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TRANSPOSIÇÃO DAS ÁGUAS
Comissão ataca obra e defende criação de cisternas
Projeto não acaba com a seca, diz CPT
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um estudo técnico da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) sobre a
transposição do rio São Francisco, projeto considerado prioridade pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que a obra não
atingirá 95% do semi-árido brasileiro nem resolverá o problema
da seca na região. O relatório analisou tanto o projeto de transposição do governo Lula quanto o planejado no governo Fernando
Henrique Cardoso.
O texto, elaborado para a Campanha da Fraternidade da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), cujo tema em 2004 é
Fraternidade e Água, coloca em
dúvida a eficácia da transposição
para abastecer a população carente e também a agroindústria, pelo
possível esgotamento do rio.
Segundo o estudo, o semi-árido
sofre mais com o acesso à água do
que com a seca, já que não há falta
de chuvas na região, mas períodos
de seca prolongados e dificuldade
em armazenar água.
O relatório compara a água disponível no Brasil de acordo com
dados da ONU (Organização Nações Unidas). Segundo a ONU,
uma área tem "estresse de água"
quando oferece menos de 1.000
m3 de água doce por habitante ao
ano. O Kwait, por exemplo, tem
volume de água por pessoa abaixo de 10 m3.
Pernambuco tem 1.270 m3 por
habitante ao ano, o que seria caracterizado como "regular", conforme o estudo. O Estado com
maior volume de água disponível
por habitante no Brasil é Roraima, com 1,5 milhão de m3.
Segundo Roberto Malvezzi, da
coordenação nacional da CPT, os
dados ajudam a derrubar o "mito
da escassez de água" no Nordeste.
A CPT defende projetos como a
construção de cisternas, em que a
água da chuva é armazenada de
maneira que não evapore. "A
transposição irá custar bilhões.
Com R$ 1.000 construímos uma
cisterna para abastecer uma família", diz. Malvezzi defende ainda
uma revitalização do rio, que estaria com sua capacidade quase esgotada. "Essa obra é um capricho
pessoal do presidente, mas poderá se transformar em mais um elefante branco", diz.
Procurado pela reportagem, a
assessoria do Ministério da Integração Nacional disse que não poderia se manifestar sem antes tomar conhecimento do relatório.
Apesar de a CPT ser ligada à
CNBB e de a posição do relatório
exprimir a visão de alguns bispos,
a CNBB informou que ainda não
tomou uma posição sobre o tema.
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