São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000 |
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QUESTÃO AGRÁRIA Sem-terra vão desmontar acampamento próximo à fazenda dos filhos de FHC e esperar negociações MST desiste de invasão e encerra protesto
WILLIAM FRANÇA ENVIADO ESPECIAL A BURITIS (MG) O MST decidiu ontem encerrar as atividades de protesto em todo o país, iniciadas havia 15 dias, incluindo a desmobilização do acampamento próximo à fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG), e dos manifestantes agrupados em frente às superintendências do Incra nos Estados. São duas as justificativas dos líderes do movimento para o fim dos protestos: a necessidade de liberar os manifestantes para votar no próximo domingo e o fato de a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) estarem negociando a pauta de reivindicações do MST com o governo, tentando inclusive uma audiência com o presidente. "É mais um voto de confiança que damos, desta vez aos mediadores. Se a resposta do presidente às reivindicações for negativa, vamos voltar a nos mobilizar, num tom mais forte", afirmou Lucídio Ravanello, um dos líderes nacionais do MST e coordenador do acampamento em Buritis. Até o final da tarde de ontem, o Palácio do Planalto não havia se pronunciado sobre a data do encontro com as duas entidades, pedido desde a terça-feira. O prazo é pequeno: na semana que vem, FHC inicia uma viagem de nove dias para a Europa, incluindo visitas à Alemanha e à Holanda. Os sem-terra descartaram retomar as ações de invasão antes das eleições. Segundo as lideranças, é importante que os assentados e acampados participem regularmente das eleições, ajudando a eleger os candidatos simpáticos ou ligados ao movimento. Em Buritis, por exemplo, o prefeito José Vicente (PPS), candidato à reeleição, é simpático ao MST e espera contar com os votos de vários assentados. Do grupo que estava acampado numa quadra de esportes cedida por ele, participavam integrantes de pelo menos sete acampamentos e assentamentos do município, somando quase 200 pessoas. Buritis tem pouco mais de 14 mil eleitores. Ontem pela manhã, os acampados em Buritis manifestaram alegria e decepção. Uma espécie de baile, animado por um trio de forró, às 10h, comemorou o retorno dos sem-terra para casa. O tom das declarações dos líderes do movimento não era de festa. "Nós só podemos ficar indignados. As chuvas estão chegando e estamos sem o dinheiro para plantar", afirmou Gilmar de Oliveira, um dos líderes regionais do MST. Ele e o sogro prepararam 27 hectares de terra para plantio. "O governo está querendo nos impedir de produzir comida. Desse jeito, vai nos matar de fome." Desde o dia 12, cerca de 500 sem-terra ocuparam a estrada em frente à porteira principal da fazenda Córrego da Ponte, dos filhos de FHC, por duas vezes. Desde a última segunda-feira, estavam na sede do município, distante 70 km da fazenda. Colaborou VALÉRIA DE OLIVEIRA, da Sucursal de Brasília Texto Anterior: AGU estuda mecanismo para recuperar gasto Próximo Texto: Rainha acha que presidente vai ceder a apelos Índice |
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