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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ESTRATÉGIA DE DEFESA
Para tentar evitar cassação, ex-ministro dirá que não teve responsabilidade por atos do PT e acusará PSDB e PFL de também fazer caixa 2
Dirceu tenta se desvincular de Delúbio
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dizendo-se disposto a escrever
um livro sobre seus 30 meses de
governo -dos quais, confessa,
sente saudade -, o ex-chefe da
Casa Civil José Dirceu volta à cena
com apetite para briga, dentro ou
fora do PT. A primeira delas é para defender sua biografia. Dirceu
já avisou a petistas que não assumirá erros que atribui a pessoas
que comandavam o partido enquanto estava no governo.
"Do Lula ao faxineiro do PT, todo mundo sabe: essa conta do Delúbio eu não vou pagar", afirma.
Dirceu insiste que o ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares e o ex-secretário do partido Silvio Pereira
não eram de seu grupo político
-apesar de serem freqüentes, até
hoje, os contatos entre os três.
Oriundo do meio sindical, como o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, Delúbio chegou ao comando do PT via CUT. Foi tesoureiro da entidade e, depois, assumiu a secretaria sindical do partido. Em 2002, viajou ao lado de Lula e do vice-presidente José Alencar pelo Nordeste antes da costura da aliança PT-PL. No governo,
demonstrou proximidade com o
presidente -viajou para a África
na comitiva oficial e, em 2003, foi
fotografado segurando uma cigarrilha que Lula fumava às escondidas numa audiência.
Além de negar vínculos com
Delúbio e Pereira, Dirceu manifesta disposição para explicitar
acusações contra o PSDB e o PFL
de que também adotaram caixa
dois nas campanhas de 1998 (Minas Gerais) e 2002 (nacional). Ele
lamenta que o governo não tenha
optado por um discurso mais
agressivo e tem dito: "O PT não
roubou. Não tem dinheiro de empresa, de estatal. Tem dinheiro
emprestado no banco".
Embora não se mostre esperançoso quanto às chances de evitar
sua cassação, ele retomou o velho
ritmo de articulação: conversa
freqüentemente com o comando
do Congresso, a ponto de ter telefonado para os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), da Câmara, Severino Cavalcati (PP-PE), e da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS),
para protestar contra a convocação dos banqueiros Gustavo Marinho e Daniel Dantas. Segundo
ele, a decisão abala a imagem do
país no exterior.
Ainda segundo interlocutores,
Dirceu fala constantemente com
os ministros da Coordenação Política, Jaques Wagner, da Fazenda,
Antonio Palocci, e da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos. Com Lula, "o mínimo necessário".
Ameaçado de perder o mandato, o ex-ministro partirá para o
ataque contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das
acusações que o derrubaram, e
também contra correligionários
como o presidente do partido,
Tarso Genro, e o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(SP), a quem aponta como arquiteto da campanha para retirada
de seu nome da chapa do Campo
Majoritário nas eleições internas
de 19 de setembro.
Até ontem, Dirceu resistia a sair
da chapa do Campo Majoritário
para viabilizar a candidatura de
Tarso à reeleição. Segundo ele,
Tarso cometeu um suicídio ao
impor sua saída como condição
para manter-se na disputa. Nas
conversas com petistas, ele avisa
ainda que existe uma articulação
para incluir Tarso e o prefeito de
Belo Horizonte, Fernando Pimentel, entre os investigados pela
comissão de ética do PT por terem sido supostamente beneficiados por dinheiro de caixa dois.
Quanto a Jefferson, avisa: "Ainda não falei publicamente de todas as nomeações que ele me pediu e eu não dei. O ódio dele por
mim é esse".
Em toda conversa, Dirceu se esforça para rechaçar qualquer
idéia de ressentimento em relação
a Lula. "O presidente não me deve
nada. Sei me defender sozinho.
Ele tem que cuidar do governo."
Lealdade a Lula
A interlocutores, o ex-ministro
afirma que pensou em deixar o
governo já em outubro de 2004,
após o fracasso de mais uma tentativa de reforma ministerial.
"Outubro a julho, sem maioria na
Câmara e no Senado, só poderia
dar em crise. Se o Alckmin ficar
três meses sem maioria na Assembléia, sai CPI e leva a impeachment."
Em março de 2005, também
pensou em deixar o governo, mas
ficou pelo que descreve como
"uma mistura de cristianismo, judaísmo, stalinismo e lealdade a
Lula". "Quando falei para ele [Lula] "não dá mais", ele disse "vamos
acertar como você vai sair". Eu falei: amanhã [segunda-feira]. Ele
me segurou até quarta e Roberto
Jefferson fez aquilo comigo", lamenta, numa referência ao fato de
o petebista ter dado um ultimato,
pela televisão, para que ele deixasse o governo antes de "prejudicar
um inocente" -o presidente.
Na nascente de sua insatisfação,
a política econômica: "Talvez pudesse ter tido uma política de juros diferente. Em vez de 19,5%,
13%. Esse risco, Lula não quis correr. O Lula é muito conservador".
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