São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000

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Badan Palhares critica laudo de Molina sobre Eldorado do Carajás

ANA PAULA MARGARIDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

O médico-legista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Fortunado Badan Palhares contestou o laudo emitido pelo foneticista Ricardo Molina de Figueiredo, de sua mesma universidade, sobre a morte dos 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), em 17 de abril de 1996.
Segundo Badan Palhares, a análise da fita não permite concluir se foi a polícia quem atirou primeiro no conflito com os integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O laudo de Molina mostra que a PM atirou primeiro e, dois segundos depois, um sem-terra atirou.
O laudo do foneticista se refere à cena enfocada pela defesa da Polícia Militar durante o julgamento que absolveu três policiais.
O laudo de Molina, feito a pedido do Ministério Público paraense, contesta o parecer de Badan Palhares sobre o caso, solicitado pela Secretaria de Segurança Pública do Pará à Unicamp.
No parecer realizado com base em fotos dos sem-terras mortos, Badan Palhares afirma que, dos 19 mortos, 11 apresentam ferimentos de bala, 7 foram baleados e feridos com fações e foice e um foi morto por arma branca.
Para o médico-legista, como o conflito começou antes do trecho mostrado pela Polícia Militar paraense no julgamento, não dá para afirmar quem atirou primeiro.
Além dos 19 mortos, o massacre de Eldorado do Carajás deixou 35 feridos, entre sem-terra e policiais militares.
"Na fita não dá para ver se os tiros ouvidos no início da gravação foram disparados pelos policiais ou pelos sem-terra", disse.
Badan Palhares afirmou que Molina não é um perito e questionou o posicionamento ético dele ao fazer um novo laudo.
"Ele (Molina) não poderia ter feito este laudo, porque não tinha o aval da Unicamp e não é credenciado pela Sociedade Brasileira de Criminalística", afirmou.
Porém, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Criminalística, Celito Cordili, nenhum dos dois professores da Unicamp poderia ter feito o laudo. "Eles não são peritos oficiais e nem "ad hoc" (nomeado para o caso na falta de um perito oficial)", afirmou Cordili.
Ricardo Molina, por sua vez, disse que em nenhum momento do laudo fez afirmações subjetivas. "Eu não interpreto nada. Meu laudo é descritivo. As minhas opiniões como cidadão não estão no laudo. O que vai interessar para a Justiça é o que está descrito no trabalho", disse o foneticista.
Com relação à autorização da reitoria, Molina disse acreditar que não precisava de autorização, uma vez que a fita estava na Unicamp desde 1996.
"Badan não teve acesso ao meu laudo, então, não pode contestá-lo", afirmou Molina.
O foneticista disse que já assinou mais de 400 laudos na universidade e que vários deles também contêm a assinatura de Badan Palhares, que na época era chefe do extinto DML (Departamento de Medicina Legal).
"Eu não conheço o laudo do Badan. Só posso dizer sobre o que eu vi na fita", disse Molina.


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