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ÍNDIOS
Justiça Eleitoral proíbe a prática, que pode provocar cassação e até prisão
Ticunas treinam voto em telefone
DA ENVIADA ESPECIAL A TABATINGA
O índio ticuna Darci Bibiano
Maratu, que concorre ao terceiro
mandato na Câmara Municipal
de Tabatinga (fronteira com a Colômbia) pelo PMDB, usa teclados
de telefone para ensinar eleitores
índios a usar a urna eletrônica.
O expediente é ilegal, pois, segundo a Justiça Eleitoral de Tabatinga configura simulação de urna. O candidato, se apanhado em
flagrante, é preso no ato e pode ter
sua candidatura cassada.
"Alguns dizem que é proibido,
mas como o ensino é feito nas aldeias, ninguém vê", afirma o vereador. Ele justifica o ato afirmando que quase todos os cerca de
3.400 eleitores ticunas são analfabetos e não entenderam o treinamento da Justiça Eleitoral.
Darci Maratu conta que conseguiu 30 telefones com teclados e
teve a idéia de usá-los para ensinar os ticunas a votar, nas aldeias,
das 17h às 20h30. "Eles fazem fila
para treinarem teclar o meu número (15444). Como as aulas começaram há um mês, já devem ter
aprendido direitinho." Os ticunas
representam 26% dos eleitores de
Tabatinga. "O voto indígena decide a eleição", afirma Maratu.
Nas aldeias, o voto é escolhido
pelos líderes religiosos, que se dividem entre católicos, protestantes e a Ordem da Santa Cruz, uma
seita liderada pelo peruano "Irmão Francisco". Segundo Maratu, as indicações de voto dos líderes religiosos são seguidas sem
questionamento. Pelo menos um
terço dos votos indígenas para a
Câmara de Tabatinga, segundo
ele, vem da Ordem de Santa Cruz.
Irmão Francisco teria compromisso com candidatos de toda a
região do Alto Solimões. Em troca
do apoio pede tijolos e telhas para
construir um templo e uma pousada às margens de um igarapé,
em São Paulo de Olivença.
O líder religioso teria se comprometido com o atual prefeito de
Tabatinga, Raimundo Nonato
Souza (PTB), o "Boi". O prefeito
tenta a reeleição pela coligação
Tabatinga Forte, a de Maratu.
Segundo o ticuna, o prefeito
prometeu asfaltar cinco ruas na
aldeia indígena de Belém de Solimões, com 1.310 eleitores. As máquinas estariam embarcando ontem para a comunidade.
Indagado se ele crê que na conclusão da obra, uma vez que os
equipamentos serão entregues a
poucos dias do primeiro turno,
Maratu respondeu: "'Se ele perder
a eleição, os índios vão prender as
máquinas lá até o asfalto ser concluído". O prefeito não foi localizado pela Folha.
(ELVIRA LOBATO)
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