|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA DA 2ª
Para Temer, impostos só sobem se for indispensável
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
O presidente da Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), disse que um
aumento de impostos para combater a crise só será aprovado pelo
Congresso se o governo "evidenciar que há uma necessidade
indispensável de medidas onerosas para o contribuinte".
Temer concorda com o diagnóstico que o presidente Fernando
Henrique Cardoso fez em discurso
na quarta passada de que é preciso
um ajuste fiscal forte para enfrentar a "gravíssima" crise.
"Ninguém gosta disso, mas, se
houver necessidade, defendo que
o aumento de impostos seja discutido de forma ampla e transparente no Congresso", declara.
Aliado de FHC, o peemedebista
avalia que deva ser adiada para o
começo fevereiro a discussão sobre o novo ministério. "Agora,
devemos cuidar da economia."
Segundo Temer, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente, ficou encarregado de apresentar um proposta
final de reforma tributária até 20
ou 27 de outubro.
Discorda da proposta de miniconstituinte para 99, por julgar
que só um plebiscito poderia conferir poder ao Congresso para
aprovar reformas por maioria absoluta (298 votos dos 594 congressistas, somadas Câmara e Senado).
"Devemos fazer as reformas pela via constitucional", diz, referindo-se ao quórum de três quintos
dos 513 deputados e 81 senadores.
Folha - Qual a sua a opinião sobre o discurso do presidente, no
qual admitiu aumentar impostos e
propôs ajuste fiscal duro para enfrentar a crise?
Michel Temer - Embora tenha
feito ressalvas, foi a primeira vez
que o presidente Fernando Henrique Cardoso falou em aumento de
impostos. Ninguém gosta disso,
mas, se houver necessidade, defendo que o aumento de impostos
seja discutido de forma ampla e
transparente no Congresso.
Folha - Há clima no Congresso
para aumentar impostos?
Temer - A crise é gravíssima.
Não tenho dúvida de que o primeiro ano do próximo governo será
difícil. A estabilidade econômica é
um valor altamente prezável. Sou
favorável a medidas duras para
mantê-la.
A base do governo é madura para
entender que não é o presidente da
República ou os partidos políticos
que estão ameaçados por essa crise, mas o Brasil.
Folha - O governo estuda aumentar a contribuição previdenciária
do servidor público ativo e inativo
e elevar a alíquota da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). O Congresso as aprovaria?
Temer - Deverá haver resistência. Por isso falei em ampla e transparente discussão. O governo precisará evidenciar que há uma necessidade indispensável de medidas onerosas para o contribuinte.
Se houver a demonstração clara e
evidente dessa necessidade, o país
estará disposto a colaborar.
Folha - O líder do PSDB na Câmara, Aécio Neves (MG), diz que a discussão de ajuste fiscal no Congresso só sai após o segundo turno das
eleições. O sr. concorda?
Temer - Decisão realmente só
após o segundo turno, em 25 de
outubro. Mas é possível, logo após
as eleições, na semana do dia 12,
começar articulações e avançar
dentro dos prazos regimentais.
Folha - O que dá para votar de
verdade? Por exemplo, reforma
política.
Temer - O ano ideal para discutir e votar a reforma política é 99,
no começo da próxima legislatura.
Folha - Nem um projeto isolado
de fidelidade partidária?
Temer - Acho difícil. Tanto
mais que se pretende votar a reforma da Previdência, tentar votar a
reforma tributária, as medidas que
o governo está preparando e o Orçamento da União.
Adiciono ainda as leis complementares que regulamentarão a
reforma administrativa. Não vejo
como discutir reforma política
com uma pauta dessa.
Folha - O secretário-geral do Planalto, Eduardo Graeff, diz que o
governo pretende bancar a proposta de uma miniconstituinte em
99. O sr. concorda?
Temer - Não é conveniente neste momento, sob pena de trazermos instabilidade jurídica. Na hora do debate, por mais que se limitem os temas, nunca se sabe que
mudanças podem ser feitas. Devemos fazer as reformas necessárias
pela via constitucional.
Perdemos a oportunidade de fazer um plebiscito, que seria a única
forma de se pensar em miniconstituinte, pois poder vem do povo.
Folha - O sr. teve uma reunião recente com os presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso,
e do Senado, Antonio Carlos Magalhães, para tratar da reforma tributária. Avançou-se?
Temer - Pedimos que o governo
tivesse um projeto final. Dois dias
depois, o Pedro Parente (secretário-executivo do Ministério da Fazenda) me telefonou dizendo que
o presidente havia pedido que ele
fizesse uma espécie de articulação
com o empresariado e outros setores de modo que por volta dos dias
20, 27 de outubro, tivéssemos um
projeto final.
O relator da reforma tributária e
o presidente da comissão especial
da Câmara imediatamente após 4
de outubro vão se reunir com o Parente.
Folha - E se a discussão da reforma tributária na comissão especial
da Câmara começar a patinar?
Temer - Se for indispensável,
como presidente da Casa, tenho a
faculdade regimental de avocar o
projeto para votá-lo diretamente
no plenário.
Folha - O sr. não teme que mais
uma vez a Câmara prometa votar
muitas coisas e acabe votando
quase nada?
Temer - Temos tido a cautela de
dizer que vamos fazer uma tentativa. Para ganhar um ano, cogitamos dessa votação ampla neste
ano. No entanto, a gravidade da
crise mostra que nós parlamentares não podemos perder essa janela histórica, sob pena de o país inteiro perder.
Folha - Qual a sua opinião sobre
um acordo com o FMI, que está pedindo ao Brasil um ajuste "forte e
crível"?
Temer - Há a simbologia de que
toda vez que um país vai ao FMI ele
está nas últimas. A recomendação
sobre o aspecto simbólico é o país
jogar com suas cartas enquanto
puder. Mas, se necessário, desde
que a negociação seja competente,
não teria preconceito.
Folha - Há uma discussão no governo a respeito de se deixar a escolha de novos ministros para o
começo de fevereiro, às vésperas
da posse dos novos parlamentares
e das eleições para as presidências
da Câmara e do Congresso. A lógica seria evitar uma negociação política desgastante para tratar da
economia.
Temer - Naturalmente, a decisão
é do presidente. Mas, se pudesse
dar um palpite, diria que a discussão de natureza política deve ficar
para o começo de fevereiro. Agora,
devemos cuidar da economia, sob
pena de atrapalharmos uma tarefa
que se mostra imperiosa. Não tenho a menor dúvida de que o
PMDB apoiaria.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|