São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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Maluf fez obras para ricos, diz pesquisa

LIA HAMA
DA REDAÇÃO

Campeão de investimentos em obras à frente da Prefeitura de São Paulo, o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf, fez uma administração voltada principalmente para a região onde mora a população mais rica e mais escolarizada da cidade.
É o que aponta pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole/ Cebrap, financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo).
Durante o governo Maluf (93-96), os recursos destinados às áreas onde mora a classe alta representaram 24,7% do total gasto com obras e serviços pela SVP (Secretaria de Vias Públicas). Foi o maior percentual despendido à região entre as oito administrações analisadas pelo estudo, que abrange o período de 1978 a 1998.
"A maior parte desses investimentos foi para a região sudoeste, onde estão bairros nobres como Morumbi, Jardim Paulista, Itaim e Moema", afirma Eduardo Marques, 37, professor de Ciência Política da USP e coordenador do estudo "Redes sociais e políticas públicas: padrões de relação entre classe política, burocracias e empresários em São Paulo".
Segundo Marques, que foi assessor da coordenação de favelas durante o governo Erundina (89-92), a gestão Maluf é emblemática de uma forma de fazer política que caracteriza os governos de direita paulistanos: fortes investimentos em contratos de grande porte, altamente aditados , vencidos por grandes empreiteiras, muitas vezes sem licitação.
Governos mais à esquerda, por sua vez, investem menos em infra-estrutura e priorizam obras de menor porte e visibilidade, como pavimentação e canalização de córregos. É o caso de Mário Covas (83-85) e Luiza Erundina.
Foram considerados de direita a Arena e seus sucessores políticos (PDS, PPR, PPB) e o PTB e, de esquerda, os partidos oriundos dos movimentos de resistência ao regime militar (PMDB e PT).
Em média, os gastos da SVP- cuja atuação abrange obras e serviços de drenagem, canalização, abertura de vias, pavimentação, construção de passarelas, pontes, viadutos e túneis- representaram 13% do Orçamento municipal entre 78 e 98. Com Maluf, a participação média foi de 18%, chegando a 27% em 93. Com Erundina e Covas, os números não chegaram a 9%.

"Tocador de obras"
Pelo menos cinco obras marcaram a gestão Maluf e reforçaram sua imagem de "tocador de obras": túneis do Ibirapuera e de Pinheiros, avenidas Jacu-Pêssego e Água Espraiada e minianel viário. Obras herdadas do governo Jânio Quadros (86-88), paralisadas por Erundina e retomadas por Maluf.
Segundo Marques, há previsibilidade no conteúdo das políticas em São Paulo, segundo a orientação ideológica dos candidatos.
Para o cientista político, governos de direita como o de Maluf significam a manutenção de um "jeitão de fazer política" que lembra o regime militar.
"Se você olhar a política do governo Maluf, para além dos grandes slogans associados ao Cingapura, que foram projetos de marketing produzidos por agências de publicidade, você lembra de frases como a de Reynaldo de Barros [ex-prefeito de São Paulo e ex-secretário de Obras de Maluf], que dizia que governava para quem paga impostos."
Nesses governos, programas sociais seriam apenas acessórios. "É o Projeto Leve Leite, o Cingapura, o PAS, mas que não estão no cerne da administração. O principal é a máquina de gastar dinheiro da SVP", afirma.



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