São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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"Eu simplesmente emprestei o nome", afirma deputado

Alberto Fraga (DEM) diz que "não é da bancada de Dantas", porém reconhece amizade com o ex-cunhado do banqueiro

Congressista que entrou com uma representação em tribunal fala que não sabia que escritório que o "ajudou" foi contratado pela BrT


DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal licenciado e atual secretário de Transportes do governo do Distrito Federal, Alberto Fraga (DEM-DF), disse, em entrevista por telefone à Folha, na última quarta-feira, que o escritório de advocacia Menezes & Vieira, contratado pela Brasil Telecom, "confeccionou" a representação ingressada em nome do parlamentar no TCU. Fraga disse que o assunto tinha "relevante" interesse público e social. A seguir, trechos da entrevista. (RUBENS VALENTE)

 

FOLHA - Como foi o trabalho do escritório de advocacia Menezes & Vieira junto à representação que o sr. fez no TCU em 2005?
ALBERTO FRAGA
- O escritório foi contratado, eu fiz a ação, entrei com a ação, a princípio recebi uma comunicação de uns funcionários da Brasil Telecom denunciando o contrato "put", que era um contrato que causava um prejuízo para os aposentados, no caso aí os fundos de pensão.
E, como todos nós sabemos, o quanto isso é necessário, uma ação competente, à altura. E por isso que houve essa contratação desse escritório.

FOLHA - Que tipo de ajuda o escritório lhe deu, efetivamente, para ficar claro?
FRAGA
- Ajuda? Nenhuma.

FOLHA - Que tipo de serviço ele prestou?
FRAGA
- Quem providenciou a ação, quem confeccionou a ação foram eles, né.

FOLHA - Foi o escritório Menezes & Vieira?
FRAGA
- É. Pra falar a verdade, eu não lembro do nome do escritório. Essa ação parece que foi em 2004 ou 2005, eu não me recordo. Eu me lembro que a gente tinha, comecei com um empresário, com um advogado, depois contratamos... contratei outro escritório. Mas não lembro exatamente dos nomes.

FOLHA - Esse escritório que fez a ação, confeccionou a ação, lhe procurou? Como foi o início?
FRAGA
- Eu acho que eu fui apresentado por um amigo, não lembro quem foi no momento, mas eu lembro que eu estava preparando a ação, e esse escritório me foi apresentado para que pudesse me ajudar.

FOLHA - A Câmara dos Deputados não pode fornecer esse tipo de apoio jurídico para esses casos?
FRAGA
- Mas foi o que eu fiz. Na verdade, a ação foi quase toda feita por mim e por, por, por meu chefe-de-gabinete, e aí o advogado desse escritório só deu uma forma, deu uma melhorada, vamos dizer assim. Mas quem criou, quem fez a ação, fomos nós. Agora, eles que... evidentemente depois foi feito um crivo desse escritório.

FOLHA - O sr. sabia que o escritório era contratado pela Brasil Telecom?
FRAGA
- Não, não sabia. O... Um dos funcionários que tinha me avisado, que tinha pedido ajuda, tinha dito exatamente isso: "Não, a gente arruma um jeito de dar uma ajuda pra você". Porque eu não ia pagar honorários. Então aí ficou de fazer... Pode ser que a vinculação esteja exatamente aí. O que eu posso dizer é o seguinte: eu não sei como é que foi feito isso. Agora, o assunto era de grande relevância.

FOLHA - E o desfecho do caso, como foi, na sua avaliação?
FRAGA
- Pelo que sei, teve uma posição favorável e depois o ministro mudou de posição, não se sabe por que mudou o parecer. E aí eu não acompanhei, eu saí, pedi licenciamento para entrar na secretaria.

FOLHA - O sr. conhece o banqueiro Daniel Dantas?
FRAGA
- Não. Conheço assim: o conheci quando estava na CPI [dos Correios], quando ele foi depor lá. Eu não sou da bancada do Daniel Dantas, como o PT estava dizendo. A ação que eu defendi, e defendo, é que o contrato chamado "put" é escandaloso, que geraria prejuízos para os aposentados. Tanto é que havia denúncia em cima de denúncia. Esse era meu envolvimento. Quando fui procurado por esses dois engenheiros de telecomunicações, me pediram essa ajuda. Eu simplesmente emprestei o nome e falei: "Vou entrar, não tem nenhum problema". Não tenho ligação com Daniel Dantas, se tivesse, falaria, sem nenhum problema.
Sou muito amigo do cunhado dele, o Carlos Rodenburg. Nos conhecemos no Congresso, através de outro amigo meu em comum, um deputado do Paraná. Tenho muito apreço pelo Rodenburg.

FOLHA - Quem foram esses funcionários da BrT que o procuraram?
FRAGA
- O nome dos engenheiros não é bom citar, não, porque, imagina você, eles trabalham até hoje, serão demitidos com certeza. Se na época eu preservei... Quando eles me procuraram, procuraram numa comissão para não se expor. Se eu falar agora é a mesma coisa dos caras perderem o emprego, na hora.

FOLHA - O sr. conversou sobre essa representação com Carlos Rodenburg?
FRAGA
- Não especificamente. Mas eu já tinha entrado com uma ação quando comecei a conversar com ele, e não houve nenhuma ligação. Não houve nenhuma persuasão por parte dele, se é isso que você está querendo saber.


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