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CASO BANESTADO
Relator e presidente da comissão não conseguem chegar a acordo
Racha entre PT e PSDB faz CPI terminar sem relatório
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sem votar um relatório final, a
CPI do Banestado encerrou ontem seus trabalhos depois de um
ano e meio de funcionamento. O
presidente da comissão, senador
Antero Paes de Barros (PSDB-MT), pretendia encaminhar ainda ontem ao Ministério Público
dois pareceres diferentes: o dele e
o do relator, deputado José Mentor (PT-SP).
Será enviado ainda um terceiro
relatório, do deputado Edmar
Moreira (PL-MG). O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), 3º secretário da Mesa Diretora, mandou,
porém, lacrar todos os documentos em poder da CPI, que não poderão ser enviados ao Ministério
Público.
O relator disse que, se não conseguir reverter a situação internamente, vai recorrer à Justiça para
tentar invalidar a decisão. A CPI
do Banestado foi marcada, desde
o início, por procedimentos irregulares, guerra política entre governo e oposição e acusações de
utilização das informações obtidas com a quebra de sigilos fiscal e
bancário para chantagem.
No relatório, Mentor recomendou o indiciamento de 91 pessoas,
entre elas Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central no
governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por supostamente
facilitar a evasão de divisas.
Antero fez um voto em separado -na prática, um outro relatório- propondo o indiciamento,
entre outros, do atual presidente
do BC Henrique Meirelles, do ex-presidente do Banco do Brasil
Cassio Casseb e do ex-diretor do
BC Luiz Augusto Candiota, todos
da gestão petista, por suposta evasão de divisas, sonegação fiscal,
lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro.
Advogados de pessoas citadas
nas investigações já haviam dito
que argumentariam na Justiça
práticas irregulares da CPI. Agora
terão mais um argumento, que é o
fato de não haver sequer um relatório final aprovado.
Disputa
O último nó da CPI foi uma disputa a respeito da validade da sessão de ontem e do prazo final para
a comissão votar um relatório. Na
semana passada, a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), enviou
um ofício ao presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP),
questionando a sessão do último
dia 21 e a de ontem, não incluídas
na pauta da convocação extraordinária do Congresso.
A Constituição institui os trabalhos do Congresso até o dia 15 de
dezembro. Como o Orçamento
não foi votado até então, os trabalhos foram prorrogados até o dia
23 e, depois, até o dia 30. O presidente interino do Congresso, senador Eduardo Siqueira Campos
(PSDB-TO), acatou os argumentos da líder do PT e afirmou que o
prazo final da comissão era 27 de
fevereiro -o recesso parlamentar termina no dia 15 de fevereiro.
A CPI não foi incluída na convocação, mas o projeto das PPPs
(Parcerias Público-Privadas),
uma das prioridades do governo
federal, também não foi. Mesmo
assim, o projeto foi votado e aprovado pelo Senado e pela Câmara
durante o período e encaminhada
para sanção presidencial.
O presidente da CPI abriu ontem a sessão à revelia da Mesa do
Congresso e, como não havia entendimento nem quórum, encerrou definitivamente os trabalhos
da comissão, depois de muita discussão e troca de acusações.
Antero alegou que, se aceitasse
invalidar a sessão do último dia
21, quando apresentou seu voto
em separado, e adiasse a conclusão dos trabalhos para fevereiro,
os petistas esvaziariam a comissão, negando quórum para que
ele apresentasse seu relatório.
Os petistas, por sua vez, acusaram Antero de não querer que a
CPI tivesse resultado. "Cada um
pode entregar o que quiser para o
Ministério Público, mas, para
efeito de CPI, tem que ser votado.
Ficou claro quem não quis investigar nada", disse Mentor.
"Ele [Mentor] escreveu um bando de besteira, o que ele fez com o
Gustavo Franco foi uma molecagem. Vou encaminhar tudo para
o Ministério Público porque é pífio", disse Antero.
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