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PRIVATIZAÇÃO
Norte-americana AES compra geradora paulista por R$ 938 mi, ágio de 30%; banco emprestará R$ 360 mi
BNDES "salva" leilão de energética em SP
PATRÍCIA ANDRADE
PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local
A decisão do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) de financiar
grupos estrangeiros na privatização da Companhia de Geração de
Energia Elétrica Tietê viabilizou a
compra da estatal ontem pela empresa norte-americana AES por
R$ 938 milhões.
O valor corresponde a um ágio
de 29,97% sobre o preço mínimo,
que era de R$ 721,7 milhões -um
dos menores obtidos pelo governo de São Paulo no processo de
privatização do setor energético.
O ágio só não foi menor do que os
dos leilões da Eletropaulo Metropolitana e Bandeirante, vendidas
pelo preço mínimo, em 98.
O presidente da AES no Brasil,
Luiz David Travesso, admitiu que
a participação do BNDES foi
"fundamental" para que a empresa entrasse no leilão.
"Tínhamos decidido não participar da privatização. Buscamos
financiamento no mercado local e
no internacional sem a resposta
que esperávamos. No nosso caso,
o BNDES viabilizou a compra",
declarou Travesso.
Segundo ele, a AES estava negociando o financiamento com o
banco há cerca de 10 dias, mas só
obteve o sinal verde na véspera do
leilão. O BNDES nega o contato.
O empréstimo concedido pelo
banco foi de 50% do preço mínimo, cerca de R$ 360 milhões, a serem pagos com carência de um
ano e prazo total de cinco para
quitação. Como o vencedor foi
uma empresa estrangeira, a correção monetária terá por base
uma cesta de moedas (variação
cambial) mais a taxa de risco
anual, que está em torno de 5%.
A AES comprou 38,66% do capital total da empresa, sendo que
31,92% em ações ordinárias (com
direito a voto) e 6,74% em preferenciais. As ordinárias correspondem a 61,62% do capital votante
da companhia, o que significa que
a norte-americana adquiriu o
controle acionário da Tietê.
Cemig
O leilão foi realizado em meio a
um clima de tensão ocasionado
pela anulação do acordo entre o
governo mineiro e os acionistas
privados da energética Cemig.
Entre as empresas prejudicadas
com as mudanças nas regras do
jogo em Minas está a própria AES,
detentora, em consórcio, de 33%
do capital ordinário (com direito
a voto) da empresa.
"Essa é uma questão isolada, específica do governo de Minas,
mas obviamente há uma preocupação de que episódios como esse
se alastrem", avaliou Travesso.
Pelo menos uma empresa -a
norte-americana Duke Energy,
considerada uma das mais fortes
participantes- desistiu de entrar
no leilão por causa dos problemas
com a Cemig. O governo paulista
chegou a pensar em adiar a venda
da Tietê diante da perspectiva de
haver menos concorrentes.
Na segunda-feira, o governador
Mário Covas (PSDB) se reuniu
com a equipe responsável pelo
programa de desestatização para
avaliar a situação. Decidiram
manter a data da venda porque
quatro empresas ainda se dispunham a competir pela geradora.
No dia seguinte à reunião, três
grupos depositaram garantias para disputar o controle da Tietê
-a vencedora AES, a belga Tractebel e a brasileira VBC (Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa).
Mas, durante o leilão, somente
duas empresas apresentaram
propostas. A corretora representante da Tractebel entregou seu
lance de R$ 761,2 milhões, um
ágio de 5,47%, quando faltavam
30 segundos para o final do prazo.
"O senhor vai ter um pouquinho
mais de dinheiro, seu Mário",
brincou o corretor da AES depois
da leitura do lance da concorrente
Tractebel.
"Fizemos uma boa venda", afirmou o governador. Covas negou
que a concessão do empréstimo
do BNDES tenha influenciado na
manutenção da data do leilão.
"Eu não fiz e não deixei ninguém do meu governo fazer qualquer contato com o banco. O
BNDES empresta dinheiro a
quem ele quiser. Não vou atrás
deles pedir dinheiro para os outros, mas para o governo do Estado. E quando preciso, em geral,
não obtenho", completou.
Sinalização
Na avaliação do secretário de
Energia de São Paulo, Mauro Arce, a compra da Tietê justamente
pela AES "é uma sinalização importante para os investidores estrangeiros", opinião compartilhada por representantes da empresa
norte-americana AEP, que cogitou participar do leilão.
Segundo a Folha apurou, a AEP
pretende disputar o controle da
Paraná, a última das três geradoras de energia surgidas a partir da
cisão da Cesp.
O pagamento pela Tietê terá de
ser feito até o próximo dia 10, à
vista. Além dos R$ 938 milhões, a
AES terá de pagar mais R$ 23,3
milhões, correspondentes ao ágio
de 50% em parte das ações oferecidas aos funcionários.
Caso os empregados da Tietê
não se interessem pela compra, a
empresa norte-americana terá de
depositar ainda R$ 70 milhões na
conta do governo até o dia 20 de
dezembro. Além disso, a AES assume a dívida da companhia, que
é de R$ 1,2 bilhão.
Ao chegar ao leilão, Covas foi
recebido por cerca de cem manifestantes, segundo a PM. O governador ganhou de um dos participantes do protesto várias moedas
e algumas notas de R$ 1. "Vou dar
para o primeiro pobre que encontrar", disse o tucano.
Colaborou a Sucursal do Rio
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