São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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TRANSPOSIÇÃO DAS ÁGUAS

Comissão ataca obra e defende criação de cisternas

Projeto não acaba com a seca, diz CPT

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um estudo técnico da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre a transposição do rio São Francisco, projeto considerado prioridade pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que a obra não atingirá 95% do semi-árido brasileiro nem resolverá o problema da seca na região. O relatório analisou tanto o projeto de transposição do governo Lula quanto o planejado no governo Fernando Henrique Cardoso.
O texto, elaborado para a Campanha da Fraternidade da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), cujo tema em 2004 é Fraternidade e Água, coloca em dúvida a eficácia da transposição para abastecer a população carente e também a agroindústria, pelo possível esgotamento do rio.
Segundo o estudo, o semi-árido sofre mais com o acesso à água do que com a seca, já que não há falta de chuvas na região, mas períodos de seca prolongados e dificuldade em armazenar água.
O relatório compara a água disponível no Brasil de acordo com dados da ONU (Organização Nações Unidas). Segundo a ONU, uma área tem "estresse de água" quando oferece menos de 1.000 m3 de água doce por habitante ao ano. O Kwait, por exemplo, tem volume de água por pessoa abaixo de 10 m3.
Pernambuco tem 1.270 m3 por habitante ao ano, o que seria caracterizado como "regular", conforme o estudo. O Estado com maior volume de água disponível por habitante no Brasil é Roraima, com 1,5 milhão de m3.
Segundo Roberto Malvezzi, da coordenação nacional da CPT, os dados ajudam a derrubar o "mito da escassez de água" no Nordeste. A CPT defende projetos como a construção de cisternas, em que a água da chuva é armazenada de maneira que não evapore. "A transposição irá custar bilhões. Com R$ 1.000 construímos uma cisterna para abastecer uma família", diz. Malvezzi defende ainda uma revitalização do rio, que estaria com sua capacidade quase esgotada. "Essa obra é um capricho pessoal do presidente, mas poderá se transformar em mais um elefante branco", diz.
Procurado pela reportagem, a assessoria do Ministério da Integração Nacional disse que não poderia se manifestar sem antes tomar conhecimento do relatório.
Apesar de a CPT ser ligada à CNBB e de a posição do relatório exprimir a visão de alguns bispos, a CNBB informou que ainda não tomou uma posição sobre o tema.


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