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ALTA ESPIONAGEM
Daniel Dantas e Carla Cicco teriam contratado a Kroll para espionar a Telecom Italia
Banqueiro e executiva de tele vão ter de depor na PF
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal convocará para depor o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e a presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco.
A executiva contratou a Kroll para espionar a Telecom Italia, empresa com a qual a Brasil Telecom, controlada por Dantas, trava disputas comerciais e judiciais.
Procurados pela Folha, Dantas
e Cicco informaram, por intermédio de suas assessorias, que não
iriam se pronunciar sobre o caso.
A data da convocação dependerá de uma negociação entre a PF e
o Ministério Público Federal, com
anuência da Justiça Federal em
São Paulo, na qual tramita um inquérito cujo foco é a falência da
Parmalat.
Conforme revelou a Folha na
semana passada, ao investigar a
indústria alimentícia, a PF descobriu a contratação da Kroll e, com
base em monitoramento telefônico e telemático, foram levantados
fortes indícios de que, ao investigar a Telecom Italia, a empresa
praticou irregularidades e espionou autoridades brasileiras -como o ministro Luiz Gushiken
(Comunicação de Governo) e o
presidente do Banco do Brasil,
Cássio Casseb.
Procurada, a Kroll disse, por
meio de sua assessoria, que não
iria comentar o assunto.
O nome do espião
Pelos dados coletados até o momento, os personagens mais ativos no trabalho da Kroll relacionado à Telecom Italia foram o
português Tiago Verdial e o inglês
William Goodall, o Bill, que é
agente aposentado do serviço secreto britânico, o MI6, que ficou
famoso nos cinemas por ser o órgão que abrigava o espião James
Bond, o 007.
A Justiça já expedira mandados
de prisão contra ambos. Mas os
investigadores esperavam o melhor momento para executar as
ordens judiciais, o que aconteceria assim que houvesse mais elementos sobre um ponto crucial
da investigação: o grau de conhecimento que os contratantes tinham ou não sobre práticas ilegais que teriam sido cometidas
pela contratada.
Diante da reportagem da Folha,
optou-se por realizar a prisão de
Tiago, executada no último sábado, no Rio de Janeiro. Não há informações sobre o paradeiro de
Goodall.
A pista para a revelação da espionagem praticada pela Kroll no
setor de telecomunicações surgiu,
conforme a investigação, quando
Verdial, em contato com uma testemunha oficial do caso Parmalat
-Adelson Pugliese, que fora motorista da multinacional-, sugeriu pagá-lo por informações contra a empresa investigada, que seria de seu interesse, pois ele também as teria.
Monitorado, Verdial, em diálogos, troca de e-mail e, mais recentemente, em documentos e equipamentos apreendidos em sua residência e escritório no Rio de Janeiro, teria dado elementos que,
segundo investigadores do caso,
constituem indícios de que a Kroll
atuava à margem da lei.
Em dois depoimentos prestados à PF, em Brasília, conforme a
Folha apurou, a colaboração de
Verdial foi limitada. São apurados
indícios que imputam a ele prática de quebra de sigilo constitucional -recebeu por e-mail e repassou à Kroll declaração de renda
do presidente do Banco do Brasil-, formação de quadrilha, exploração de prestígio -teria extraído informações reservadas
usando de amizade com integrantes do governo- e corrupção ativa.
No dia 16 de julho, o vice-presidente de segurança da Telecom
Italia, Angelo Janonne, entregou à
PF dois relatórios -intitulados
Projeto Tóquio- produzidos pela Kroll e destinados à Brasil Telecom. Os papéis, segundo Janonne, chegaram anonimamente à
presidência da Telecom Italia.
Na ocasião, Janonne, além de
informar às autoridades policiais
sua disposição de tornar público o
caso de espionagem, entregou à
PF a gravação de uma entrevista
que ele fez com Verdial, que havia
se candidatado a uma vaga na Telecom Italia. No encontro, Verdial
respondeu "sim" ao ser perguntado por Janonne se Dantas e Cicco
haviam solicitado à Kroll a prática
de atos ilícitos.
Verdial pode ser condenado a
12 anos de reclusão caso fique
provado que ele corrompeu servidores para obter informações,
uma das acusações feitas pela PF
contra ele.
Essa é a pena máxima prevista
para o crime de corrupção ativa,
fixada pelo artigo 333 do Código
Penal. Além da reclusão, pode haver pena de multa.
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