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Receita identifica ação de "laranjas"
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
A 2ª Vara Criminal Federal de
Curitiba enviou relatório da Receita Federal às varas federais de
todo o país, mostrando que 3.837
pessoas físicas e jurídicas se utilizaram de "laranjas" (pessoas que
emprestam seus nomes e documentos para operações ilícitas)
para remeter US$ 1,822 bilhão para o exterior.
O levantamento da Receita foi
feito a pedido da Justiça Federal e
é a primeira vez que "donos de laranjas" são identificados. O relatório aponta os "laranjas" que fizeram as remessas e os representados por eles, ou seja, considerados os donos do dinheiro.
A Justiça Federal, em todas a
unidades da federação, irá agora
intimar os responsáveis pelas
operações. Os remetentes poderão responder pelos crimes de sonegação fiscal (ao não declarar o
valor enviado), evasão de divisas e
lavagem de dinheiro.
No total, a Receita detalhou
20.990 operações financeiras, em
todo o país, em que "laranjas"
operavam para pessoas físicas e
jurídicas. As empresas (2.013) enviaram para o exterior, no período entre 1995 e 1997, US$ 1,187 bilhão, e 1.824 pessoas físicas enviaram US$ 635 milhões. Na época
das remessas, US$ 1 valia R$ 1.
A maioria foi feita a partir de
agências bancárias de Foz do
Iguaçu (656 km a oeste de Curitiba), beneficiadas por licença especial para movimentação das contas CC5 (de não-residentes) pelo
Banco Central na gestão do então
presidente Gustavo Franco.
Essa licença foi concedida para
agências do Banestado, Bemge
(antigo banco estadual de Minas
Gerais), banco Araucária, Real e
Banco do Brasil de Foz.
Em depoimento à CPI do Banestado, Gustavo Franco disse
que a licença foi feita para liberar
a pressão sobre o câmbio por parte de sacoleiros que buscavam casas de câmbio em Foz para trocar
real por dólar.
A licença especial, que possibilitava remessas livres e movimentação sem necessidade de comunicação ao BC de valores superiores a R$ 10 mil, criou uma situação
curiosa, mostrada pelo relatório:
bancos sem a licença especial utilizavam "laranjas" em Foz do
Iguaçu para remessas ao exterior.
Essa licença especial só foi cancelada pelo BC depois que o procurador da República Celso Antônio Três conseguiu na Justiça Federal a quebra do sigilo das contas
CC5, em maio de 1999. Na época,
descobriu-se que US$ 124,1 bilhões haviam sido remetidos ao
exterior entre 1992 e 1998.
Desse total, cerca de US$ 30 bilhões foram operados pelo Banestado, que foi privatizado e comprado pelo Itaú em 2000. Outro
banco paranaense, o Araucária,
que operava com a licença especial, acabou sendo liquidado pelo
BC também em 2000.
O relatório da Receita Federal
mostra ainda que "laranjas" operavam em um esquema profissional. Atuavam para bancos, empresas e doleiros.
A Folha obteve cópia do disquete em que as operações são detalhadas pela Receita Federal. Nelas,
os mesmos "laranjas" que operavam para doleiros como Alberto
Youssef (condenado pela Justiça
Federal e cumprindo pena em
Curitiba) ou Antonio Oliveira
Claramunt, o Toninho Barcelona,
e Salvador Angelo Oliveira Claramunt, também trabalhavam com
bancos e empresas de grande porte. Os Claramunt foram presos
pela Operação Farol da Colina,
em julho deste ano.
Além de bancos, entre as empresas que mais operavam com
"laranjas" estavam as de informática, factoring, agências de viagens e alimentos.
Colaborou ADRIANA CHAVES, da Agência Folha
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