São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000

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Rainha acha que presidente vai ceder a apelos

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA,

O dirigente José Rainha Júnior disse ontem acreditar que o presidente Fernando Henrique Cardoso vai ceder às reivindicações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de incluir assentados em linhas de créditos subsidiados.
"Creio que, se o presidente olhar um pouco para o Brasil, a partir da nossa realidade, ele vai mudar de opinião", afirmou, apostando no sucesso da reunião que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) tenta marcar com o presidente da República.
Segundo Rainha, os assentados não têm condições de contrair créditos a juros de produtor rural normal. "A agricultura está falida. Como os assentados vão entrar nessa competição?", questionou.
O dirigente disse que os sem-terra vão continuar a lutar por crédito pelo Pronaf A, com juros menores e descontos maiores, sem necessidade de avalistas ou de garantias. "Senão, os assentamentos vão virar uma favela rural", declarou.
Rainha disse ainda que a reunião que o MST teve com o segundo escalão do governo federal no início da semana tinha um desfecho previsível. "Ficou claro que o governo se isolou da sociedade. O governo não cumpre o que fala. É uma palhaçada do Planalto. Faz acordo e não cumpre", reclamou o líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema.

Depoimento
José Rainha Jr. prestou depoimento ontem na Polícia Federal em Presidente Prudente (558 km a oeste de São Paulo), em inquérito que apura incitação ao crime nas declarações de que iria "incendiar" o Pontal do Paranapanema.
À saída do interrogatório, ele não fez declarações, por orientação de seu advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal pelo PT (Partido dos Trabalhadores).
Segundo o advogado, o líder do MST declarou à polícia que não teve intenção de instigar pessoas à prática de incêndio durante os protestos.
"Ele explicou que muitas vezes você acaba, no auge da emoção, falando coisas que não têm consequências imediatas e que não teve nenhuma intenção em transformar as frases que a imprensa retratou em realidade", declarou Greenhalgh, que em abril colaborou com o criminalista Evandro Lins e Silva na defesa de Rainha durante o julgamento em Vitória (ES), no qual o líder do MST foi absolvido da acusação de co-autoria em dois homicídios.
O delegado federal Aloisio Rodrigues, que preside o inquérito, disse que Rainha não foi indiciado, pelo menos nesta fase do inquérito, por falta de provas.
Antes de concluir o relatório, dentro do prazo de 30 dias, ele quer tomar depoimentos de jornalistas que escreveram sobre as declarações.
Rodrigues disse que, em princípio, não existe razão que justifique o enquadramento do dirigente do MST na LSN (Lei de Segurança Nacional).


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