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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Para parlamentares, Juscelino Dourado pode ter sido ponte de Buratti para tráfico de influência; oposição quer convocar ministro
CPI suspeita de chefe-de-gabinete de Palocci
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A CPI dos Bingos suspeita que
Juscelino Antonio Dourado, chefe-de-gabinete do ministro Antonio Palocci (Fazenda), era usado
pelo advogado Rogério Tadeu
Buratti para tráfico de influência
no ministério. Devido à suspeita,
Dourado foi convocado para depor terça-feira na CPI. Senadores
de oposição querem também a
convocação de Palocci.
"Eu diria que ele [Dourado] facilitava a vida de Buratti dentro do
ministério. Era quem marcava
com o ministro as audiências que
Buratti solicitava", afirmou o presidente da CPI dos Bingos, Efraim
Morais (PFL-PB). O senador não
vê, por enquanto, razão para convocar Palocci.
O artigo 332 do Código Penal
define tráfico de influência como
o crime de "solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
vantagem, a pretexto de influir
em ato praticado por funcionário
público no exercício da função".
A pena prevista é de reclusão de
dois a cinco anos.
A CPI recebeu na semana passada, do Ministério Público Estadual, escutas telefônicas feitas
com autorização judicial no telefone de Buratti, em 2004. As gravações apontam conversas com
representantes de empresas interessadas em chegar ao ministro. O
caminho para agendar o encontro
seria "Jota", que, segundo o Ministério Público Estadual, é uma
referência a Dourado.
A assessoria de imprensa do ministério não respondeu na última
sexta-feira a questionamentos feitos a Dourado. A reportagem perguntou qual a ligação dele com
Buratti e se o chefe-de-gabinete
comparecerá terça-feira na CPI.
Em nota divulgada na quarta-feira, Dourado confirmou ter recebido nove visitas de Buratti no
ministério. Os encontros, segundo a nota, não "significam acesso
por parte do senhor Buratti a nenhum tipo de benefício quanto a
serviços ou contratos junto ao governo federal".
Ex-secretário de Governo de Palocci na Prefeitura de Ribeirão
Preto em 1993 e 1994, Buratti acusa o ministro de ter recebido R$
50 mil mensais em propina em
2001 e 2002 (seu segundo mandato) da empresa Leão Leão, da área
de coleta de lixo. Palocci nega e
afasta a possibilidade de tráfico de
influência no ministério.
Amigos
Em depoimento à CPI dos Bingos, Buratti defendeu Dourado.
"Eu tenho um relacionamento
muito forte no Ministério da Fazenda com o Juscelino Dourado,
que é um amigo meu de 15 anos.
Sou padrinho de casamento dele.
Mas nunca tratei de negócios [no
ministério]."
Uma escuta telefônica do dia 26
de julho de 2004 contradiz Buratti. Na gravação, ele fala com o executivo Luiz Pacola, da empresa
Leão Leão, cujos diretores tentam
um encontro com o ministro.
"Sobre o negócio de Brasília, eu
conversei com ele e ele vai estar
em Ribeirão amanhã, né? Ele vai
marcar, eu só acho interessante
você dar uma ligada para o chefe-de-gabinete." Meia hora depois,
Pacola retorna: "Olha, eu falei
com o chefe-de-gabinete, ele vai
tentar marcar, sim. É só uma
questão de agenda mesmo".
Na CPI, quinta-feira passada,
Buratti explicou a conversa. "A
Leão Leão havia pedido para eu
conversar com Ademirson [Ariovaldo da Silva], que é o secretário
particular do ministro, para que
agendasse de fato um encontro
entre a empresa e o ministro. Não
sei se o encontro houve ou não",
afirmou Buratti.
Ainda à CPI, Buratti afirmou
que, quando queria falar com Palocci, ligava para o celular de Ademirson em 2003.
Em entrevista à Folha, antes de
acusar Palocci no dia 9 de agosto,
Buratti havia dito ter obtido "ajuda" de Dourado para marcar pelo
menos uma audiência da Leão
Leão com a presidência da BR
Distribuidora, uma subsidiária da
Petrobras, e para receber "orientações sobre como conseguir um
documento federal".
A assessoria da BR confirmou a
audiência, mas negou que Dourado tenha atuado para agendar o
encontro.
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