|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Presidente aposta as fichas no sucesso da política econômica para
conter crise e busca candidatura para defender o PT e seu governo
Lula diz que vai tentar reeleição, mesmo se o PT estiver "muito mal"
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de ter dito na quinta-feira passada que ainda não decidiu
se será candidato à reeleição, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz uma análise em conversas
reservadas que resulta na seguinte
conclusão: dificilmente o presidente não disputará um novo
mandato daqui a 14 meses, em 1º
de outubro de 2006.
"Se o PT estiver muito mal, se o
governo estiver apanhando de tudo quanto é lado, vou ser candidato para defender o PT e o meu
governo. Aí não tem jeito", desabafou Lula na mesma quinta-feira
em que discursou se comparando
a Juscelino Kubitschek (1956-1961) e dizendo que não se decidira por uma nova candidatura ao
Palácio do Planalto.
Mais: para uma platéia cheia de
empresários, Lula deixou claro na
reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
que sua principal aposta para tentar superar a crise é a manutenção
da política econômica do ministro Antonio Palocci (Fazenda).
Se ele tiver que mudar alguma
coisa nela, seria para aprofundá-la, aumentando, por exemplo, o
superávit primário para 5% do
PIB (Produto Interno Bruto), como gostaria a equipe econômica.
No discurso, o presidente tentou
se mostrar mais confiável do que
qualquer tucano para tocar uma
política econômica de rigor monetário e fiscal.
Lula descartou as sugestões recentes para radicalizar o seu discurso numa linha "chavista". Um
dos defensores dessa idéia, que
seria "estreitar mais os laços" com
os movimento sociais, tradicionalmente ligados ao PT, é o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral). Dulci já fizera a proposta na
última reunião ministerial.
Motivo para Lula rejeitar a "saída Dulci": começa a faltar povo
para o presidente, como mostraram as mais recentes pesquisas de
opinião sobre a popularidade dele
e o cenário eleitoral de 2006. Se a
eleição fosse hoje, ele não se reelegeria. Além disso, uma radicalização acirraria o ânimo da oposição
e assustaria a elite que apóia sua
política econômica.
O discurso da quinta-feira, feito
de improviso na reunião do Conselhão, foi exaustivamente discutido por Lula e auxiliares ao longo
da semana. Foi intencional a
menção a JK e aos presidentes Getúlio Vargas, Jânio Quadros e
João Goulart -cujas experiências
de queda do poder Lula afirmou
não querer repetir.
Na manhã de quinta, Lula deixou de lado um longo texto produzido por Dulci e sua equipe.
Aproveitou algumas idéias. O
presidente voltou a reclamar que
os discursos escritos não retratam
suas idéias. O discurso escrito para um evento na sexta em Quixadá (CE) foi considerado ruim pelo
presidente.
Análise eleitoral
Nas conversas reservadas, Lula
faz uma análise eleitoral que redunda na conclusão de que ele deseja ser candidato a um novo
mandato e lutará por isso.
Primeiro, lembra que era contra
a reeleição e que já a criticou, como disse na quinta-feira. Depois,
fala que sabe que será preciso que
o seu governo esteja bem avaliado
nas pesquisas e que ele apareça
com boas chances eleitorais. Nesse cenário, diz que provavelmente
seria candidato, mas que não venderia "a alma ao diabo" para sê-lo.
Ao traçar um cenário mais pessimista, no qual o governo, ele e o
PT estejam sob fogo cerrado e
com baixo cacife político nas pesquisas, Lula também admite a hipótese de ser candidato. Diz que
seria uma forma de manter o partido vivo, de defender os números
econômicos e administrativos de
sua gestão numa comparação direta com os oito anos do tucano
Fernando Henrique Cardoso.
Por último, o petista diz que não
aceita descartar a possibilidade de
se candidatar à reeleição como
precondição para que a oposição
lhe dê trégua e a crise arrefeça.
Acha que o efeito seria o contrário: uma estrondosa admissão de
fracasso a 16 meses do final do governo.
Texto Anterior: Elio Gaspari: As macromaracutaias dos fundos Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Entrevista: Lula virou um "fantasma", diz Skidmore Índice
|