimento Econômico
e Social, criado para debater as reformas e outras políticas de governo com representantes da sociedade civil) um documento do
Banco Mundial com propostas
como o fim da multa de 40% do
FGTS nas demissões e a elevação
da contribuição previdenciária de
servidores ativos.
O documento, intitulado "Políticas para um Brasil Justo, Sustentável e Competitivo", é um resumo em português de um trabalho
realizado por técnicos do organismo com "análises e sugestões"
que vão da macroeconomia às
políticas ambientais.
As propostas servirão de base
para uma reunião no dia 7 de julho entre o Banco Mundial e o
conselho, formado por 90 representantes da sociedade, dez ministros e o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Agenda do crescimento
Apresenta-se no texto, datado
de novembro de 2002, uma agenda para o crescimento econômico
com distribuição de renda, levando em conta um cenário de forte
controle dos gastos públicos -o
Banco Mundial defende o aumento das metas fiscais adotado anteriormente pelo governo.
A extinção da multa de 40% sobre o saldo do Fundo de Garantia
em casos de demissão sem justa
causa é citada entre as "possíveis
ações para gerar emprego em um
contexto de restrições fiscais".
Essa idéia chegou a ser aventada
no início do ano pelo ministro Jaques Wagner (Trabalho), com
forte reação contrária do mundo
sindical. Desde então, o tema saiu
da pauta pública de discussões.
Na argumentação do Banco
Mundial, repetida pelo ministro,
a existência da multa induz a fraudes nas quais a demissão é simulada para que o dinheiro do fundo
seja liberado.
Outra proposta do documento
já foi encampada pela equipe do
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda): a revisão das deduções
no Imposto de Renda da Pessoa
Física, "que beneficiam as classes
médias".
Previdência
O texto do organismo internacional também faz várias sugestões para a reforma da Previdência, começando pela criação de
uma contribuição de 11% sobre os
benefícios dos servidores públicos inativos -incluída no projeto
de reforma de Lula.
Propõe-se ainda a elevação de
11% para 14% da tributação sobre
os servidores públicos da ativa,
que nunca fez parte das discussões sobre a reforma, e o fim da
diferenciação da idade mínima
para aposentadoria entre homens
e mulheres, idéia abandonada pelo governo.
Salário mínimo
Outra recomendação, que valeria tanto para os servidores como
para os trabalhadores do setor
privado, é desvincular o piso dos
benefícios previdenciários do salário mínimo -essa vinculação é
o principal obstáculo à promessa
de Lula de dobrar o poder de
compra do mínimo.
Segundo Henrique Fernandes,
subsecretário-executivo do
CDES, a reunião de julho "foi convocada pelo Banco Mundial" para
debater as propostas com os conselheiros, conforme acerto com o
ministro Tarso Genro.
"O Banco Mundial não quer influenciar o conselho, quer ser influenciado pelo conselho", afirma
Fernandes, apontando que as sugestões apresentadas são de responsabilidade exclusiva dos autores do documento.
Para o organismo internacional,
as discussões servirão de base para as metas do programa de assistência financeira ao Brasil.
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