São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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ESPIONAGEM

Material da Kroll será periciado em Brasília

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA, EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL

A operação que a Polícia Federal deflagrou ontem para investigar a empresa Kroll reuniu um caminhão de documentos, computadores e equipamentos que agora serão periciados em Brasília. Os policiais federais têm nas mãos, agora, uma série de investigações já realizadas e ainda em curso na Kroll, que envolvem dezenas de empresas e pessoas.
O material foi transportado da sede da Kroll para a Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, num caminhão de mudanças. "A documentação e o tipo de equipamentos eletrônicos de informática que nós procurávamos foram encontrados em uma quantidade muito farta de material para ser analisada", disse, no final da tarde, o delegado da PF de Brasília e porta-voz da operação, Romero Menezes.
O trabalho da Polícia Federal só começou. A expectativa é que a análise de todo esse material possa trazer elementos para desvendar as supostas irregularidades cometidas pela Kroll, eventualmente com a conivência da Brasil Telecom.
Sobre as mesas dos investigadores privados distribuídas entre o oitavo e o nono andar do Bloco B do Edifício Tenerife, sede da Kroll, localizada no bairro da Vila Olímpia, os policiais encontraram escrituras de imóveis, estatutos e registros de empresas em juntas comerciais, atas de reuniões e cópias de processos judiciais.
No nono andar, uma das salas estava inteiramente ocupada com um provável arquivo morto: caixas de papelão com etiquetas de "caso encerrado".
Mas foi no oitavo andar que a PF encontrou o indício mais suspeito detectado ontem: equipamentos que poderia ser utilizados para fazer escutas telefônicas. As características técnicas foram reconhecidas por um perito da PF recrutado para a missão.
Combinado com os demais elementos que sugerem prática de atividades ilegais, a revelação do potencial criminoso dos aparelhos levou à prisão de cinco funcionários da Kroll -previsão que não existia na manhã de ontem, quando a Polícia Federal desencadeou a Operação Chacal.

Encapuzados
Os policiais chegaram ao prédio da Kroll em três carros e numa camionete descaracterizados. Com capuzes de malha que deixaram apenas os olhos visíveis -alguns até armados-, avisaram à recepcionista de que se tratava de uma operação policial e tiraram os telefones da portaria do gancho. Entraram no prédio pulando as catracas do térreo e se instalaram entre o oitavo e o nono andares.
Três funcionários da Kroll -um deles mexicano-, que chegaram ao trabalho depois das 9h30 e pediram para não se identificar, foram informados de que não poderiam ingressar na empresa. O mesmo aviso foi dado à recepção do prédio: a Kroll não teria atividades ao longo do dia. Para fazer chegar os lanches do almoço ao destino, o entregador esperou uma hora e meia.
Às 16h30, em plena operação (que não havia sido concluída até o fechamento desta edição), um dos carros usados pela PF, um Fiat Uno vermelho, quase foi guinchado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) porque estava parado em local proibido. Avisado, o fiscal de trânsito rasgou a autuação (algo em torno de R$ 175) e dispensou o guincho.
Os 90 policiais mobilizados iniciariam o cumprimento dos mandados simultaneamente em 16 locais. São Paulo teve sete alvos.
Outros seis foram deflagrados no Rio de Janeiro, entre os quais, pela segunda vez, a casa do português Tiago Verdial, contratado pela Kroll para atuar no "Projeto Tóquio", nome que batizou a investigação sobre a Telecom Itália. Em julho, Verdial chegou a ser preso e depois liberado pela PF.
As cidades de Ribeirão Preto, Brasília e Curitiba tiveram um alvo de atuação da PF cada uma.
(AM e RV)


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