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ESQUERDA NO DIVÃ
Presidente discursa em congresso da Internacional Socialista
Integração mundial ameaça a soberania do país, diz Lula
Jorge Araújo/Folha Imagem
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O presidente Lula na abertura do 22º Congresso da Internacional Socialista, que reúne em São Paulo 150 partidos de todo o mundo |
JULIA DUAILIBI
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Num discurso com referências
implícitas aos Estados Unidos e à
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem,
na abertura do 22º Congresso da
Internacional Socialista, em São
Paulo, que a soberania do Brasil
"foi e é ameaçada".
"Em nome de uma integração
necessária do Brasil ao mundo,
governantes tornaram nosso país
extremamente vulnerável aos
movimentos dos capitais especulativos e às pressões das forças políticas que os sustentam", disse.
Ontem, dia em que completou
58 anos de idade e em que foi comemorado o primeiro ano de sua
vitória nas urnas, Lula falou a cerca de 500 pessoas, representantes
de 150 partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas de todo
o mundo -no Brasil, só o PDT
faz parte da Internacional.
Alguns dos convidados mais esperados, no entanto, como o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González e o ex-líder soviético
Mikhail Gorbatchov não compareceram. O encontro da Internacional Socialista termina amanhã.
O presidente Lula usou o discurso para fazer uma espécie de
balanço crítico da história da esquerda mundial, afirmando que o
PT pertence "a uma outra geração
de partidos" e quer enfrentar de
forma "não-dogmática os grandes desafios do país".
De acordo com o presidente,
"importantes alternativas políticas se constróem sem dogmatismo, de forma plural, no respeito à
diferença".
Ao citar o PT, ele disse que, "nas
derrotas do socialismo, sempre a
desunião ocupou um lugar importante". Completou: "Nas vitórias, a unidade foi fundamental.
Essa é também a experiência do
meu partido".
É a primeira vez que um encontro da Internacional Socialista
ocorre no Brasil. Ele se dá num
momento em que o poder de influência da organização no debate
mundial é contestado pela própria esquerda. O encontro busca
debater o papel da esquerda hoje.
"As profundas transformações
pelas quais passou o mundo nas
últimas décadas abalaram muitas
certezas e afetaram em parte paradigmas socialistas do passado",
discursou Lula.
Protecionismo
Para a platéia esquerdista, Lula
voltou a questionar a posição dos
países desenvolvidos nas negociações comerciais. Sem citar os
EUA, disse que "há países que
pregam o livre comércio, mas
praticam intensamente o protecionismo".
"Querem tarifa zero nas relações comerciais, mas não abrem
mão de subsídios, que hoje alcançam US$ 1 bilhão por dia. Querem
liberalizar serviços, investimentos, propriedade intelectual e
compras governamentais, mas
utilizam cotas e medidas antidumping para proteger setores
ineficientes das economias."
No único momento em que fez
referência explícita aos EUA, o
presidente disse que seu governo
conseguiu manter "um relacionamento equilibrado e mutuamente
respeitoso com os Estados Unidos e a União Européia".
Lula foi aplaudido quando falou
sobre a "guerra contra a fome".
"Nosso programa Fome Zero, por
meio do qual queremos erradicar
essa vergonha nacional, não é
-como alguns pretendem- um
mero programa assistencial."
Afirmou ainda que não poderia
pedir aos que têm fome para "esperar os resultados da reconstrução de nossa economia". Por isso,
segundo o presidente, torna-se
"evidente que teremos de lançar
mão de políticas emergenciais".
Sem citar o "espetáculo do crescimento", prometido para este semestre, Lula declarou que "já está
em marcha [...] um novo, vigoroso e duradouro ciclo de desenvolvimento".
O presidente voltou a defender
a reestruturação da ONU (Organização das Nações Unidas). O
Brasil postula uma vaga permanente no Conselho de Segurança
do organismo.
"Precisamos reconstruir a
ONU, ajustando-a às novas realidades do mundo de hoje, distintas daquelas dos anos 40, quando
ela foi criada. A Organização das
Nações Unidas tem que ser reformada, especialmente seus mecanismos de segurança coletiva, o
Conselho de Segurança e os organismos com a responsabilidade
de enfrentar os problemas econômicos e sociais", afirmou o presidente Lula.
"Porta de fábrica"
Lula aproveitou seu discurso
para avisar que, diferentemente
de ex-dirigentes que vão para o
exterior, ele não pensa em sair do
Brasil quando tiver que deixar o
Palácio do Planalto.
"Quando terminar o meu mandato, eu vou voltar a morar a 600
metros do sindicato dos metalúrgicos. Pretendo continuar indo
para porta de fábrica, participando dos movimentos populares,
porque a minha história está ligada a esses movimentos."
Assim que deixou Brasília, Fernando Henrique Cardoso passou
os primeiros meses do ano na
França. O ex-presidente está nos
EUA, onde deve continuar até janeiro, fazendo pesquisas na biblioteca do Congresso americano.
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