São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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Ter de comprovar pobreza estimula corrupção, diz economista da UFRJ

DA SUCURSAL DO RIO

Para a economista Lena Lavinas, 51, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a exigência de comprovação de carência em programas sociais acaba criando distorções e estimulando a corrupção. Uma dessas distorções no Bolsa-Família, em sua opinião, é o formulário que as famílias têm que preencher para se cadastrar. Leia abaixo alguns trechos da entrevista que ela concedeu à Folha:

 

Folha - O que há de errado com o formulário do Bolsa-Família?
Lena Lavinas -
Eu, que sou pesquisadora, levei 20 minutos para preenchê-lo. Se a minha família fosse de quatro pessoas, eu gastaria mais de uma hora para colocar as informações de cada pessoa. O formulário é muito extenso e tem um detalhamento exagerado. Você sabe dizer, por exemplo, com precisão, qual a sua renda mensal ou qual seu gasto com remédios ou transporte? Mas é isso que é exigido dos pobres e é o que vai determinar se aquela pessoa pode ou não receber o Bolsa-Família.

Folha - Universalizar um programa social não é um desperdício?
Lavinas -
Dar para todos não é um desperdício, mas dar apenas para os pobres gera um estigma. Quando o benefício é para todos, isso gera um mecanismo de coesão social.
O único serviço prestado pelo Estado que funciona para todas as classes sociais no Brasil são as campanhas de vacinação, e elas são um sucesso.
Além disso, ao definir como público-alvo as crianças de zero a 16 anos, eu já estou garantindo que as famílias mais pobres vão receber a maior parcela dos recursos. Há uma razão simples para isso: em qualquer família onde há crianças a renda média per capita cai porque precisa ser dividida por mais pessoas.

Folha - Essa proposta não vai contra a tendência mundial?
Lavinas -
Não é verdade. Na maioria dos países da União Européia, há uma opção pelas políticas universais.
Dados do Eurostat (Sistema de Estatística Europeu de Proteção Social Integrada) mostram que 65% das crianças da União Européia têm cobertura de benefícios universais.


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