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No CE, municípios não conseguem médicos
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O principal problema do Programa Saúde da Família no Ceará
é a falta de médicos, principalmente nos municípios mais distantes dos centros urbanos. Segundo a coordenadora estadual,
Maria Imaculada Ferreira da Fonseca, 74 municípios solicitam médicos atualmente no Ceará, oferecendo salários de até R$ 6.000.
"Poucos se interessam por causa da própria formação universitária, que é voltada à especialização. No caso do médico do Programa Saúde da Família, ele tem
de ser um generalista, e hoje não
existe esse tipo de formação no
Brasil", disse Maria Imaculada.
No Ceará, são 1.314 equipes. Em
Fortaleza, para atender a demanda, seriam necessárias cerca de
900 equipes, mas só existem 101
atuando no momento.
"Somos praticamente obrigadas a não cadastrar novas famílias
porque não dá tempo de atendê-las", disse a agente de saúde Eunice Pereira da Silva. "Estamos tão
sobrecarregadas que o atendimento fica prejudicado.
"Poderíamos fazer um atendimento melhor", disse outra agente, Solange Maria Tabosa Martins.
Elas visitam, por dia, 16 famílias e
recebem R$ 200 por mês.
No Centro Social Urbano César
Cals, no bairro do Pici, periferia
de Fortaleza, trabalham cinco
equipes, cada uma responsável
por 1.300 famílias.
Além de receber todo mês a visita de uma agente de saúde, Cristina Ferreira, 27, à espera do quarto
filho, vai mensalmente ao posto
para o pré-natal. Desde a segunda
gravidez, conta com a assistência
do mesmo médico e da mesma
enfermeira. "Dá uma tranquilidade muito grande", diz. "O que nos
mantém no projeto é esse vínculo
com os pacientes", disse o médico
Cid Carlos Soares de Alcântara,
no programa há quatro anos.
Entre as reclamações das equipes que trabalham no local, estão
a falta de material -fichas de cadastro, lápis e canetas, remédios-, e a falta de vínculos empregatícios com a prefeitura.
Outro lado
Segundo o secretário de Saúde
de Fortaleza, Aldrovando Nery, a
causa do déficit de médicos no
município é a falta de interesse
dos profissionais. "A maioria não
quer dar exclusividade, porque o
programa exige que o médico tenha uma carga horária de oito horas diárias. Eles preferem trabalhar em outros locais", disse.
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