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Badan Palhares critica laudo de
Molina sobre Eldorado do Carajás
ANA PAULA MARGARIDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
O médico-legista da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) Fortunado Badan Palhares
contestou o laudo emitido pelo
foneticista Ricardo Molina de Figueiredo, de sua mesma universidade, sobre a morte dos 19 sem-terra em Eldorado do Carajás
(PA), em 17 de abril de 1996.
Segundo Badan Palhares, a análise da fita não permite concluir se
foi a polícia quem atirou primeiro
no conflito com os integrantes do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O laudo de Molina mostra que a
PM atirou primeiro e, dois segundos depois, um sem-terra atirou.
O laudo do foneticista se refere à
cena enfocada pela defesa da Polícia Militar durante o julgamento
que absolveu três policiais.
O laudo de Molina, feito a pedido do Ministério Público paraense, contesta o parecer de Badan
Palhares sobre o caso, solicitado
pela Secretaria de Segurança Pública do Pará à Unicamp.
No parecer realizado com base
em fotos dos sem-terras mortos,
Badan Palhares afirma que, dos 19
mortos, 11 apresentam ferimentos de bala, 7 foram baleados e feridos com fações e foice e um foi
morto por arma branca.
Para o médico-legista, como o
conflito começou antes do trecho
mostrado pela Polícia Militar paraense no julgamento, não dá para afirmar quem atirou primeiro.
Além dos 19 mortos, o massacre
de Eldorado do Carajás deixou 35
feridos, entre sem-terra e policiais
militares.
"Na fita não dá para ver se os tiros ouvidos no início da gravação
foram disparados pelos policiais
ou pelos sem-terra", disse.
Badan Palhares afirmou que
Molina não é um perito e questionou o posicionamento ético dele
ao fazer um novo laudo.
"Ele (Molina) não poderia ter
feito este laudo, porque não tinha
o aval da Unicamp e não é credenciado pela Sociedade Brasileira de
Criminalística", afirmou.
Porém, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de
Criminalística, Celito Cordili, nenhum dos dois professores da
Unicamp poderia ter feito o laudo. "Eles não são peritos oficiais e
nem "ad hoc" (nomeado para o caso na falta de um perito oficial)",
afirmou Cordili.
Ricardo Molina, por sua vez,
disse que em nenhum momento
do laudo fez afirmações subjetivas. "Eu não interpreto nada. Meu
laudo é descritivo. As minhas opiniões como cidadão não estão no
laudo. O que vai interessar para a
Justiça é o que está descrito no
trabalho", disse o foneticista.
Com relação à autorização da
reitoria, Molina disse acreditar
que não precisava de autorização,
uma vez que a fita estava na Unicamp desde 1996.
"Badan não teve acesso ao meu
laudo, então, não pode contestá-lo", afirmou Molina.
O foneticista disse que já assinou mais de 400 laudos na universidade e que vários deles também
contêm a assinatura de Badan Palhares, que na época era chefe do
extinto DML (Departamento de
Medicina Legal).
"Eu não conheço o laudo do Badan. Só posso dizer sobre o que eu
vi na fita", disse Molina.
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