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Documento a ser divulgado hoje confirma discussão para
"liberalização comercial progressiva e recíproca", mas
evita determinação de uma data por resistência dos países europeus
Europa e Mercosul acertam negociação
CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Rio
Os 15 países da UE (União Européia) e os quatro do Mercosul mais
o Chile "concordaram em lançar
negociações com vistas à liberalização comercial progressiva e recíproca, sem excluir nenhum setor e
em concordância com as regras da
OMC (Organização Mundial do
Comércio)".
Será esse o teor do comunicado a
ser difundido hoje, depois da reunião de cúpula (a primeira do gênero) entre 20 países, a reunião
mais importante dentro da cúpula
maior, esta entre 48 países latino-americanos, caribenhos e europeus, que começa hoje.
O comunicado UE-Mercosul, a
que a Folha teve acesso, incorpora
a expressão diplomática "single
undertaking" (empreendimento
único), o que significa que nenhum acordo entrará em vigor antes de acertados todos os pontos da
vasta agenda de liberalização comercial a ser lançada hoje.
O documento final não contém
menção a uma data nem para começar nem para terminar a negociação, ao contrário do que pretendia o governo brasileiro. O bloco
europeu, em especial a França,
opõe-se porque não quer ficar
amarrado a uma data específica.
A questão da data pode acabar se
tornar irrelevante a curto prazo,
porque já está prevista para novembro uma reunião do Conselho
Conjunto UE/Mercosul-Chile,
criado em encontro em Madri há
quatro anos. Caberá a essa reunião
definir calendário e regras precisas
de negociação, o que, eventualmente, incluirá definição de datas.
Com ou sem data, o horizonte
com o qual trabalham ambas as
partes é o de finalizar os trabalhos
o mais perto possível do término
da chamada Rodada do Milênio,
uma abrangente negociação comercial a ser presumivelmente
lançada pela OMC na sua 3ª Conferência Ministerial, também em novembro, em Seattle (EUA).
Espera-se que a Rodada do Milênio acabe em três anos (2003, portanto, no máximo 2004).
O lançamento de negociações
entre os dois blocos significa que o
Brasil mergulhará nos próximos
meses em negociações em três âmbitos diferentes e que delas dependerá a inserção internacional do
país e toda a sua (inexistente) política de desenvolvimento.
Além da UE, o Brasil estará negociando com os EUA, o eixo em torno do qual gira a Alca (Área de Livre Comércio das Américas, que
pretende abranger os 34 países
americanos, a exceção de Cuba), e
com o planeta quase todo, na Rodada do Milênio da OMC.
É nesta última que o governo
brasileiro espera conseguir as concessões básicas da UE na área agrícola. O bloco europeu dificilmente
poderá resistir à pressão generalizada, principalmente dos EUA, para derrubar ao menos parte do
protecionismo em torno de seus
produtores agrícolas.
Obtidas tais concessões, o Brasil
poderá pedir, nas negociações bilaterais com os europeus, um
"plus", um adicional que não precisará valer para todos os países.
O raciocínio obtido pela Folha
no Itamaraty compõe o seguinte
teorema: 1) na Rodada do Milênio,
sairá o grosso das concessões agrícolas européias; 2) a partir daí, o
Brasil escolhe o tamanho do "plus"
que pode conseguir na negociação
direta; 3) mas o tamanho do "plus"
a ser pedido depende, acima de tudo, de idêntico "plus" a ser dado
aos europeus em matéria de abertura adicional do mercado brasileiro de bens industriais e também
de serviços (leia texto abaixo).
Posto de outra forma: para esse
conjunto de negociações, o Brasil
terá que se apresentar com um
projeto definido de desenvolvimento, de forma a saber o que abre
e o que protege. O governo já criou
um comitê interministerial para
estudar tais questões. Falta, agora,
incorporar empresários e trabalhadores às discussões.
Afinal não se trata de uma negociação diplomática, mas de empregos, de empresas nacionais e, até,
dos limites à soberania do país.
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