São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Banqueiro e executiva de um grupo telefônico podem ser indiciados em inquérito da Polícia Federal; ação ocorreu em três Estados e no DF

Ação da PF prende cinco na Kroll por escuta ilegal

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Agente da Polícia Federal participa de operação de busca e apreensão na sede da Kroll, em São Paulo, ontem; a ação teve 16 alvos


ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em operação desencadeada ontem simultaneamente em três Estados e no Distrito Federal, a Polícia Federal prendeu cinco funcionários da Kroll, maior empresa de investigação privada no país, e antecipou que deverá indiciar os dirigentes do banco Opportunity, Daniel Dantas, e da empresa de telefonia Brasil Telecom, Carla Cicco. O delegado da PF de Brasília e porta-voz da "Operação Chacal", Romero Menezes, revelou que "foram colhidas provas" de que as três empresas se valeram de procedimentos ilegais para investigar uma rival no ramo da telefonia, a Telecom Itália. A espionagem da Kroll foi revelada pela Folha em julho último. Ontem, 90 policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em 16 endereços em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Paraná, incluindo as casas do banqueiro Dantas, no Rio, e da executiva Cicco, em Brasília. A PF apreendeu na Kroll em São Paulo "dezenas" de computadores e equipamentos que "podem ser utilizados para escuta clandestina".
O objetivo da "Operação Chacal", como foi batizada em referência ao personagem de um livro de espionagem do escritor inglês Frederick Forsyth, era encontrar novos elementos -arquivos de computador e documentos- para reforçar indícios já coletados pela PF anteriormente de que a Kroll atuaria também à margem das leis brasileiras.
Com mandado de busca e apreensão expedido pelo juiz federal substituto da 5ª Vara Federal Criminal, Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira, parte dos 90 policiais federais que participaram da operação invadiu às 9h a sede da Kroll, que ocupa dois andares num prédio no bairro de Vila Olímpia, em São Paulo.
Outro grupo de policiais entrou na casa da presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco, em Brasília, de onde levou um computador. A PF também cumpriu mandado judicial na casa do banqueiro Daniel Dantas, no Rio.
Outros alvos foram colaboradores contratados pela Kroll para obter documentação relativa à Telecom Itália, sócios e pessoas que supostamente trabalhavam para os interesses da concorrente.
No final da manhã, a PF localizou "três ou quatro" maletas que, segundo a polícia, podem ser utilizadas para grampo clandestino. A lei que regula a interceptação telefônica no Brasil restringe seu uso a autoridades e mediante ordem judicial.
Após a descoberta, a PF decidiu prender o diretor de serviços financeiros da Kroll, Eduardo Gomide, o "gerente de casos" na empresa, como a polícia o identificou, Vander Giordano, a investigadora Júlia Leitão da Cunha e os funcionários Rodrigo Ventura e Ricardo Sanches, que saberiam operar os equipamentos.
As irregularidades praticadas levarão, segundo a PF, ao indiciamento da Brasil Telecom pelos mesmos crimes.

Entrevista
Em entrevista coletiva no final da tarde, o delegado da PF de Brasília e porta-voz da operação, Romero Menezes, foi indagado se a polícia vai indiciar o banqueiro Daniel Dantas e a executiva Carla Cicco. "O que eu posso dizer para você é que o andamento da investigação, com todas as provas colhidas hoje, e o que nós temos apontam certamente para o indiciamento de todas essas pessoas", respondeu o delegado.
Em julho, a Folha revelou que a Brasil Telecom contratou a Kroll para espionar a Telecom Italia, empresa com a qual trava uma intensa batalha judicial. A investigação paralela, detectada em inquérito da Polícia Federal destinado a apurar irregularidades na Parmalat, deixou rastros de ilegalidades, como acesso a dados fiscais sigilosos do presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb, e extratos de ligações telefônicas de pessoas investigas, informações cujo acesso também é preservado por lei.
Não há provas, no entanto, de que o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) também tenha sido alvo da Kroll.
Segundo o delegado Menezes, há indícios de que a Kroll cometeu pelo menos seis crimes: formação de quadrilha, oferecimento de vantagem a testemunha, quebra de sigilo bancários, usurpação de função e quebra de sigilos telefônico e telemático (interceptação de e-mail, fax e telex).
O indiciamento da executiva Cicco e do banqueiro Dantas, que controla a Brasil Telecom por meio do Opportunity, dependerá da comprovação de que teria havido conivência entre contratante e contratada em práticas ilícitas com o objetivo de espionar a Telecom Italia.


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