São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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Negociadores têm como meta evitar o "efeito México"

dos enviados especiais ao Rio

O México é o exemplo essencial do que tanto a União Européia como o Brasil querem evitar ao decidirem lançar as negociações para criar futuramente uma zona de livre comércio entre os dois blocos.
O lado europeu é explícito no uso do México como antiexemplo: trabalho preparado pela Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 15 países, cita números sobre a expansão das exportações norte-americanas para o México, desde a criação do Nafta (o acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México).
As compras mexicanas nos EUA pularam de US$ 41 bilhões, em 94 (criação do Nafta), para US$ 79 bilhões no ano passado.

Conclusão óbvia
Desses números, a UE extrai a seguinte e óbvia conclusão: "Este é o risco que podem correr os interesses da União Européia no caso da criação da Alca em 2005".
A Alca é a Área de Livre Comércio das Américas, com todos os países americanos, menos Cuba.
Do lado brasileiro, o México é citado apenas em conversas reservadas de seus altos funcionários, por meio da frase-padrão: "Não queremos ser o México".
Trata-se de alusão ao fato de que o comércio mexicano, nos dois sentidos, está praticamente todo concentrado nos EUA, ao passo que a diplomacia brasileira orgulha-se de o país comercializar bens em proporções parecidas com os grandes blocos.
Para evitar o efeito México, Brasil e UE trabalham com diferentes áreas de interesse.
O Brasil quer abrir o mercado europeu de produtos agrícolas e alimentares, uma área que já responde por 40% do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto, soma de riquezas produzidas por um país).

Lista ampla e diversificada
Já os europeus apresentam uma lista bem mais ampla e diversificada, mas que também passa pela área agrícola-alimentar.
Em queijos, por exemplo, a UE queixa-se de tarifas de importação, no Mercosul, oscilando entre 31% e 55%.
Mas a principal atração do mercado do Mercosul-Chile, para os europeus, é área industrial e de serviços.
O elenco de setores que a UE gostaria de abrir para sua produção é amplo, mas a lista começa por máquinas e equipamentos, veículos e material de transporte.
Nos serviços, transporte marítimo e telecomunicações são os dois alvos prioritários.
Tudo somado, conclui o documento europeu: "Atualmente, os EUA negociam no marco da Alca todos esses elementos. A ausência de um acordo com a UE beneficiará as exportações norte-americanas para o Mercosul e o Chile".
(CLÓVIS ROSSI e DENISE CRISPIM MARIN)


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