São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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EXTREMOS

Aline Veras (PSDB), 21, de tradicional família política, foi eleita em Barroquinha, que tem o pior IDH do Ceará

Prefeita mais jovem é símbolo de continuidade

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A BARROQUINHA (CE)

Juventude nem sempre é sinônimo de renovação. Aline Veras que o diga. Com 21 anos, completados no último dia 16, ela tomará posse em janeiro como a prefeita mais jovem do país.
Além de fazer história pela pouca idade, Aline ganhou nas urnas com a promessa de manter a política da sua tradicional família em Barroquinha (411 km de Fortaleza). A cidade ostenta o título de ter o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Ceará.
"Estou aqui para dar continuidade ao trabalho da minha família. Com certeza, as nossas administrações estão sendo bem planejadas", disse a prefeitinha, como é chamada pelos eleitores.
Apesar do orgulho de Aline pelos familiares, que só deixaram o poder por quatro anos desde a fundação da cidade em 1988, o saldo político dos Veras é pífio.
Na fronteira com o Piauí e com a população espalhada em praias paradisíacas e na caatinga, Barroquinha tem uma das piores taxas de analfabetismo e mortalidade infantil do país.
"É uma vergonha. Todos somos muito pobres e não vejo como essa situação mudar com uma menina mandando na nossa terra", disse Antônio Rocha, 60, um dos poucos moradores que admitiu ter votado na oposição.
Criada em Fortaleza e moradora do município há três anos, Aline tem um estilo diferente das jovens de Barroquinha, quase todas amantes de forró. "Gosto muito de ouvir pop-rock e de assistir videoclipes. Na posso negar. Ainda me considero uma adolescente", disse ela, que gosta de The Calling e da rebelde sem causa Avril Lavigne, ícones teen mundiais. Adora vitrines de shoppings e fast-food -programas impossíveis em Barroquinha. Para ter idéia da tranqüilidade da cidade, a Folha aguardou 12 minutos para ver um carro passar pela principal rua da cidade na tarde de quinta-feira.
Aline (PSDB) foi eleita com 5.040 votos (53,98%). Veraldina Veras, sua avó, foi a primeira prefeita. Jaime Veras, seu tio, está no segundo mandato consecutivo, mesmo sem as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios. Até o adversário na eleição, Ademar Veras, é seu primo.
"Aceitei a missão. Agora, chegou a minha vez. Já fizemos muito pela cidade, mas sei que temos muita coisa para tocar", disse ela tucana, que está iniciando a sua 3ª faculdade (agora, ciências contábeis) por não ter achado "um caminho". Nem a vitória na eleição (salário de R$ 1.600) a fará mudar de casa. "Gosto de ficar sempre perto da minha avó", diz Aline, que avisou ao namorado que não se casará até o fim do mandato.
Morena, magra e ainda com algumas espinhas, ela entrou na política ao aceitar o convite do tio para comandar a Secretaria Municipal de Turismo há três anos. Em 2003, também foi a responsável pelo cadastramento do Fome Zero, que atende 1.918 pessoas. Nega ter tirado proveito político.
Eleita com a promessa de transformar praias em pólos turísticos, Aline mostra mau humor quando o tema é idade. "Quero derrubar esse tabu. Vou mostrar que os jovens podem fazer muita coisa, independentemente da idade."
Ela decidiu criar secretaria especial para os jovens. "Eles terão a vez e vão participar diretamente." O secretariado terá alguém mais novo do que ela? "De forma alguma. Tem de saber administrar uma secretaria", disse.


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