UOL

São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESQUERDA NO DIVÃ

Presidente discursa em congresso da Internacional Socialista

Integração mundial ameaça a soberania do país, diz Lula

Jorge Araújo/Folha Imagem
O presidente Lula na abertura do 22º Congresso da Internacional Socialista, que reúne em São Paulo 150 partidos de todo o mundo


JULIA DUAILIBI
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Num discurso com referências implícitas aos Estados Unidos e à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, na abertura do 22º Congresso da Internacional Socialista, em São Paulo, que a soberania do Brasil "foi e é ameaçada".
"Em nome de uma integração necessária do Brasil ao mundo, governantes tornaram nosso país extremamente vulnerável aos movimentos dos capitais especulativos e às pressões das forças políticas que os sustentam", disse.
Ontem, dia em que completou 58 anos de idade e em que foi comemorado o primeiro ano de sua vitória nas urnas, Lula falou a cerca de 500 pessoas, representantes de 150 partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas de todo o mundo -no Brasil, só o PDT faz parte da Internacional.
Alguns dos convidados mais esperados, no entanto, como o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González e o ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov não compareceram. O encontro da Internacional Socialista termina amanhã.
O presidente Lula usou o discurso para fazer uma espécie de balanço crítico da história da esquerda mundial, afirmando que o PT pertence "a uma outra geração de partidos" e quer enfrentar de forma "não-dogmática os grandes desafios do país".
De acordo com o presidente, "importantes alternativas políticas se constróem sem dogmatismo, de forma plural, no respeito à diferença".
Ao citar o PT, ele disse que, "nas derrotas do socialismo, sempre a desunião ocupou um lugar importante". Completou: "Nas vitórias, a unidade foi fundamental. Essa é também a experiência do meu partido".
É a primeira vez que um encontro da Internacional Socialista ocorre no Brasil. Ele se dá num momento em que o poder de influência da organização no debate mundial é contestado pela própria esquerda. O encontro busca debater o papel da esquerda hoje.
"As profundas transformações pelas quais passou o mundo nas últimas décadas abalaram muitas certezas e afetaram em parte paradigmas socialistas do passado", discursou Lula.

Protecionismo
Para a platéia esquerdista, Lula voltou a questionar a posição dos países desenvolvidos nas negociações comerciais. Sem citar os EUA, disse que "há países que pregam o livre comércio, mas praticam intensamente o protecionismo".
"Querem tarifa zero nas relações comerciais, mas não abrem mão de subsídios, que hoje alcançam US$ 1 bilhão por dia. Querem liberalizar serviços, investimentos, propriedade intelectual e compras governamentais, mas utilizam cotas e medidas antidumping para proteger setores ineficientes das economias."
No único momento em que fez referência explícita aos EUA, o presidente disse que seu governo conseguiu manter "um relacionamento equilibrado e mutuamente respeitoso com os Estados Unidos e a União Européia".
Lula foi aplaudido quando falou sobre a "guerra contra a fome". "Nosso programa Fome Zero, por meio do qual queremos erradicar essa vergonha nacional, não é -como alguns pretendem- um mero programa assistencial."
Afirmou ainda que não poderia pedir aos que têm fome para "esperar os resultados da reconstrução de nossa economia". Por isso, segundo o presidente, torna-se "evidente que teremos de lançar mão de políticas emergenciais".
Sem citar o "espetáculo do crescimento", prometido para este semestre, Lula declarou que "já está em marcha [...] um novo, vigoroso e duradouro ciclo de desenvolvimento".
O presidente voltou a defender a reestruturação da ONU (Organização das Nações Unidas). O Brasil postula uma vaga permanente no Conselho de Segurança do organismo.
"Precisamos reconstruir a ONU, ajustando-a às novas realidades do mundo de hoje, distintas daquelas dos anos 40, quando ela foi criada. A Organização das Nações Unidas tem que ser reformada, especialmente seus mecanismos de segurança coletiva, o Conselho de Segurança e os organismos com a responsabilidade de enfrentar os problemas econômicos e sociais", afirmou o presidente Lula.

"Porta de fábrica"
Lula aproveitou seu discurso para avisar que, diferentemente de ex-dirigentes que vão para o exterior, ele não pensa em sair do Brasil quando tiver que deixar o Palácio do Planalto.
"Quando terminar o meu mandato, eu vou voltar a morar a 600 metros do sindicato dos metalúrgicos. Pretendo continuar indo para porta de fábrica, participando dos movimentos populares, porque a minha história está ligada a esses movimentos."
Assim que deixou Brasília, Fernando Henrique Cardoso passou os primeiros meses do ano na França. O ex-presidente está nos EUA, onde deve continuar até janeiro, fazendo pesquisas na biblioteca do Congresso americano.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Saiba mais: Movimento é herdeiro da 2ª Internacional
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.