São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Para parlamentares, Juscelino Dourado pode ter sido ponte de Buratti para tráfico de influência; oposição quer convocar ministro

CPI suspeita de chefe-de-gabinete de Palocci

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

A CPI dos Bingos suspeita que Juscelino Antonio Dourado, chefe-de-gabinete do ministro Antonio Palocci (Fazenda), era usado pelo advogado Rogério Tadeu Buratti para tráfico de influência no ministério. Devido à suspeita, Dourado foi convocado para depor terça-feira na CPI. Senadores de oposição querem também a convocação de Palocci.
"Eu diria que ele [Dourado] facilitava a vida de Buratti dentro do ministério. Era quem marcava com o ministro as audiências que Buratti solicitava", afirmou o presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PFL-PB). O senador não vê, por enquanto, razão para convocar Palocci.
O artigo 332 do Código Penal define tráfico de influência como o crime de "solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função". A pena prevista é de reclusão de dois a cinco anos.
A CPI recebeu na semana passada, do Ministério Público Estadual, escutas telefônicas feitas com autorização judicial no telefone de Buratti, em 2004. As gravações apontam conversas com representantes de empresas interessadas em chegar ao ministro. O caminho para agendar o encontro seria "Jota", que, segundo o Ministério Público Estadual, é uma referência a Dourado.
A assessoria de imprensa do ministério não respondeu na última sexta-feira a questionamentos feitos a Dourado. A reportagem perguntou qual a ligação dele com Buratti e se o chefe-de-gabinete comparecerá terça-feira na CPI.
Em nota divulgada na quarta-feira, Dourado confirmou ter recebido nove visitas de Buratti no ministério. Os encontros, segundo a nota, não "significam acesso por parte do senhor Buratti a nenhum tipo de benefício quanto a serviços ou contratos junto ao governo federal".
Ex-secretário de Governo de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto em 1993 e 1994, Buratti acusa o ministro de ter recebido R$ 50 mil mensais em propina em 2001 e 2002 (seu segundo mandato) da empresa Leão Leão, da área de coleta de lixo. Palocci nega e afasta a possibilidade de tráfico de influência no ministério.

Amigos
Em depoimento à CPI dos Bingos, Buratti defendeu Dourado. "Eu tenho um relacionamento muito forte no Ministério da Fazenda com o Juscelino Dourado, que é um amigo meu de 15 anos. Sou padrinho de casamento dele. Mas nunca tratei de negócios [no ministério]."
Uma escuta telefônica do dia 26 de julho de 2004 contradiz Buratti. Na gravação, ele fala com o executivo Luiz Pacola, da empresa Leão Leão, cujos diretores tentam um encontro com o ministro.
"Sobre o negócio de Brasília, eu conversei com ele e ele vai estar em Ribeirão amanhã, né? Ele vai marcar, eu só acho interessante você dar uma ligada para o chefe-de-gabinete." Meia hora depois, Pacola retorna: "Olha, eu falei com o chefe-de-gabinete, ele vai tentar marcar, sim. É só uma questão de agenda mesmo".
Na CPI, quinta-feira passada, Buratti explicou a conversa. "A Leão Leão havia pedido para eu conversar com Ademirson [Ariovaldo da Silva], que é o secretário particular do ministro, para que agendasse de fato um encontro entre a empresa e o ministro. Não sei se o encontro houve ou não", afirmou Buratti.
Ainda à CPI, Buratti afirmou que, quando queria falar com Palocci, ligava para o celular de Ademirson em 2003.
Em entrevista à Folha, antes de acusar Palocci no dia 9 de agosto, Buratti havia dito ter obtido "ajuda" de Dourado para marcar pelo menos uma audiência da Leão Leão com a presidência da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, e para receber "orientações sobre como conseguir um documento federal".
A assessoria da BR confirmou a audiência, mas negou que Dourado tenha atuado para agendar o encontro.


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