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REFORMA AOS PEDAÇOS
Pressão de Estados obriga Planalto a rever projeto aprovado
Governo recua e cria comissão para alterar texto tributário
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Menos de 24 horas depois de
aprovar o texto básico da reforma
tributária, o governo cedeu à
pressão dos governadores e reabriu negociações para alterar a
proposta votada anteontem em
comissão especial da Câmara.
Com o recuo, o Planalto tenta viabilizar a votação do projeto no
plenário já na próxima semana.
Em reunião com 17 governadores e oito representantes dos Estados, o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), e líderes
partidários, foi criada uma comissão paritária com dez integrantes
para redigir a proposta de alteração que será levada ao plenário,
talvez na próxima quarta-feira.
Em princípio, a comissão, integrada por representantes dos Estados e dos partidos, deveria só
alinhavar alguns pedidos dos governadores com os quais o Planalto concorda. Na prática, deve
abordar outros temas que contrariaram os Estados no relatório de
Virgílio Guimarães (PT-MG), como a definição das alíquotas para
operações interestaduais do
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços).
O governo concorda em ceder
em dois pontos: a constitucionalização do fundo para compensar
os Estados por perdas decorrentes da Lei Kandir (desoneração
das exportações) e a cessão de
25% da Cide (tributo cobrado sobre a venda de combustíveis), hoje da União, aos Estados.
Dois outros itens podem ser
acrescentados: a devolução de
parte do Pasep (tributo que o governo federal cobra dos Estados)
e, no limite, se o governo se convencer de que não aprova a proposta como ela está, parte da
CPMF (o chamado imposto do
cheque) no que exceder a arrecadação prevista para 2004.
Rombo
Nos cálculos do deputado Paulo
Bernardo (PT-PR), um dos cinco
integrantes do Legislativo na comissão, se todos os pedidos dos
Estados forem atendidos, a União
ficará com um rombo de cerca de
R$ 17 bilhões. A primeira reunião
da comissão paritária foi realizada ontem mesmo. A idéia é que a
"emenda dos governadores" fique pronta até terça-feira.
"Se não for suficiente, vai ter
que estender o prazo. Existem
bancadas que não vão votar a reforma do jeito que está", disse a
governadora Rio de Janeiro, Rosinha Matheus (PMDB).
A reabertura da negociação é
um novo revés para o governo na
tramitação da reforma. A intenção era votar um texto básico na
Câmara e deixar as negociações
para o Senado. Os governadores
se opuseram e até ajudaram a esvaziar a Câmara no dia anterior,
para que não houvesse a votação
do segundo turno da reforma da
Previdência. Foi um sinal.
O temor dos Estados é que o governo assegure o que lhe interessa, a prorrogação da CPMF e da
DRU (Desvinculação de Receitas
da União), e deixe questões como
a constitucionalização do fundo
de compensações da Lei Kandir
entregues à própria sorte. Por isso, querem que a proposta saia da
Câmara com uma solução encaminhada. "Subscrevemos a PEC
[proposta de emenda à Constituição], mas, nos termos em que saiu
da comissão, não interessa aos Estados", disse o governador Marconi Perillo (PSDB-GO).
Na reunião, os governadores
ameaçaram não permitir a votação do texto sem um entendimento prévio. O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) acha
que agora ocorrerá um processo
semelhante ao que ocorreu na reforma da Previdência, quando os
líderes partidários fizeram um
acordão com as partes envolvidas, algumas vezes até contra a
vontade manifesta do Planalto.
Para afastar os temores de que a
reforma vai elevar a carga tributária, o governo estuda colocar na
emenda aglutinativa (proposta de
alteração do texto) os limites para
a definição das cinco alíquotas do
ICMS pelo Senado. De acordo
com o relator Virgílio Guimarães,
os tetos seriam de 25%, 15%, 12%
e 4%. "O Senado definiria os produtos para cada alíquota."
No cronograma estabelecido
para a tramitação do projeto, o 1º
turno na Câmara ocorreria na
quarta-feira, dia 3, e o 2º turno, no
dia 16 ou 17. A proposta seria então encaminhada ao Senado, que
votaria a reforma em 1º e 2º turnos até 26 ou 27 de outubro.
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