São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997.



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PRIVATIZAÇÃO
Itaú não quer comprar outros bancos por enquanto, mas analisará proposta do Banespa "na hora certa"
Banerj está sujeito a ajustes, diz Setubal

SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local

Os cerca de 6.000 funcionários do Banerj (Banco do Estado do Rio de Janeiro) não correm o risco de uma demissão em massa.
O presidente do banco Itaú, Roberto Setubal, afastou ontem essa possibilidade. Em entrevista à Folha, Setubal ressaltou, entretanto, que, como todos os bancos brasileiros, o Banerj está sujeito a ajustes, mas "nada radical".
O Itaú, segundo Setubal, fez um "bom negócio". Gastou cerca de R$ 160 milhões para comprar um banco, cujo preço mínimo era de R$ 310 milhões.
"Qualquer um poderia comprar, mas só o Itaú quis", disse Setubal. O Banerj foi o primeiro banco estatal privatizado.
Segundo Setubal, o Itaú não deve comprar outros bancos por enquanto, mas ele não descarta a possibilidade de comprar o Banespa. "Vamos analisar no momento oportuno." Leia entrevista:

Folha - Todo mundo diz que banco estatal é ineficiente, dá prejuízo e por aí vai. Qual a vantagem de comprar um banco estatal?
Roberto Setubal -
Para quem tem estrutura, absorver um desses bancos pode ser um bom negócio. O Itaú tem longa tradição nesse processo de absorver outras instituições. Não será nada traumático.
Folha - O sr. gastou R$ 160 milhões para comprar um banco que valia, no mínimo, R$ 310 milhões. Foi um negócio da China?
Setubal -
Do ponto de vista financeiro, foi um bom negócio. Mas tivemos que administrar muitas complicações. É um negócio que envolve risco. Além de envolver uma transição de instituição estatal para privada, o que nunca foi feito antes.
Folha - Quais os complicadores?
Setubal -
Um banco estatal, como qualquer estatal, tem de passar por processo de adaptação ao novo negócio. Mas há no Banerj muitos funcionários capacitados. Deve ter muita gente com vontade de trabalhar e de crescer. O Itaú é um grupo grande e oferece boas oportunidades para quem quer crescer.
Folha - O sr. não ficou surpreso com a falta de interessados?
Setubal -
Aconteceu mais ou menos o que a gente já esperava. O banco tem um passivo muito grande. Se não fosse isso, haveria mais interessados.
Folha - O sr. estava preparado para pagar mais?
Setubal -
Um pouco a mais ...
Folha - Quanto?
Setubal -
Isso eu prefiro não revelar.
Folha - Não há dúvida que para o comprador, a possibilidade de pagar com títulos públicos é ótima, mas para o Estado ... O sr. não teme críticas a esse processo?
Setubal -
Tudo isso faz parte do preço. Pelos riscos envolvidos no negócio, esse é um prêmio.
Folha - Que riscos?
Setubal -
No processo todo de compra. Dificuldades em torno de passivos que montam a R$ 3 bilhões. Encontramos uma saída satisfatória (referindo-se aos fundos montados pelo Estado com dinheiro emprestado da União para pagar passivo trabalhista).
Folha - Se não pudesse pagar com títulos, o Itaú não compraria o Banerj?
Setubal -
Poderia nem comprar.



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