São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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GOVERNO

"Turbulências financeiras não estão nas nossas mãos", afirma presidente

FHC diz que avanços são ofuscados por problemas

SANDRO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A AGUIARNÓPOLIS (TO)

No dia em que o dólar bateu novo recorde do Plano Real e fechou em R$ 3,88 -alta de 3,19%-, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que as turbulências do mercado financeiro e os problemas sofridos pelo Brasil impedem a população de perceber os avanços que estão ocorrendo no país.
"A infra-estrutura brasileira nestes oito anos tomou outra feição. Talvez os brasileiros não saibam, o Brasil é tão grande, os problemas nos atormentam de tantas formas. Há problemas que não estão nas nossas mãos, como essas turbulências financeiras. São tantos problemas que talvez nós brasileiros não tenhamos ainda a consciência da dimensão das transformações que estão ocorrendo no Brasil", disse.
FHC discursou durante a inauguração da ponte da ferrovia Norte-Sul sobre o rio Tocantins, ligando os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), na divisa entre os dois Estados.
O presidente, que chegou ao local de trem e foi aplaudido por cerca de 500 pessoas que estavam na cerimônia, sinalizou estar à disposição do próximo presidente. "Quando necessário, mesmo de longe, se for útil, darei minha palavra de apoio ao país", falou.
Durante a cerimônia, o presidente confundiu o nome da cidade, que chamou de Aguiarlândia, em vez de Aguiarnópolis. Assim que terminou de discursar, FHC saiu rapidamente do palanque e foi cumprimentar as pessoas que estavam no local, atitude que surpreendeu a segurança.
"Agradeço imensamente e peço ao povo de Aguiarlândia [sic] que me perdoe porque não posso dar a mão a cada um, mas tenham um sentimento de que, como presidente da República, se pudesse abraçá-los, eu os abraçaria", disse.
Segundo FHC, a ponte da ferrovia Norte-Sul, que tem 1.300 metros de extensão, é um símbolo da integração que está ocorrendo entre as regiões brasileiras e hoje a realidade vivida pelo país é "indestrutível". O presidente aproveitou o discurso para citar realizações e incluiu o combate ao analfabetismo.
"Assim como foi necessário, no fim do século 19, acabar com a escravidão, que era uma nódoa e era mais que uma nódoa, era um grilhão que acorrentava os pés do país ao atraso, eu posso dizer que agora, no começo do século 21, o fundamental é acabar com o analfabetismo que é a forma moderna do mesmo grilhão que prende o povo ao atraso e que impede o Brasil de alçar o vôo, o grande vôo, não só da liberdade, mas da construção de uma sociedade mais feliz, mais irmã, mais fraterna e mais justa para todos. E eu posso lhes dizer, sem demagogia, nós acabamos com a nódoa do analfabetismo."
FHC fez ainda um balanço das obras realizadas em seu governo e disse que não se pode dar atenção apenas a críticas. "É preciso deixar que a mesquinharia do cotidiano, que a pequena política, que essas frases, às vezes ferinas, como que não firam os nossos ouvidos e que nós não sejamos o tempo todo constrangidos a ver o que não é bom. E fiquemos olhando um pouco mais longe na convicção de que o que não é bom vai sumir na história e o que é bom vai ficar marcado para sempre como parte do Brasil."
Na cerimônia, que não contou com a presença de autoridades do Maranhão, FHC citou o senador José Sarney (PMDB-AP). "Quero prestar uma homenagem ao presidente Sarney, que foi alguém que teve a visão de que era importante levar adiante essa obra de integração", falou.
Estiveram presentes o ministro dos Transportes, João Henrique, prefeitos da região e o governador do Tocantins, Siqueira Campos (PFL). O governador apoiou desde o início o candidato do governo à Presidência, José Serra (PSDB), contrariando decisão do seu partido, que primeiro lançou a candidatura de Roseana Sarney (PFL) e depois apoiou informalmente Ciro Gomes (PPS).


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