|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Advogado afirma ter solicitado audiência com o ministro para a empresa Somague; ministério confirma ocorrência do encontro
Buratti diz ter levado empresário a Palocci
RUBENS VALENTE
CONRADO CORSALETTE
ENVIADOS A RIBEIRÃO PRETO
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Após dois desmentidos, o gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu ter ocorrido audiência entre o ministro e
João Vaz Guedes, presidente do
grupo português de construção
civil Somague, no dia 13 de maio
de 2003. O advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro,
afirma ter requisitado o encontro.
O ministério não confirma que
a agenda atendeu a um pedido de
Buratti, ex-secretário de Governo
de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto entre 1993 e 1994. Se
confirmada a versão do advogado, ela contradiz um trecho da entrevista concedida por Palocci, no
último domingo.
"A agenda do Ministério da Fazenda e os procedimentos de reuniões do Ministério da Fazenda
não estão sujeitos a contatos pessoais. (...) Esse ministério não é
uma república de amigos, esse
ministério tem instituições extremamente fortes", afirmou Palocci. Ele rebatia reportagens que
apontavam suposto lobby feito
por Buratti no gabinete do ministro para agendar reuniões com
empresários.
O ministério só reconheceu a
reunião com os empresários portugueses na noite da última sexta-feira, após ser informado de duas
entrevistas concedidas à Folha
por representante do grupo Somague no Brasil e por Buratti.
Ambos confirmaram o encontro.
A audiência foi pedida por Buratti "diretamente", segundo ele,
ao chefe-de-gabinete de Palocci,
Juscelino Dourado, de quem Buratti é padrinho de casamento e
ex-sócio. "Liguei para o Juscelino,
pedindo a audiência. Ele mandou
eu mandar um e-mail, que a Somague mandasse o e-mail, que ele
iria conversar com o ministro e,
com certeza, o ministro receberia", disse Buratti.
O grupo Somague tem ativos de
130 milhões e atua em concessões públicas e obras de infra-estrutura. É associado da empresa
Leão Leão numa concessionária
de rodovias de São Paulo, a Triângulo do Sol.
Desmentidos
Os desmentidos do Ministério
da Fazenda ocorreram ao longo
da semana. Na terça-feira, a Folha
quis saber se o ministro havia se
encontrado com representante do
grupo Somague, indicando que
tal informação fora dada por Buratti. A primeira resposta, assinada pelo chefe-de-gabinete, Juscelino Dourado, dizia: "Fizemos
pesquisa no nosso sistema de gerenciamento da agenda do ministro da Fazenda e não consta audiência para o grupo Somague".
Na quinta-feira, o presidente do
grupo no Brasil, Rui Vieira de Sá,
confirmou a reunião de 13 de
maio de 2003. "Pelo menos uma
reunião com o ministro tivemos,
sim", afirmou o executivo. Segundo ele, o objetivo foi tratar de interesses estratégicos e investimentos da empresa no país.
Procurado de novo na quinta-feira, o ministério emitiu a segunda negativa, por meio de sua assessoria. "Realizamos nova pesquisa no sistema de agenda do
ministro Palocci desde 1º de janeiro de 2003 e não encontramos nenhum registro de audiência com a
empresa Somague. Pode estar havendo alguma confusão, pois nos
dias 2 e 5 de julho deste ano o sr.
Ruy [sic] Vieira, presidente da Somague no Brasil, solicitou junto à
chefia de gabinete do ministro Palocci audiência para o presidente
mundial da Somague. Reunião
esta que não ocorreu até o presente momento."
A reportagem voltou a insistir.
Na sexta-feira, Buratti voltou a
confirmar o encontro. À noite, o
ministério admitiu: "Fizemos novamente a pesquisa no sistema de
agenda, agora com a data específica, e encontramos às 17h do dia 13
de maio de 2003 uma audiência
para João Vaz Guedes, porém não
constava o nome da empresa. Ligamos na empresa Somague e
constatamos que João Vaz Guedes é presidente da Somague Internacional em Portugal, que na
ocasião apresentou o plano estratégico de investimento do grupo
português no Brasil".
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Palocci na mira: CPI suspeita de chefe-de-gabinete de Palocci Próximo Texto: Frase Índice
|