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Barba e bigode
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Em sua casa em Brasília, o senador José Sarney cumprimenta o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva |
Sarney declara apoio a Lula, que une à sua base um símbolo do poder oligárquico ao qual se opôs desde a década de 80
RAQUEL ULHÔA
KENNEDY ALENCAR
SILVIA FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-presidente José Sarney, senador pelo PMDB do Amapá, declarou ontem apoio público a Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a Folha apurou, Sarney será
consultado na formação de um eventual governo. O senador tentará atrair mais peemedebistas e dará seu aval perante a comunidade internacional e os militares.
Sarney, que presidiu o país
(1985-90) sob a oposição ferrenha
do PT, elogiou seu novo aliado:
"O Lula é a melhor solução para o
país neste momento".
O ex-presidente entra formalmente na campanha, embora sem
subir em palanque. "Acho que
posso ser muito útil, posso colaborar no sentido de conversar e
dialogar com as áreas externas e
com alguns setores do país, como
partidários e militares."
Sarney também tentará levar o
PMDB como um todo para Lula
no segundo turno. O partido está
aliado ao candidato do PSDB, José Serra, mas, se o tucano não passar ao segundo turno, a cúpula tende a apoiar Lula. Sarney pretende fazer essa articulação.
"Quando o PMDB decidiu
apoiar o outro candidato, tive a
oportunidade de dizer que era errado. O PMDB tem uma boa
oportunidade, no segundo turno,
de ser uma ponte decisiva para
que possamos ter um momento
de tranquilidade."
"Com esse conjunto de forças
com o Luiz Inácio, ele certamente
ganhará as eleições. Isso é uma
coisa importantíssima para o Brasil. Ele, com sua biografia, que é
muito rica, que seduz, é um orgulho para o Brasil. É um retirante
saído das secas, que vai para São
Paulo e se constitui nessa liderança nacional, trabalhador", disse.
Lula agradeceu: "É sempre gratificante perceber que as rejeições
estão caindo e que os preconceitos estão sendo quebrados". Para
ele, que já tem o apoio do ex-presidente Itamar Franco (93-94), a
aliança com Sarney "mostra que o
PT não está preocupado apenas
em ganhar a eleição, mas em ter
condições para governar".
Lula disse ainda que não se sente "incomodado" com o apoio de
Sarney por ter o PT feito oposição
ao governo do ex-presidente.
"Houve uma evolução minha, do
PT e do empresariado."
Na cúpula petista, é dado como
certo que Sarney e Itamar farão
indicações para o ministério. A
intenção de Lula é obter agora o
maior possível dos dissidentes do
PMDB -hoje cerca de 30% do
partido- para tentar ampliar essa aliança no segundo turno.
Sarney pretende reforçar a imagem moderada de Lula. O senador, que também responsabiliza
Serra pela desestabilização da
pré-candidatura de sua filha, a ex-governadora Roseana Sarney
(PFL-MA), decidiu apoiar Lula
como retaliação ao PSDB.
"O Brasil hoje está muito dividido. E ele [Lula], com sua experiência de negociação, pode ser
uma fonte de estabilidade e não
de instabilidade. Pelo diálogo que
ele pode estabelecer com as centrais sindicais, à sociedade civil e
aos trabalhadores e pela capacidade de aliviar as tensões junto
aos homens do campo, acredito
que pode fazer o pacto social. E ele
acaba de me dizer que vai marchar para isso", disse Sarney.
O apoio de Sarney a Lula foi formalizado pelo ex-presidente em
sua casa de Brasília, após conversar por uma hora com o presidenciável, o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), e o candidato a vice-presidente, senador
José Alencar (PL-MG). Dirceu foi
o grande articulador do apoio.
Por enquanto, Roseana não deverá seguir o pai. Segundo aliados
dela, a ex-governadora e seu grupo no Estado deverão votar no
primeiro turno no candidato que
tiver mais condições de evitar que
Serra vá para o segundo turno.
Um eventual apoio ao candidato Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, poderá não ser formalizado, porque seu principal adversário no Maranhão é Jackson Lago,
do PDT, e se opõe à aliança.
Sarney disse ter ficado ""sensibilizado" com um compromisso assumido por Lula na conversa de
ontem: estudar a possibilidade de
retomar o programa do seu governo de distribuir cupons para
famílias carentes trocarem por
leite. A ação, segundo Lula, é um
dos pontos que constam de seu
programa de combate à fome.
"Não vou falar os elogios que ele
nos fez porque aí seria falta de humildade, seria presunção de minha parte" afirmou Lula, horas
depois, em Uberlândia.
Colaborou a Agência Folha,
em Uberlândia
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