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QUESTÃO INDÍGENA
Financiadores alemães querem saber por que o órgão não usou verba para demarcação de terra
Funai usa doação para pagar suas contas
LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília
Com dificuldades financeiras, a
Funai usou R$ 804 mil que haviam
sido doados pela Alemanha para
demarcação de terras indígenas na
Amazônia para cobrir suas contas.
Segundo apurou a Folha, o dinheiro foi retirado da conta bancária do PPTAL (Programa Integrado de Proteção às Terras e Populações Indígenas da Amazônia
Legal) e usado para pagar contas
do órgão federal.
Metade dos recursos já foi devolvida, mas o caso chegou ao conhecimento dos financiadores do programa, um grupo quer reúne empresas, entidades ambientalistas e
bancos como o KFW.
Os coordenadores alemães do
projeto pediram, por telefone, que
a Funai explique em carta o que
ocorreu.
O Ministério da Justiça e a direção do programa pressionam a
Funai a devolver o restante do dinheiro antes que o caso tome proporções maiores.
O PPTAL faz parte do PPG7
(Programa Piloto para Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil),
administrado pelo Banco Mundial
e financiado pelos países mais ricos do mundo -Alemanha, Japão, EUA, Canadá, Itália, França e
Reino Unido- e pela União Européia.
A Alemanha é o maior financiador do PPG7 e, em especial, do
programa para demarcação de terras indígenas. A Funai participa do
programa gerenciando o dinheiro.
A falta dos R$ 804 mil na conta
bancária do PPTAL foi notada
quando uma fatura de R$ 250 mil
que deveria ser quitada pelo programa foi devolvida por falta de
pagamento.
O dinheiro do PPTAL havia sido
sacado pela Funai e usado para pagar contas do órgão, que amarga
uma de suas piores fases de falta de
recursos. Pelas normas do PPG7, a
Funai só tinha autorização para
usar a verba com proteção às terras indígenas.
O ministro da Justiça, Renan Calheiros, foi informado do rombo
na conta do PPTAL e, por telefone, exigiu do presidente da Funai,
Sulivan Silvestre, que se encontrava em Manaus, que o dinheiro fosse imediatamente reposto.
A Funai repôs R$ 250 mil e colocou mais R$ 150 mil à disposição
do programa. Prometeu devolver
o resto à medida em que o PPTAL
precisasse do dinheiro.
Em 97, a Funai contou com uma
verba de R$ 62,4 milhões. O orçamento do órgão para 98 era de R$
47 milhões, mas foi cortado para
R$ 35,6 milhões por causa da crise
econômica.
Calheiros e a direção do PPG7
encaram o caso como uma trapalhada da Funai. Mas temem que a
imagem do Brasil seja arranhada
no exterior, exatamente no momento em que o governo tenta
apagar o estereótipo de país que
pouca atenção dá à questão indígena e ao controle de recursos públicos.
O PPG7 -maior programa
mundial de proteção de florestas
tropicais- já recebeu cerca de R$
200 milhões em doações.
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