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REFORMA SOB PRESSÃO
Ministério envia por correio mais de 1 milhão de livretos para servidores públicos defendendo a reforma
Previdência gasta R$ 760 mil com cartilhas
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Previdência
gastou mais de R$ 760 mil para
enviar a servidores públicos cartilhas sobre o projeto do governo
de reforma da Previdência.
Além de o funcionalismo ser o
principal crítico do projeto de
emenda constitucional que propõe a reforma do sistema, a categoria é uma das maiores bases
eleitorais do PT, partido ao qual
também é filiado o ministro da
Previdência, Ricardo Berzoini.
A correspondência foi endereçada a pelo menos 1,7 milhão de
servidores ativos e inativos. De
acordo com dados do ministério,
foram pagos aos Correios R$ 0,44
por mensagem enviada.
Os R$ 763,6 mil gastos pelo governo com a propaganda são
maiores que o total previsto no
Orçamento para o acompanhamento de conflitos no campo e representa mais do triplo do que foi
gasto pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, no primeiro
semestre, com esse tipo de monitoramento -R$ 200 mil ou
42,19% do total autorizado.
A cartilha "Saiba Tudo sobre a
Nova Previdência do Servidor"
afirma que a reforma "é parte de
um grande projeto de reconstrução do Estado, previsto no programa do atual governo federal".
A mensagem faz parte de mais
um esforço do governo Lula para
deixar a opinião pública a favor
da reforma. Nela está escrito que
o atual sistema previdenciário é
"injusto" e precisa ser alterado.
Entre as críticas do funcionalismo à reforma da Previdência, estão a taxação dos inativos e o fim
do salário integral na aposentadoria e da paridade (reajuste igual
para funcionários da ativa e aposentados) aos novos servidores.
Segundo especialistas em direito administrativo, a publicidade
dos atos públicos é um dever do
governo previsto na Constituição.
O que não pode acontecer é o
agente público ganhar vantagem
em razão da divulgação de determinado ato de administração.
"Em tese, isso [o envio das cartilhas] faz parte da administração.
O material tem de ser analisado
para verificar se não há relação
entre a divulgação e pessoas que
possam ser beneficiadas", diz Jacintho Arruda Câmara, professor
de direito administrativo da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Já para Márcio
Pestana, também especialista na
área, as cartilhas têm propósito
esclarecedor. "O que me parece é
que tudo faz parte da campanha
para convencer os servidores sobre o projeto do governo."
A Prefeitura de São Paulo enviou, em 2001, cartas para 1,6 milhão de pessoas que foram isentas
do pagamento de IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano). Foi
barrada por decisão judicial
quando pretendia enviar mais
mensagens aos contribuintes que
teriam de pagar o imposto.
Em 2001, José Serra, então ministro da Saúde, enviou 3 milhões
de cartas que informavam a origem do pagamento dos tratamentos. O caso mais polêmico, contudo, envolve o ex-prefeito Paulo
Maluf. Em 1999, ele teve seus direitos políticos suspensos por ter
remetido, em 1993, cerca de 1 milhão de mensagens sobre projeto
de isenção de pagamento do IPTU à população de baixa renda. O
tribunal entendeu que o ex-prefeito havia agido em benefício
próprio. No entanto, a decisão
acabou sendo anulada em 2000.
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