São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Advogado afirma ter solicitado audiência com o ministro para a empresa Somague; ministério confirma ocorrência do encontro

Buratti diz ter levado empresário a Palocci

RUBENS VALENTE
CONRADO CORSALETTE
ENVIADOS A RIBEIRÃO PRETO

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Após dois desmentidos, o gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu ter ocorrido audiência entre o ministro e João Vaz Guedes, presidente do grupo português de construção civil Somague, no dia 13 de maio de 2003. O advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro, afirma ter requisitado o encontro.
O ministério não confirma que a agenda atendeu a um pedido de Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto entre 1993 e 1994. Se confirmada a versão do advogado, ela contradiz um trecho da entrevista concedida por Palocci, no último domingo.
"A agenda do Ministério da Fazenda e os procedimentos de reuniões do Ministério da Fazenda não estão sujeitos a contatos pessoais. (...) Esse ministério não é uma república de amigos, esse ministério tem instituições extremamente fortes", afirmou Palocci. Ele rebatia reportagens que apontavam suposto lobby feito por Buratti no gabinete do ministro para agendar reuniões com empresários.
O ministério só reconheceu a reunião com os empresários portugueses na noite da última sexta-feira, após ser informado de duas entrevistas concedidas à Folha por representante do grupo Somague no Brasil e por Buratti. Ambos confirmaram o encontro.
A audiência foi pedida por Buratti "diretamente", segundo ele, ao chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, de quem Buratti é padrinho de casamento e ex-sócio. "Liguei para o Juscelino, pedindo a audiência. Ele mandou eu mandar um e-mail, que a Somague mandasse o e-mail, que ele iria conversar com o ministro e, com certeza, o ministro receberia", disse Buratti.
O grupo Somague tem ativos de 130 milhões e atua em concessões públicas e obras de infra-estrutura. É associado da empresa Leão Leão numa concessionária de rodovias de São Paulo, a Triângulo do Sol.

Desmentidos
Os desmentidos do Ministério da Fazenda ocorreram ao longo da semana. Na terça-feira, a Folha quis saber se o ministro havia se encontrado com representante do grupo Somague, indicando que tal informação fora dada por Buratti. A primeira resposta, assinada pelo chefe-de-gabinete, Juscelino Dourado, dizia: "Fizemos pesquisa no nosso sistema de gerenciamento da agenda do ministro da Fazenda e não consta audiência para o grupo Somague".
Na quinta-feira, o presidente do grupo no Brasil, Rui Vieira de Sá, confirmou a reunião de 13 de maio de 2003. "Pelo menos uma reunião com o ministro tivemos, sim", afirmou o executivo. Segundo ele, o objetivo foi tratar de interesses estratégicos e investimentos da empresa no país.
Procurado de novo na quinta-feira, o ministério emitiu a segunda negativa, por meio de sua assessoria. "Realizamos nova pesquisa no sistema de agenda do ministro Palocci desde 1º de janeiro de 2003 e não encontramos nenhum registro de audiência com a empresa Somague. Pode estar havendo alguma confusão, pois nos dias 2 e 5 de julho deste ano o sr. Ruy [sic] Vieira, presidente da Somague no Brasil, solicitou junto à chefia de gabinete do ministro Palocci audiência para o presidente mundial da Somague. Reunião esta que não ocorreu até o presente momento."
A reportagem voltou a insistir. Na sexta-feira, Buratti voltou a confirmar o encontro. À noite, o ministério admitiu: "Fizemos novamente a pesquisa no sistema de agenda, agora com a data específica, e encontramos às 17h do dia 13 de maio de 2003 uma audiência para João Vaz Guedes, porém não constava o nome da empresa. Ligamos na empresa Somague e constatamos que João Vaz Guedes é presidente da Somague Internacional em Portugal, que na ocasião apresentou o plano estratégico de investimento do grupo português no Brasil".


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