São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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ELIO GASPARI

As macromaracutaias dos fundos

A melhor notícia do ano foi a quebra do sigilo dos fundos de pensão das estatais, o levantamento dos véus da Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica). Seus subterrâneos assemelham-se às cloacas de Paris de "Os Miseráveis". Com R$ 270 bilhões em investimentos são, há tempo, a caixa d'El Rey. Nos últimos dez anos, a Viúva tapou mais de R$ 30 bilhões nos buracos desse queijo suíço.
O melhor negócio do mundo é ter um desses fundos como sócio. Quando dá lucro, os mandarins vão comprar camisas n'El Corte Inglés em Lisboa.
Quando dá prejuízo, choram no BNDES em nome dos aposentados. Lula acaba de dar um alívio de R$ 1 bilhão à Brasil Ferrovias, obra-prima da privataria tucana, onde a Funcef e a Previ atolaram centenas de milhões de reais. Só no Banco Santos, os fundecas "perderam" R$ 1 bilhão.
Mensalão, bingos e Correios são coisa de petequeiro, se comparados com o que rola, há 20 anos, nesses fundos. Chega a ser uma irresponsabilidade misturar essas macromaracutaias com as micropicaretagens que estão nas CPIs.
Numa versão simplificada, deram-se coisas assim: A empresa Zumbi de Canudos, quebrada, emitiu R$ 200 milhões em papéis. Ninguém comprou o mico. Apareceu o amigo do fundeca e propôs: compramos os R$ 200 milhões por R$ 20 milhões. Fechado o negócio, os cleptocondôminos racham R$ 180 milhões, os acionistas micam e, mais adiante, a Viúva compra o rombo. No negócio dos precatórios de Santa Catarina, estourado em 1996, ganhou-se mais dinheiro do que já se gastou com o Fome Zero.
A macromaracutaia dos fundos pede uma CPI exclusiva. Velhas manipulações políticas evitam que isso aconteça, mas não se deve fingir que o problema se assemelha aos bingos, aos mensalões ou às petecas postais. O comissário Luiz Gushiken pode ter achado que inovava.
Empresas-companheiras como a Guaranhuns e a Bônus-Banval operaram uma velha tabuada, tão velha quanto o edifício Dacon, em São Paulo, aquele cilindro de vidro fumê da avenida Faria Lima, onde conceberam-se as primeiras privatarias, antes mesmo da posse de Fernando Collor na Presidência da República.

O segurança é o bode dos maganos

O Citibank de Nova York precisa zelar pela qualidade do serviço da casa na filial da avenida Paulista. Deve fazer isso pelos seus bons antecedentes. Graças ao rigor da diretoria americana, a partir de uma tragédia brasileira, os clientes e os funcionários dos prédios do Citi em todo o mundo estão protegidos pelas normas de segurança exigidas pelo Corpo de Bombeiros de Nova York.
O Citi decidiu isso em 1974, depois que um incêndio queimou o edifício Joelma, em São Paulo, onde estava sua subsidiária Crefisul. Por questão de dias de diferença, não torraram John Reed, que viria a ser presidente do banco. Morreram 188 pessoas. Depois disso, o Citi só funciona em prédios que respeitam as posturas de Nova York.
No edifício da Paulista, acontecem coisas que não aconteceriam no da Park Avenue. Um trabalhador (com roupa de trabalhador) entrou na agência e foi parado por um cidadão sem identificação funcional ostensiva. Ele pretendia descontar um cheque. Durante o tempo que permaneceu no prédio, foi escoltado por dois armários que o acompanharam ao caixa e, de lá, até a porta da rua.
O trabalhador não quis reclamar: "O segurança deve ser um pai de família. Se houver encrenca, sobra pra ele." Bingo. O Citi-SP assegura que esse tipo de comportamento, caso tenha ocorrido, contraria as normas e o treinamento que orientam o trabalho dos seguranças.
No anos 80, um diretor do Citi foi interpelado enquanto corria no jardim de um fino clube paulista. Era negro. Também deve ter sido coisas dos seguranças.

Lula no Carpathia
Na conta de pelo menos um grão-companheiro do ministério, o PT vai acabar. Deixando mais barato, vai acabar aquilo que algum dia se pensou que fosse o PT. Lula não acabará junto com o partido. Ele terá um camarote a bordo do Carpathia. Carpathia era o barco que socorreu 700 náufragos do navio que virou filme com Leonardo Di Caprio. O mar levou outros 1.500 companheiros. Caso faça o transbordo, convém que Lula leve consigo um dos roupões de algodão egípcio que comprou com dinheiro da Viúva para o enxoval de seus palácios.

Almanaque
Observação de Abraham Lincoln, descrevendo os costumes políticos americanos, ao chegar a Washington, em 1861: "É muito porco para pouca teta". Observação de um curioso estudando a lista de clientes da agenda-companheira de Jeany Mary Corner: "É muita teta para pouco porco".

Imobiliária Natasha
Inconsolável com a morte da Velhinha de Taubaté, Madame Natasha continua vigiando o "mensalão" do idioma. Ela concedeu uma de suas bolsas de estudo ao doutor Sérgio Darcy, diretor do Banco Central. Referindo-se ao que se denomina de "déficit habitacional", ele disse: "O que falta não é demanda. O que falta é demanda solvente -ou seja, que tenha condições de contratar e pagar os financiamentos". Madame acredita que o doutor quis dizer o seguinte: "A choldra não tem como pagar os empréstimos". Isso não acontece porque a patuléia é perdulária, mas porque o Copom, onde o doutor Darcy tem voz e voto, mantém os juros em níveis narcofinanceiros.

Companheiro Bush
Se tudo der certo, George Bush vem ao Brasil em novembro, e Lula leva-o para uma pescaria no Pantanal de Mato Grosso.

Culpa do Brasil
Lula e seu vice, José Alencar, devem ter mais respeito com o Brasil. Afinal é a Viúva quem lhes paga os salários, a casa, a comida, a roupa lavada e as cigarrilhas holandesas. Outro dia, Alencar disse assim: "O Brasil precisa aprender que o ônus da prova cabe ao acusador". Uma nação não pode ser tratada como criança nem o doutor Alencar tem mandato para se considerar professor da escumalha que o elegeu. Em seu discurso de posse da crise, Lula disse que "o Brasil precisa corrigir as distorções do seu sistema partidário eleitoral, fazendo urgentemente a tão sonhada reforma política". Países não podem ser responsabilizados pelo que pessoas fazem ou deixam de fazer. Até hoje, Lula nada fez para corrigir as distorções do sistema político, senão agravá-las. Desse jeito, um dos dois acaba dizendo que o Brasil precisa aprender a escolher seus governantes.

Riscos gerais
Na quarta-feira, o risco Brasil chegou a 420 pontos. (Em dezembro do ano passado, ele esteve no seu melhor nível, com 378 pontos. Lula recebeu o governo com o risco na casa dos 1.300.) Na semana passada, o risco Argentina estava em 444. Apenas 24 pontos separam o risco Lula do índice do presidente argentino Néstor Kirchner, que impôs à banca internacional um calote de mais de US$ 60 bilhões, o maior da história do capitalismo.


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