São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aliados querem mudar a política econômica

MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso não passa no teste de votos de 2002, indicaram nos últimos dias integrantes dos principais partidos da base de apoio do Planalto. Mesmo longe de indicar um candidato de consenso à sucessão, PSDB, PFL e PMDB clamam em coro por mudanças na economia.
O primeiro sinal veio do pré-candidato tucano Tasso Jereissati, ao defender maior intervenção do Estado na economia. No dia seguinte, José Serra, outro pré-candidato do PSDB, propôs, sob o nome de lei de responsabilidade cambial, prioridade à redução do déficit nas contas externas -tido como o ponto mais frágil do Real.
Simplificando bastante a história: como precisa de muitos dólares para fechar as contas externas, o país não consegue baixar os juros, e as taxas altas freiam o crescimento da economia. Poucas horas depois do discurso de Serra, o PFL lançou ao debate suas diretrizes para um programa de governo, onde escreveu que estabilidade não pode ser mantida à custa do crescimento econômico.
Por fim, a cúpula do PMDB recebeu a encomenda de um esboço de programa de governo do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, principal opositor, no governo, da política do ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Não há, por ora, um figurino comum entre os aliados governistas para o Plano Real vestir nas eleições de 2002. Mas as linhas gerais estão dadas: mais crescimento, mais exportações, juros mais baixos, estímulo ao desenvolvimento, menos dívida, menos dependência externa. Apesar da crítica clara à política econômica em curso, não há aí nenhuma heresia muito grande em relação ao modelo que deu origem ao Real.
A revista inglesa "The Economist", famosa por defender idéias liberais, comentou, em editorial, que a inflação não era pior que a recessão global. O presidente do FED (banco central dos EUA), Alan Greenspan, reconheceu a vulnerabilidade externa de economias emergentes e defendeu que países industrializados deveriam importar mais desses mercados. O esboço de programa do PFL cita até documentos do FMI.
"É que o modelo que nós defendemos é um modelo que está se construindo", explicou o ministro Paulo Renato Souza (Educação), coordenador dos dois programas de governo de FHC, o Mãos à Obra e o Avança Brasil.
"Moeda estável só é importante se ela exerce essa qualidade no bolso do cidadão", pondera Moreira Franco, dirigente do PMDB e o assessor da Presidência, que já deu a partida na discussão das teses de Mendonça de Barros.
"A política econômica precisa passar por uma profunda autocrítica. Não existe programa para 2003 sem crítica ao processo", emenda Paulo Rabello de Castro, guru econômico do PFL e coordenador do documento das diretrizes de governo do partido.
Entre os aliados, o PFL é o que foi mais longe até aqui no detalhamento do que deve ser feito para "recauchutar" o Real: "Não existe milagre, o Orçamento do primeiro ano de governo será um Orçamento de guerra", diz Rabello.
Não está escrito no documento divulgado nos últimos dias, mas ele acha inevitável um choque econômico em 2003. O economista defende um superávit primário correspondente a 5% do PIB. Para medir o tamanho do aperto, no ano passado, o superávit ficou em 3,54% do PIB. "Esse choque é adiado desde 1999", argumenta.



Texto Anterior: Sucessão no escuro: Debate eleitoral antecipa fim da era Malan
Próximo Texto: Grafite
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.