São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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ECOS DO REGIME

Mulher de desaparecido no Araguaia diz que presidente fez menos que Collor em relação aos arquivos da ditadura

Para familiares de mortos, Lula fez pouco

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dizendo-se decepcionados com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, familiares de mortos e desaparecidos políticos do regime militar afirmaram que a administração petista "fez, até agora, menos do que o governo [Fernando] Collor [de Mello] em relação aos arquivos da ditadura".
Em entrevista a correspondentes estrangeiros em Brasília, eles defenderam a abertura de arquivos da ditadura (1964-1985) primeiro aos familiares.
Segundo Suzana Lisboa, representante dos familiares na Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos, e Criméia Almeida, ex-guerrilheira e companheira de André Grabois, desaparecido no Araguaia, a imprensa internacional "sempre foi importantíssima para denunciarmos os crimes da ditadura". "Hoje estamos denunciando os crimes da democracia", disse Suzana.
Segundo ela, o único presidente que abriu arquivos da ditadura militar foi o Fernando Collor de Mello (1990-1992). "O presidente Lula, com tantos membros de esquerda, em quem votamos e por quem fizemos campanha, nem sequer nos recebeu ou respondeu nossas cartas", disse Criméia.

Fotos
Elas defenderam que o governo crie uma comissão para fazer a abertura de arquivos secretos do regime militar- com a participação dos familiares. "Sabemos que muitas fotos foram tiradas para constranger as pessoas", disse Criméia. Por isso, eles defendem que as famílias participem de um processo em que "elementos constrangedores" sejam separados dos documentos antes de sua abertura ao público. Apesar de defender que os documentos são "bens históricos e culturais do país", os familiares querem evitar constrangimento à imagem das vítimas.
Por meio de sua assessoria, o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) considera que houve grandes avanços no atual governo. Entre eles, a Lei 10.875, que ampliou as hipóteses de reconhecimento pelo Estado das mortes de desaparecidos políticos.
Nilmário afirmou ainda que todas as denúncias que chegam até agora para identificação de corpos foram alvo de busca e investigação.
Suzana disse que o Brasil está "muito atrás" dos outros países da América Latina no processo de "curar as feridas" da ditadura.
Segundo ela, o governo chileno foi a público pedir desculpas pelos crimes cometidos durante o regime militar e a Argentina está a caminho de julgar seus torturadores.


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