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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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MAGNETISMO ALIADO

104 dos 513 deputados eleitos em 2002 já trocaram de sigla

Um quinto da Câmara troca de partido no governo Lula

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alteração de eixo do poder em Brasília está provocando uma radical mudança no desenho do Congresso eleito em 2002, a exemplo do que ocorreu na passagem do regime militar para a Nova República (1985-1990) e desta para o governo Fernando Collor de Mello (1990-1992).
Desde a eleição do governo do PT, ocorreram 126 trocas de partido na Câmara, 15 delas nos últimos dez dias. Dos 513 parlamentares eleitos em 2002, 104 (20%) trocaram de sigla, 22 deles mudaram de legenda mais de uma vez.
Os números apontam para uma migração parecida com as ocorridas na quadra da Nova República (165 deputados mudaram de sigla) e do recorde de 200 deputados da legislatura 1991-1995.
"A tendência é que as mudanças aumentem, como ocorre em todas as grandes mudanças de poder", diz o cientista político Murilo Aragão, de Brasília. "Não há deputados de partido, há deputados de qualquer governo", sustenta Alexandre Cardoso (PSB-RJ), presidente da comissão de reforma política da Câmara.
De fato, as negociações em curso no Congresso devem levar a mudanças até a próxima sexta-feira, prazo de encerramento de filiação para quem pretende concorrer às eleições de 2004, que podem levar o PTB a se tornar a terceira maior bancada da Câmara e se transformar no segundo mais importante parceiro do governo no Congresso.
Aliado de Lula desde o segundo turno da eleição presidencial, o PTB saiu de uma bancada de 26 deputados eleitos para 55 anteontem. A expectativa é que ultrapasse os 60 nesta semana, passando o PFL, que elegeu 84, está com 65 e pode perder até dez deputados.
Núcleo da coalizão que deu sustentação política aos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, PSDB e PFL foram as siglas que mais sofreram baixas: 18 e 19 deputados, respectivamente. O PMDB, aliado tardio de FHC (não estava na coligação que o elegeu), chegou a definhar no governo Lula, mas se recuperou após ter acertado sua entrada no ministério e está com 77 deputados, dois a mais do que elegeu.
PMDB e PTB comporão ao lado do PT o trio de ferro de apoio ao governo Lula, papel que na era tucana era desempenhado pelo PSDB tendo ao lado PFL e PMDB.
A entrada de um gigante como o PMDB no governo, provavelmente com dois ministérios, é o que pode levar o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, a trocar o PPS, onde vive às turras com o presidente da sigla, Roberto Freire (PE), pelo PTB, partido que ele tem ajudado a crescer. A má imagem dos trabalhistas, associada ao fisiologismo, tem levado Ciro a retardar a mudança.
O fenômeno PTB só não é maior que o PSC, legenda que cresceu 600% -passou de um para sete deputados e pode chegar a nove. Foi para o PSC que o secretário da Segurança do Rio, Anthony Garotinho, levou todos os aliados que não pôde incluir no PMDB, por problemas regionais. É prevista a formação de um bloco PMDB-PSC, o que hoje significaria 84 deputados e um peso maior aos peemedebistas na aliança com o PT.
O ministro das Comunicações, Miro Teixeira, tem se constituído exceção. Se dependesse do Palácio do Planalto, Teixeira já teria trocado o PDT, dividido ao meio em relação ao apoio ao governo, pelo PSB ou PMDB. O ministro não só ficou, como recomendou a seus correligionários do PDT que não trocassem de legenda.
Uma análise das últimas trocas indica que é a necessidade de recomposição política com o governo a motivação das mudanças, maior que o encerramento do prazo de filiação para quem vai concorrer em 2004.
Neste último caso se enquadra o grupo de deputados pernambucanos que deixou PMDB, PSDB e PFL para ingressar no PTB e lançar a candidatura de Roberto Magalhães a prefeito de Recife.
De início, o Planalto estimulou o troca-troca partidário das siglas de oposição para as de situação, mas procurou preservar o PT.
A novidade é que agora também o PT abriu as portas: é prevista para os próximos dias as filiações de um tucano, Ariosto Holanda (CE), e de Lúcia Braga (PB), que se elegeu pelo PTB e está no PMN.


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