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ELIO GASPARI
As macromaracutaias dos fundos
A melhor notícia do ano foi
a quebra do sigilo dos fundos
de pensão das estatais, o levantamento dos véus da Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e
Funcef (Caixa Econômica). Seus
subterrâneos assemelham-se às
cloacas de Paris de "Os Miseráveis". Com R$ 270 bilhões em investimentos são, há tempo, a caixa d'El Rey. Nos últimos dez anos,
a Viúva tapou mais de R$ 30 bilhões nos buracos desse queijo
suíço.
O melhor negócio do mundo é
ter um desses fundos como sócio.
Quando dá lucro, os mandarins
vão comprar camisas n'El Corte
Inglés em Lisboa.
Quando dá prejuízo, choram no
BNDES em nome dos aposentados. Lula acaba de dar um alívio
de R$ 1 bilhão à Brasil Ferrovias,
obra-prima da privataria tucana,
onde a Funcef e a Previ atolaram
centenas de milhões de reais. Só
no Banco Santos, os fundecas
"perderam" R$ 1 bilhão.
Mensalão, bingos e Correios são
coisa de petequeiro, se comparados com o que rola, há 20 anos,
nesses fundos. Chega a ser uma irresponsabilidade misturar essas
macromaracutaias com as micropicaretagens que estão nas CPIs.
Numa versão simplificada, deram-se coisas assim: A empresa
Zumbi de Canudos, quebrada,
emitiu R$ 200 milhões em papéis.
Ninguém comprou o mico. Apareceu o amigo do fundeca e propôs: compramos os R$ 200 milhões por R$ 20 milhões. Fechado
o negócio, os cleptocondôminos
racham R$ 180 milhões, os acionistas micam e, mais adiante, a
Viúva compra o rombo. No negócio dos precatórios de Santa Catarina, estourado em 1996, ganhou-se mais dinheiro do que já se gastou com o Fome Zero.
A macromaracutaia dos fundos
pede uma CPI exclusiva. Velhas
manipulações políticas evitam
que isso aconteça, mas não se deve fingir que o problema se assemelha aos bingos, aos mensalões
ou às petecas postais. O comissário Luiz Gushiken pode ter achado que inovava.
Empresas-companheiras como
a Guaranhuns e a Bônus-Banval
operaram uma velha tabuada,
tão velha quanto o edifício Dacon, em São Paulo, aquele cilindro de vidro fumê da avenida Faria Lima, onde conceberam-se as
primeiras privatarias, antes mesmo da posse de Fernando Collor
na Presidência da República.
O segurança é o bode dos maganos
O Citibank de Nova York precisa zelar pela qualidade do serviço
da casa na filial da avenida Paulista. Deve fazer isso pelos seus
bons antecedentes. Graças ao rigor da diretoria americana, a
partir de uma tragédia brasileira,
os clientes e os funcionários dos
prédios do Citi em todo o mundo
estão protegidos pelas normas de
segurança exigidas pelo Corpo de
Bombeiros de Nova York.
O Citi decidiu isso em 1974, depois que um incêndio queimou o
edifício Joelma, em São Paulo,
onde estava sua subsidiária Crefisul. Por questão de dias de diferença, não torraram John Reed,
que viria a ser presidente do banco. Morreram 188 pessoas. Depois
disso, o Citi só funciona em prédios que respeitam as posturas de
Nova York.
No edifício da Paulista, acontecem coisas que não aconteceriam
no da Park Avenue. Um trabalhador (com roupa de trabalhador) entrou na agência e foi parado por um cidadão sem identificação funcional ostensiva. Ele
pretendia descontar um cheque.
Durante o tempo que permaneceu no prédio, foi escoltado por
dois armários que o acompanharam ao caixa e, de lá, até a porta
da rua.
O trabalhador não quis reclamar: "O segurança deve ser um
pai de família. Se houver encrenca, sobra pra ele." Bingo. O Citi-SP assegura que esse tipo de comportamento, caso tenha ocorrido,
contraria as normas e o treinamento que orientam o trabalho
dos seguranças.
No anos 80, um diretor do Citi
foi interpelado enquanto corria
no jardim de um fino clube paulista. Era negro. Também deve ter
sido coisas dos seguranças.
Lula no Carpathia
Na conta de pelo menos
um grão-companheiro do
ministério, o PT vai acabar.
Deixando mais barato, vai
acabar aquilo que algum dia
se pensou que fosse o PT.
Lula não acabará junto
com o partido. Ele terá um
camarote a bordo do Carpathia. Carpathia era o barco
que socorreu 700 náufragos
do navio que virou filme
com Leonardo Di Caprio. O
mar levou outros 1.500 companheiros.
Caso faça o transbordo,
convém que Lula leve consigo um dos roupões de algodão egípcio que comprou
com dinheiro da Viúva para
o enxoval de seus palácios.
Almanaque
Observação de Abraham
Lincoln, descrevendo os
costumes políticos americanos, ao chegar a Washington, em 1861: "É muito porco para pouca teta". Observação de um curioso estudando a lista de clientes da
agenda-companheira de
Jeany Mary Corner: "É muita teta para pouco porco".
Imobiliária Natasha
Inconsolável com a morte
da Velhinha de Taubaté,
Madame Natasha continua
vigiando o "mensalão" do
idioma. Ela concedeu uma
de suas bolsas de estudo ao
doutor Sérgio Darcy, diretor
do Banco Central. Referindo-se ao que se denomina
de "déficit habitacional", ele
disse: "O que falta não é demanda. O que falta é demanda solvente -ou seja,
que tenha condições de contratar e pagar os financiamentos". Madame acredita
que o doutor quis dizer o seguinte: "A choldra não tem
como pagar os empréstimos". Isso não acontece
porque a patuléia é perdulária, mas porque o Copom,
onde o doutor Darcy tem
voz e voto, mantém os juros
em níveis narcofinanceiros.
Companheiro Bush
Se tudo der certo, George
Bush vem ao Brasil em novembro, e Lula leva-o para
uma pescaria no Pantanal
de Mato Grosso.
Culpa do Brasil
Lula e seu vice, José Alencar, devem ter mais respeito
com o Brasil. Afinal é a Viúva quem lhes paga os salários, a casa, a comida, a roupa lavada e as cigarrilhas holandesas.
Outro dia, Alencar disse
assim: "O Brasil precisa
aprender que o ônus da prova cabe ao acusador". Uma
nação não pode ser tratada
como criança nem o doutor
Alencar tem mandato para
se considerar professor da
escumalha que o elegeu.
Em seu discurso de posse
da crise, Lula disse que "o
Brasil precisa corrigir as distorções do seu sistema partidário eleitoral, fazendo urgentemente a tão sonhada
reforma política".
Países não podem ser responsabilizados pelo que
pessoas fazem ou deixam de
fazer. Até hoje, Lula nada fez
para corrigir as distorções
do sistema político, senão
agravá-las. Desse jeito, um
dos dois acaba dizendo que
o Brasil precisa aprender a
escolher seus governantes.
Riscos gerais
Na quarta-feira, o risco
Brasil chegou a 420 pontos.
(Em dezembro do ano passado, ele esteve no seu melhor nível, com 378 pontos.
Lula recebeu o governo com
o risco na casa dos 1.300.)
Na semana passada, o risco Argentina estava em 444.
Apenas 24 pontos separam
o risco Lula do índice do
presidente argentino Néstor
Kirchner, que impôs à banca internacional um calote
de mais de US$ 60 bilhões, o
maior da história do capitalismo.
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