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Maluf fez obras para ricos, diz pesquisa
LIA HAMA
DA REDAÇÃO
Campeão de investimentos em
obras à frente da Prefeitura de São
Paulo, o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf, fez
uma administração voltada principalmente para a região onde
mora a população mais rica e
mais escolarizada da cidade.
É o que aponta pesquisa do
Centro de Estudos da Metrópole/
Cebrap, financiada pela Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa
no Estado de São Paulo).
Durante o governo Maluf (93-96), os recursos destinados às
áreas onde mora a classe alta representaram 24,7% do total gasto
com obras e serviços pela SVP
(Secretaria de Vias Públicas). Foi
o maior percentual despendido à
região entre as oito administrações analisadas pelo estudo, que
abrange o período de 1978 a 1998.
"A maior parte desses investimentos foi para a região sudoeste,
onde estão bairros nobres como
Morumbi, Jardim Paulista, Itaim
e Moema", afirma Eduardo Marques, 37, professor de Ciência Política da USP e coordenador do estudo "Redes sociais e políticas públicas: padrões de relação entre
classe política, burocracias e empresários em São Paulo".
Segundo Marques, que foi assessor da coordenação de favelas
durante o governo Erundina (89-92), a gestão Maluf é emblemática
de uma forma de fazer política
que caracteriza os governos de direita paulistanos: fortes investimentos em contratos de grande
porte, altamente aditados , vencidos por grandes empreiteiras,
muitas vezes sem licitação.
Governos mais à esquerda, por
sua vez, investem menos em infra-estrutura e priorizam obras de
menor porte e visibilidade, como
pavimentação e canalização de
córregos. É o caso de Mário Covas
(83-85) e Luiza Erundina.
Foram considerados de direita a
Arena e seus sucessores políticos
(PDS, PPR, PPB) e o PTB e, de esquerda, os partidos oriundos dos
movimentos de resistência ao regime militar (PMDB e PT).
Em média, os gastos da SVP-
cuja atuação abrange obras e serviços de drenagem, canalização,
abertura de vias, pavimentação,
construção de passarelas, pontes,
viadutos e túneis- representaram 13% do Orçamento municipal entre 78 e 98. Com Maluf, a
participação média foi de 18%,
chegando a 27% em 93. Com
Erundina e Covas, os números
não chegaram a 9%.
"Tocador de obras"
Pelo menos cinco obras marcaram a gestão Maluf e reforçaram
sua imagem de "tocador de
obras": túneis do Ibirapuera e de
Pinheiros, avenidas Jacu-Pêssego
e Água Espraiada e minianel viário. Obras herdadas do governo
Jânio Quadros (86-88), paralisadas por Erundina e retomadas
por Maluf.
Segundo Marques, há previsibilidade no conteúdo das políticas
em São Paulo, segundo a orientação ideológica dos candidatos.
Para o cientista político, governos de direita como o de Maluf
significam a manutenção de um
"jeitão de fazer política" que lembra o regime militar.
"Se você olhar a política do governo Maluf, para além dos grandes slogans associados ao Cingapura, que foram projetos de marketing produzidos por agências
de publicidade, você lembra de
frases como a de Reynaldo de Barros [ex-prefeito de São Paulo e ex-secretário de Obras de Maluf], que dizia que governava para
quem paga impostos."
Nesses governos, programas sociais seriam apenas acessórios. "É
o Projeto Leve Leite, o Cingapura,
o PAS, mas que não estão no cerne da administração. O principal
é a máquina de gastar dinheiro da
SVP", afirma.
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