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TRANSIÇÃO
Prioridade será corrigir câmbio, afirma documento lido por Palocci em reunião com ministros
PT rompe "lua-de-mel" e vê "apagão" do Estado sob FHC
Matuiti Mayezo - Sérgio Lima/Folha Imagem
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Lula, de óculos novos, em reunião ontem em Brasília; no destaque, Marisa, também com novos óculos |
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num longo discurso que surpreendeu pela contundência e
abrangência das críticas ao atual
governo, o futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse ontem que a prioridade imediata a partir de janeiro será "corrigir a taxa de câmbio".
Segundo ele, essa correção não
será com "medidas artificiais":
"Os primeiros cinco anos do atual
governo deixaram-nos como ensinamento as consequências funestas de se manter uma taxa de
câmbio sobrevalorizada. Não podemos cometer o erro inverso".
Ao abrir a primeira reunião ministerial comandada pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, à tarde, no escritório de
transição, Palocci apontou o que
considera um dos maiores erros
do governo Fernando Henrique
Cardoso: "No que se refere ao planejamento estratégico, o Estado
brasileiro vive um prolongado
"apagão'", disse, em um discurso
baseado nos resultados do trabalho da equipe petista de transição.
Palocci criticou os indicadores
econômicos, o aumento da dívida
e principalmente a incapacidade
do governo FHC de garantir crescimento e de combater a miséria.
Já o futuro presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, afirmou sobre o câmbio, após a reunião, que "certamente todas as
distorções [na cotação do dólar]
terão de ser corrigidas no devido
tempo pelo mercado". Na primeira parte da reunião, aberta à imprensa, Lula estava ladeado por
sua mulher, Marisa, e pelo vice-presidente eleito, José Alencar.
INCLUSÃO SOCIAL
"O Brasil precisa compatibilizar a
consolidação da estabilidade monetária, em bases mais sólidas do
que as atuais, com a construção
das condições para a retomada do
desenvolvimento social e econômico, integrando aos mercados
de renda e consumo milhões de
excluídos ou semi-excluídos."
CRESCIMENTO
"Para superar a atual dissociação
entre estabilidade e crescimento,
o Brasil precisará realizar, nos
próximos anos, uma criteriosa,
responsável e cuidadosa transição
do quadro econômico e social
deixado pelo atual governo para a
recuperação de sua capacidade de
crescimento. (...) A busca de metas voltadas para taxas de crescimento anual acima de 5% do PIB
não pode ser reduzida a apenas
um objetivo de governo: deve representar, sim, um esforço de todo o país. (...) Sem essa mobilização nacional, todo esforço de governo terá fôlego curto e será prisioneiro de formulações estritamente técnicas, tão zelosas quanto limitadas."
PLANEJAMENTO
"A desintegração do planejamento nas áreas de energia, comunicações, ciência e tecnologia, integração nacional, meio ambiente e
desenvolvimento; (...) a ausência
de regras claras para a atuação das
agências reguladoras. (...) O planejamento governamental atingiu um nível de esvaziamento
brutal. (...) No que se refere a isso,
o Estado brasileiro vive um prolongado "apagão'".
SOCIAL IMPROVISADO
"A improvisação de uma série de
programas sociais nos últimos
dois anos é ilustrativa e realça a
persistência de uma visão que
ainda não incorporou a inclusão
social como tema central de uma
política de Estado".
ILUSÃO DO MERCADO
"O atual governo difundiu a ilusão de que o crescimento e a redução da exclusão social seriam resultante natural do desenvolvimento dos mercados e do uso,
sem contra-indicações, da abundante poupança externa disponível no início dos anos 90. As fragilidades que se acumularam e os
desequilíbrios econômicos acentuados nos últimos anos, tanto internos quanto externos, conformaram uma situação delicada."
INSTABILIDADE
"A instabilidade atual questiona
os próprios avanços que se obtiveram com a estabilidade da moeda, o controle relativo da inflação
e um marco institucional fortalecido pela responsabilidade fiscal."
SEM MEDIDAS EXÓTICAS
"Não fazemos tábula rasa dos últimos oito anos e não partilhamos
da visão daqueles que acham que
tudo deva ser reinventado. (...)
Em nosso governo não haverá
medidas exóticas, quebra de contratos ou condescendência com a
irresponsabilidade fiscal. Também não pretendemos provocar
bolhas de crescimento econômico
a partir de uma permissividade
perigosa com a inflação."
MAIOR DESAFIO
"Zelar pela estabilidade monetária com retomada do crescimento
e redução da nossa secular desigualdade social. (...) O quadro de
distribuição de renda está inalterado há trinta anos. Temos consciência de que os votos recebidos por V. Excia. [Lula] vieram para
corrigir a excessiva sedução pelos
mercados que marcou a atuação
do governo nos últimos anos".
MOEDA E INFLAÇÃO
"Todo o país assustou-se com a
volta de índices altos de inflação.
É uma herança pesada que aumenta enormemente nossa responsabilidade. (...) Estamos ainda
longe de debelarmos todos os riscos para nossa estabilidade".
CÂMBIO
"(...) A prioridade imediata do
nosso governo a partir de 1º de janeiro deve ser a de corrigir aquele
que é talvez o preço mais fundamental da economia, a taxa de
câmbio. (...) Essa correção de forma alguma será feita com adoção
de medidas artificiais."
EXPECTATIVAS E FMI
"O momento é de coordenar expectativas, de reduzir ansiedades
e de buscar o fluxo normal dos financiamentos e a extrema responsabilidade no gasto público.
(...) Não queremos e não podemos incorrer no erro do atual governo de fazer endividamento novo para cobrir endividamento velho. Em oito anos de governo, recorreu-se três vezes a pacotes de
ajuda e programas de emergência
do FMI. Não é bom para o país
que isso venha a se perpetuar".
DESIGUALDADE
"É perfeitamente possível para o
Brasil perseguir metas de crescimento econômico dessa grandeza
[taxas anuais de mais de 8% ao
ano, como na China e na Índia" e
mudar radicalmente -no espaço
de uma geração- a face da profunda desigualdade com que convivemos há séculos".
EDUCAÇÃO
"Não dá para aceitar a piora dos já
baixos índices de desempenho
dos alunos brasileiros em disciplinas elementares como português
e matemática".
CORRUPÇÃO
"Combater a corrupção significa
enterrar de vez a percepção de
que a lei vale para uns e não vale
para outros".
ESTADOS
- "Sabemos hoje que alguns Estados apresentam reais dificuldades
de equilíbrio orçamentário. Seria
um erro, contudo, pretender uma
renegociação das dívidas ignorando o delicado momento das finanças nacionais. (...) Isso não
significa que o governo federal
deva virar as costas para os novos
governadores".
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