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Ter de comprovar pobreza estimula corrupção, diz economista da UFRJ
DA SUCURSAL DO RIO
Para a economista Lena Lavinas, 51, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, a exigência de
comprovação de carência em
programas sociais acaba criando
distorções e estimulando a corrupção. Uma dessas distorções
no Bolsa-Família, em sua opinião, é o formulário que as famílias têm que preencher para se cadastrar. Leia abaixo alguns trechos da entrevista que ela concedeu à Folha:
Folha - O que há de errado com o
formulário do Bolsa-Família?
Lena Lavinas - Eu, que sou pesquisadora, levei 20 minutos para
preenchê-lo. Se a minha família
fosse de quatro pessoas, eu gastaria mais de uma hora para colocar as informações de cada pessoa. O formulário é muito extenso e tem um detalhamento exagerado. Você sabe dizer, por exemplo, com precisão, qual a sua renda mensal ou qual seu gasto com
remédios ou transporte? Mas é isso que é exigido dos pobres e é o
que vai determinar se aquela pessoa pode ou não receber o Bolsa-Família.
Folha - Universalizar um programa social não é um desperdício?
Lavinas - Dar para todos não é
um desperdício, mas dar apenas
para os pobres gera um estigma.
Quando o benefício é para todos,
isso gera um mecanismo de coesão social.
O único serviço prestado pelo
Estado que funciona para todas
as classes sociais no Brasil são as
campanhas de vacinação, e elas
são um sucesso.
Além disso, ao definir como
público-alvo as crianças de zero a
16 anos, eu já estou garantindo
que as famílias mais pobres vão
receber a maior parcela dos recursos. Há uma razão simples para isso: em qualquer família onde
há crianças a renda média per capita cai porque precisa ser dividida por mais pessoas.
Folha - Essa proposta não vai
contra a tendência mundial?
Lavinas - Não é verdade. Na
maioria dos países da União Européia, há uma opção pelas políticas universais.
Dados do Eurostat (Sistema de
Estatística Europeu de Proteção
Social Integrada) mostram que
65% das crianças da União Européia têm cobertura de benefícios
universais.
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