São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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Barba e bigode

Sérgio Lima/Folha Imagem
Em sua casa em Brasília, o senador José Sarney cumprimenta o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva


Sarney declara apoio a Lula, que une à sua base um símbolo do poder oligárquico ao qual se opôs desde a década de 80

RAQUEL ULHÔA
KENNEDY ALENCAR
SILVIA FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente José Sarney, senador pelo PMDB do Amapá, declarou ontem apoio público a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a Folha apurou, Sarney será consultado na formação de um eventual governo. O senador tentará atrair mais peemedebistas e dará seu aval perante a comunidade internacional e os militares.
Sarney, que presidiu o país (1985-90) sob a oposição ferrenha do PT, elogiou seu novo aliado: "O Lula é a melhor solução para o país neste momento".
O ex-presidente entra formalmente na campanha, embora sem subir em palanque. "Acho que posso ser muito útil, posso colaborar no sentido de conversar e dialogar com as áreas externas e com alguns setores do país, como partidários e militares."
Sarney também tentará levar o PMDB como um todo para Lula no segundo turno. O partido está aliado ao candidato do PSDB, José Serra, mas, se o tucano não passar ao segundo turno, a cúpula tende a apoiar Lula. Sarney pretende fazer essa articulação.
"Quando o PMDB decidiu apoiar o outro candidato, tive a oportunidade de dizer que era errado. O PMDB tem uma boa oportunidade, no segundo turno, de ser uma ponte decisiva para que possamos ter um momento de tranquilidade."
"Com esse conjunto de forças com o Luiz Inácio, ele certamente ganhará as eleições. Isso é uma coisa importantíssima para o Brasil. Ele, com sua biografia, que é muito rica, que seduz, é um orgulho para o Brasil. É um retirante saído das secas, que vai para São Paulo e se constitui nessa liderança nacional, trabalhador", disse.
Lula agradeceu: "É sempre gratificante perceber que as rejeições estão caindo e que os preconceitos estão sendo quebrados". Para ele, que já tem o apoio do ex-presidente Itamar Franco (93-94), a aliança com Sarney "mostra que o PT não está preocupado apenas em ganhar a eleição, mas em ter condições para governar".
Lula disse ainda que não se sente "incomodado" com o apoio de Sarney por ter o PT feito oposição ao governo do ex-presidente. "Houve uma evolução minha, do PT e do empresariado."
Na cúpula petista, é dado como certo que Sarney e Itamar farão indicações para o ministério. A intenção de Lula é obter agora o maior possível dos dissidentes do PMDB -hoje cerca de 30% do partido- para tentar ampliar essa aliança no segundo turno.
Sarney pretende reforçar a imagem moderada de Lula. O senador, que também responsabiliza Serra pela desestabilização da pré-candidatura de sua filha, a ex-governadora Roseana Sarney (PFL-MA), decidiu apoiar Lula como retaliação ao PSDB.
"O Brasil hoje está muito dividido. E ele [Lula], com sua experiência de negociação, pode ser uma fonte de estabilidade e não de instabilidade. Pelo diálogo que ele pode estabelecer com as centrais sindicais, à sociedade civil e aos trabalhadores e pela capacidade de aliviar as tensões junto aos homens do campo, acredito que pode fazer o pacto social. E ele acaba de me dizer que vai marchar para isso", disse Sarney.
O apoio de Sarney a Lula foi formalizado pelo ex-presidente em sua casa de Brasília, após conversar por uma hora com o presidenciável, o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), e o candidato a vice-presidente, senador José Alencar (PL-MG). Dirceu foi o grande articulador do apoio.
Por enquanto, Roseana não deverá seguir o pai. Segundo aliados dela, a ex-governadora e seu grupo no Estado deverão votar no primeiro turno no candidato que tiver mais condições de evitar que Serra vá para o segundo turno.
Um eventual apoio ao candidato Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, poderá não ser formalizado, porque seu principal adversário no Maranhão é Jackson Lago, do PDT, e se opõe à aliança.
Sarney disse ter ficado ""sensibilizado" com um compromisso assumido por Lula na conversa de ontem: estudar a possibilidade de retomar o programa do seu governo de distribuir cupons para famílias carentes trocarem por leite. A ação, segundo Lula, é um dos pontos que constam de seu programa de combate à fome.
"Não vou falar os elogios que ele nos fez porque aí seria falta de humildade, seria presunção de minha parte" afirmou Lula, horas depois, em Uberlândia.


Colaborou a Agência Folha, em Uberlândia



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