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Aliados querem mudar a política econômica
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso
não passa no teste de votos de
2002, indicaram nos últimos dias
integrantes dos principais partidos da base de apoio do Planalto.
Mesmo longe de indicar um candidato de consenso à sucessão,
PSDB, PFL e PMDB clamam em
coro por mudanças na economia.
O primeiro sinal veio do pré-candidato tucano Tasso Jereissati,
ao defender maior intervenção do
Estado na economia. No dia seguinte, José Serra, outro pré-candidato do PSDB, propôs, sob o
nome de lei de responsabilidade
cambial, prioridade à redução do
déficit nas contas externas -tido
como o ponto mais frágil do Real.
Simplificando bastante a história: como precisa de muitos dólares para fechar as contas externas,
o país não consegue baixar os juros, e as taxas altas freiam o crescimento da economia. Poucas horas depois do discurso de Serra, o
PFL lançou ao debate suas diretrizes para um programa de governo, onde escreveu que estabilidade não pode ser mantida à custa
do crescimento econômico.
Por fim, a cúpula do PMDB recebeu a encomenda de um esboço
de programa de governo do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça
de Barros, principal opositor, no
governo, da política do ministro
da Fazenda, Pedro Malan.
Não há, por ora, um figurino comum entre os aliados governistas
para o Plano Real vestir nas eleições de 2002. Mas as linhas gerais
estão dadas: mais crescimento,
mais exportações, juros mais baixos, estímulo ao desenvolvimento, menos dívida, menos dependência externa. Apesar da crítica
clara à política econômica em
curso, não há aí nenhuma heresia
muito grande em relação ao modelo que deu origem ao Real.
A revista inglesa "The Economist", famosa por defender idéias
liberais, comentou, em editorial,
que a inflação não era pior que a
recessão global. O presidente do
FED (banco central dos EUA),
Alan Greenspan, reconheceu a
vulnerabilidade externa de economias emergentes e defendeu
que países industrializados deveriam importar mais desses mercados. O esboço de programa do
PFL cita até documentos do FMI.
"É que o modelo que nós defendemos é um modelo que está se
construindo", explicou o ministro Paulo Renato Souza (Educação), coordenador dos dois programas de governo de FHC, o
Mãos à Obra e o Avança Brasil.
"Moeda estável só é importante
se ela exerce essa qualidade no
bolso do cidadão", pondera Moreira Franco, dirigente do PMDB
e o assessor da Presidência, que já
deu a partida na discussão das teses de Mendonça de Barros.
"A política econômica precisa
passar por uma profunda autocrítica. Não existe programa para
2003 sem crítica ao processo",
emenda Paulo Rabello de Castro,
guru econômico do PFL e coordenador do documento das diretrizes de governo do partido.
Entre os aliados, o PFL é o que
foi mais longe até aqui no detalhamento do que deve ser feito para
"recauchutar" o Real: "Não existe
milagre, o Orçamento do primeiro ano de governo será um Orçamento de guerra", diz Rabello.
Não está escrito no documento
divulgado nos últimos dias, mas
ele acha inevitável um choque
econômico em 2003. O economista defende um superávit primário
correspondente a 5% do PIB. Para
medir o tamanho do aperto, no
ano passado, o superávit ficou em
3,54% do PIB. "Esse choque é
adiado desde 1999", argumenta.
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